Sozinho contra um dragão de outro mundo, contra um mago poderoso e mais de uma centena de elfos assassinos, essa era a situação do meio-elfo que só queria conseguir salvar uma única pessoa da morte certa.
Fez a única coisa em que conseguiu pensar: segurou seu Foco com as duas mãos e orou. Pediu a Jade uma intervenção, força, intuição, qualquer coisa que o ajudasse a atingir seu objetivo e sair dali com vida. Qualquer coisa que o ajudasse a levar Rob para Fios de Ouro e permitisse que ele visse a ela e Tassa novamente.
Mas só sentiu um grande vazio como resposta.
É claro que aquilo poderia significar que sua fé não estava forte o bastante, ou que o medo estava nublando a sua percepção. Mas poderia também significar simplesmente que a situação era insuperável.
Quando estava prestes a desistir da conexão com sua deusa, um fio de intuição surgiu em sua mente: vire outro elfo.
"Sim!" concordou o clérigo, grato pela inspiração. Não precisava se manter com a aparência de Viserani só porque o profeta pediu; como um elfo comum, poderia se misturar aos demais sem chamar tanta atenção.
Uma nova magia de ilusão depois, Barrim corria na direção da aglomeração bem mais confiante. Escolhera a aparência do primeiro elfo que abordou o grupo na floresta, o pobre diabo que ameaçou Tassadara e teve a cabeça queimada por Reala. Teve o cuidado de alterar também a aparência da sua espada mágica, para parecer igual às tantas outras espadas que os kéleres empunhavam.
O clérigo-mago estava orgulhoso da sua habilidade com as magias de ilusão, elas vinham garantindo não só a sua sobrevivência, mas também a de Yamara e de seus amigos. Pareceu uma grande coincidência quando, justamente ao pensar isso, foi confrontado com um poder ilusório muito maior, que fez o seu parecer um exercício infantil da Escola de Magia: no alto, alguns metros sobre a praça, surgiu a imagem gigante de um anel com uma pedra lascada.
A imagem não chocou os kéleres, pelo contrário, cessaram o cântico para gritar em comemoração.
Barrim fazia um caminho maior até a praça, para não passar novamente ao lado do tenebros, quando ouviu, mesmo dali de longe, a voz do Mago Andrix.
A voz ressoava pelo local, magicamente amplificada, semelhante à mágica que Mestre Vânder usou para repreender Reala na Igreja, mas em volume bem mais alto, atingindo com perfeição todas as pessoas reunidas na praça e chegando até os limites das Vilas Kíriti.
- É interessante notar como a paciência e o trabalho levam à concretização do nosso ideal. Quando me uni a vocês, isso era tudo o que tínhamos: 1 anel, fruto de minha primeira visão.
Ninguém mais fazia barulho algum. Elfos ouviam com respeito e muita atenção. Cada um sentia verdadeiramente que o discurso era para si.
Agregados no meio da praça, os humanos admiravam o anel gigante flutuando no alto, dourado, com uma pedra púrpura bruta e sem brilho. Muitos exibiam medo de que a joia caísse sobre eles, sem entenderem que se tratava de uma ilusão.
Barrim finalmente chegou próximo à aglomeração e identificou o tal palco de que Andrix falara. Semelhantemente à tábua que servia de mesa flutuando em sua tenda, diversos pedaços das casas ao redor flutuavam metros acima do chão, alinhados perfeitamente, formando um assoalho sobre o qual estavam o mago e alguns kéleres, provavelmente os mais importantes, todos vestindo a mesma combinação de cor nas roupas. A capa azul de Andrix, contudo, o diferenciava.
- Onde você estava? – perguntou um dos elfos ao reconhecer a nova figura que Barrim impersonava. Em resposta, o clérigo colocou um dedo nos lábios e apontou para o palco. O Profeta ainda falava.
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Magia, Amores e Guerra
Fantasy"Canalizar os poderes da deusa da cura pode não ser suficiente para salvar seus amados". Essa é a lição que a recém-formada Clériga Tassadara tentará evitar a todo custo. Porém, a missão aparentemente simples que recebeu a levará para o meio da inva...