23 ▪︎ The Big Hit

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- O que diabos você tá fazendo??? - Werá engasgou

- Te beijando, ué. Achei que estivesse bastante claro. - Susana respondeu, dando de ombros.

- Achei que você tivesse dito que não queria fazer nada pra paparazzi...

- E eu não fiz, até porque não tem ninguém aqui. Eu fiz porque eu quis. Queria saber como era beijar, aí eu te beijei. Para de drama, não é como se eu tivesse te pedido em casamento. Você já beijou todo mundo do set, por que tá pirando comigo?

Werá riu. Susana era estranha pra ele, não parecia fazer sentido uma menina ser tão desafiadora, petulante e difícil de entender. Nada parecia padrão com ela, talvez isso fosse até bom às vezes, mas o deixava louco, não sabia se era de desejo ou raiva.

- Quer comer alguma coisa? Ou prefere ir pra casa? - o rapaz perguntou.

- Hm... Comer, eu acho. Tem alguma lanchonete aqui dentro?

- Tem uma máquina de lanche ali. Vamos jantar biscoito hoje.

A volta pra casa foi descontraída, ninguém falou do beijo. Susana queria perguntar se tinha sido bom, muito bruto, rápido demais ou muito babado, embora tenha sido só um selinho. Não sabia direito o porquê de ter feito aquilo, só fez, parecia certo naquele momento. Por mais que tivesse muito a perguntar, se ateve a manter apenas a memória acesa enquanto conversava sobre outras coisas. Descobriu que Werá trabalha num cartório e foi assim que ele conseguiu toda a documentação que ele tem com o nome de Martín Rodriguez. Ele começou a sair do povoado há anos, mas apenas pra estudar. Sempre amou música, toca violão e alguns instrumentos de percussão. Os olhos claros, rezam as lendas, vêm de um ancestral dele que era uma onça. Susana ouvia tudo bem atentamente, mergulhada em coisas completamente novas pra ela. Muita informação pra um só dia.

Ao chegarem no prédio da empresa, Werá parou o carro no portão principal.

- Susana, eu... A gente vai se beijar de novo?

- Então o galã gostou? - a jovem riu - Não, Werá. Era só uma curiosidade, já passou. Mas obrigada por ser cobaia do meu experimento.

- Susangada, eu te detesto. - O rapaz respondeu sorrindo

- Eu sei - Susana desceu do carro com um sorriso irônico nos lábios.

Mesmo não tendo sido grande coisa, o beijo ainda ocupava sua mente. Já tinha 19 anos, trabalhava e era basicamente independente. Fez o que fez por curiosidade, o momento era oportuno, não tinha nenhum fotógrafo ali. Nenhuma alma viva parecia interessada neles naquele momento. E não era como se fossem morar juntos, adotar um cachorro, encher um apartamento de plantas pra fazer chá para beberem enquanto envelhecem juntos vendo seus netos crescerem. Não se arrependia do que tinha feito, mas ainda se sentia eufórica e confusa. Porém, o principal agora era contar aquilo pra Cris, e isso seria realmente muito trabalhoso.

**********

Do lado de fora do prédio, Werá encarava a porta fechada. Susana estava certa, foi só um selinho. Então por que ele sorria só de lembrar? Que idiotice. Voltou pra casa ouvindo sua fita preferida enquanto repensava a cena toda, as mãos quentes dela apoiadas em seus ombros, os lábios macios e com gosto de brilho de morango. "Que droga, Werá! Foi a porcaria de um selinho, e ainda foi da menina que você incendiou a casa." Aquele assunto martelou tanto sua mente que soube ainda naquele momento que teria que contar disso para Apyká na próxima carta.

**********

Susana entrou silenciosamente no escritório que agora servia de quarto para as herdeiras Carmo. Pé ante pé, contornou a porta e já estava pronta para fechá-la quando foi surpreendida por um grito atrás de si.

- Onde você foi parar?? - Cristiane esperava em pé no meio do cômodo - Parece até que a mais velha agora sou eu! Você some, não avisa, me deixa toda preocupada aqui. Achei que tinha acontecido alguma coisa...

- E aconteceu. - Susana respondeu da forma mais natural possível - Eu e Werá saímos do ensaio, fomos pra um fliperama, eu o beijei na boca, compramos uns biscoitos e salgadinhos numa máquina de lanches e aí ele me trouxe de volta. Foi um dia legal.

- O que custava ligar de um orelhão e avis... PERA AÍ, O QUÊ????? BEIJOU O WERÁ???

- Gente, por que vocês estão todos surtando com isso? Será possível que, em pleno 1995, uma mulher beijar um homem ainda é um tabu? Foi um selinho, só isso. - Susana jogou-se pesadamente no sofá

- Mas foi o primeiro beijo da minha irmã mais velha!! Quero detalhes! Ele beija bem? Não que eu me interesse, mas toda fofoquinha é interessante. Alguém viu? Tinha alguém por perto?

- Ah, nada demais, ninguém viu, e foi só um selinho, não tem como dizer se foi bom ou não. Mas ele perguntou se faríamos de novo, então...

- ELE GOSTOU!! - a expressão de Cristiane repentinamente tornou-se séria - Mas precisamos manter o foco. É um relacionamento falso, estamos tratando de negócios aqui. Você não pode se apaixonar por ele, irmãzona.

- ECA! Claro que não! Eu jamais me apaixonaria por alguém tão insensível, manipulador, mentiroso e safado quanto ele. Não é qualquer carinha bonita que me ganha, tá?

- Ah, é? - Cristiane sorriu ironicamente - Como é mesmo o nome do galã insensível, manipulador, mentiroso e safado que faz sua alegria nas noites de filme em casa? Ah sim, Danny Zuko, de Grease, a carinha bonita que te ganhou.

Susana arremessou uma almofada no rosto da irmã que gargalhava ruidosamente da própria piada.

- Eu arrancaria seus cabelos se você já não tivesse feito isso - Susana tentou se manter séria, mas era impressionante a capacidade que a caçula tinha de deixar qualquer diálogo divertido.

- E você acha que eu não sei? Por que acha que eu corto tão curto? É proteção contra você, sua doida! - a gargalhada de Cristiane foi interrompida por um enorme bocejo - Agora vamos dormir porque amanhã eu terei outro dia de cão e você deve posar de bonita pro mundo te ver.

Susana trocou rapidamente suas roupas e deitou-se ao lado da irmã no sofá cama forrado com um lençol bege

- Já te disse o quanto eu te amo hoje? - os olhos claros da primogênita estavam marejados - Obrigada por nunca desistir de mim. Nada disso, essa reviravolta, o programa, enfim, nada estaria acontecendo sem você. Sou sortuda por ser tua irmã, Cris. Saiba que você pode confiar em mim pra tudo, eu sempre estarei aqui pra você e por você.

- Promete? - Cris ofereceu o mindinho

- Eu prometo. - Susana entrelaçou seu mindinho no de Cristiane e ambas adormeceram ainda ligadas.

It's (NOT) A Love SongOnde histórias criam vida. Descubra agora