Capítulo 4.2 - Reala

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(O capítulo 4 foi dividido em 2 partes para melhor caber no "formato Wattpad")

No capítulo anterior: Depois de ter o rosto curado pela aprendiz Ana, Tassadara teve um momento de afeto e comemoração com Barrim, seu amigo já formado há bastante tempo. Estimulada por ele, trocou a roupa e voltou correndo para dentro da Igreja, para dar a notícia da sua aprovação na prova de luta ao Clérigo Jânus, seu mentor.

Os corredores estavam vazios, pelo que Tassa agradeceu. Sabia que, caso encontrasse qualquer conhecido, teria que parar para responder à tradicional pergunta "como foi na prova?", a qual só queria responder a uma pessoa específica agora.

Os lances de escada da Igreja eram longos, porque o teto era alto em todos os andares. Tassa subiu todo o primeiro lance no pique, e se lançou ao segundo com a mesma rapidez. Porém, reduziu a velocidade ao ver lá em cima, no andar a que pretendia chegar, uma luz estranha se movendo próximo à janela. No primeiro momento achou que era o reflexo do sol atravessando o vidro, mas logo reparou que ela se movia independentemente da claridade de fora. Mais que isso, viu que ela tinha um formato muito bem delineado. Parou totalmente ao identificar que se tratava de um gato. De luz. Não uma lâmpada incrivelmente elaborada em formato de gato; a luz se mexia e andava como um gato, em quatro patas e com o rabo levantado. Era um gato feito de luz.

Chocada e procurando outros sinais à sua volta que indicassem que estava sonhando, Tassadara estava a pouco mais de dez degraus daquele fenômeno que não sabia explicar. O gato, que vinha aparentemente tranquilo do andar de cima, também parou assim que a viu. Durante um segundo inteiro, os dois se olharam completamente imóveis. Então o gato arqueou as costas e rosnou, soltando vários pequenos raios de luz na forma de pelos eriçados.

Nenhum som foi ouvido, mas isso não importava, a mente de Tassadara berrou para ela sair dali. Sem conseguir tirar os olhos do gato, forçou o corpo a recuar, mas sua mente não contabilizou o fato de estar em uma escada, e deu um passo em falso para trás.

Primeiro um frio na barriga quando não sentiu mais o chão; seguido da impotência ao fechar a mão no vazio tentando segurar alguma coisa. Depois, as batidas em todo o corpo ao rolar escada abaixo. A queda foi feia. A última coisa a bater foi a cabeça, que quicou no chão, uma dor a mais, além de todas as outras, acompanhada de um alto zumbido nos ouvidos.

Ainda de olhos fechados, esforçou-se para perceber a posição em que seus membros estavam, para não correr o risco de mexer algum que tivesse quebrado. Ouviu um som no meio do zumbido, soou familiar. Os braços pareciam ok, conseguiria mexer o esquerdo assim que saísse de cima dele. De novo o som no meio do zumbido, parecia o seu nome. A bacia doía, mas uma dor suportável, deveria estar intacta. Sentiu as pernas, cada joelho estava em um ângulo dentro da margem natural de flexibilidade. Lá estava o som de novo, com certeza era o seu nome. Tão logo o zumbido cessou, abriu os olhos.

- Tassa! – ajoelhado na sua frente, gritando perto do seu ouvido, estava um jovem que qualquer um saberia que não se tratava de um aprendiz de clérigo. Era bem magro, um físico incompatível com quem precisava aprender a lutar como pré-requisito. Tinha um cabelo curto como um todo, mas com uma franja que lhe caía sobre a testa, quase até os olhos, os quais eram expressivos e tão escuros quanto os de Tassa. A pele, em oposição, era bem branca, mostrando a insuficiência de sol na sua vida. Não usava robe, mas sim calça e camisa de manga longa, ambas pretas, de uma costura de qualidade mediana e um tanto puídas pelo uso constante. Havia ainda os adornos: um bracelete de prata em formato de folhas no punho esquerdo e um colar de corrente pendendo do pescoço sobre a camisa.

- Reala? – murmurou a clériga caída, com o fôlego fraco.

- Você está bem?

Tassa sorriu tanto quanto a dor deixou. Parecia uma pergunta bem idiota dirigida a alguém que acabara de rolar escada abaixo. Crendo que era seguro, começou a se sentar.

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