15 ▪︎ Jogada de Risco

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- SEU MALDITO MISERÁVEL DO INFERNO, CORNO LAZARENTO INSUPORTÁVEL!! SEU... SEU... SEU COCÔ DE POMBO MORIBUNDO!!

Werá não pôde evitar de dar risada depois da enxurrada de xingamentos infantis de Susana. Era quase adorável, até ele notar as lágrimas deslizando pelos olhos esverdeados da jovem. A piada perdera a graça naquele instante.

- O que houve, Su?? O que aconteceu?

- VOCÊ ACONTECEU!! VOCÊ MENTIU PRA MIM! O QUE VOCÊ FALOU PRA ELES???

- Eles quem?

- OS CARAS COM AS CÂMERAS! - Susana vociferava enquanto pequenas gotas cristalinas corriam por suas bochechas - O QUE VOCÊ DISSE PRA ELES?

- Eu juro que não disse nada!! Foi só o que você viu e ouviu. Me desculpa, Su. Eu não sei o que tá pegando.

- ISSO ESTÁ PEGANDO - Susana jogou o jornal em direção ao rapaz - O que eu faço agora? Era tudo que eu não queria. Meu rosto estampado ao lado do teu na primeira página de um jornal. "O High Note já começou nos levando às alturas". Eu te falei que não queria, eu disse! Era isso que eu queria evitar.

- Te causou problemas? Eu sinto muito, Susana, de verdade. Eu juro que não fiz de propósito. - os olhos de Werá tinham realmente uma expressão de arrependimento genuíno - Se você quiser, eu vou conversar com quem quer que seja e tento ajeitar tudo.

- Ele não quer. Ele tá magoado. Honestamente, o que diríamos? Olha essas fotos! Parecemos um casal super apaixonado. Eu não sei nem o que pensar.

- Era um cara? Eu realmente pensei que seria uma menin... - a voz do rapaz desapareceu assim que encarou o ódio na expressão de Susana - O que estou tentando dizer é que eu fiz uma grande burrada, mas quero consertar. Sabe, já que ele não quer te ver nem pintada de ouro, que tal irmos comer uma pizza?

- Você tá de sacanagem com a droga da minha cara? - a carranca de Susana quase provocava risadas, mas Werá sabia que, se sorrisse, cabeças iriam rolar, principalmente a dele.

- Se bem que é melhor manter você longe de talheres, tipo faca e tal. - o jovem fazia um esforço real para suavizar o clima - Eu sei que você não quer aparecer em público comigo, então podemos ir pro meu apartamento pedir um lanche e conversar, ou pra tua casa, talvez. Só não quero te ver zangada desse jeito.

- Cara, eu não...

- Ora, vamos lá, "Susangada". Não me obrigue a usar esse apelido mais vezes.

- Não.

- SUSANGADA, SUSANGADA, SUSANGADA...

- Eu vou te matar

- SUSANGADA, SUSANGADA, SUSANGADA...

- Não

- SU...

- Calado.

- SAN...

- Fica quieto

- GADAAAA!!

- TÁ BOM, DIABO! - Susana suspirou de frustração - Vamos lá pra casa depois do ensaio, mas, se minha irmã se jogar em cima de você, a culpa será exclusivamente tua.

- Lanchinho gostoso, mais a chance de te perturbar e uma gatinha no meu colo? Isso parece um sonho!

Susana deferiu um tapa na nuca do rapaz enquanto ambos seguiram para o palco.


**********

Algumas horas depois, dentro do "Indiomóvel", apelido dado por Susana ao Monza vinho do Werá, os dois seguiam conversando amenidades sobre o ensaio ou qualquer outro assunto. Tiveram debates interessantes como, por exemplo, "se pode ou não ter abacaxi na pizza salgada", seguido por "indígena pode ou não comer pizza". As conclusões foram tão absurdas quanto os temas.

- Que fique bem claro, eu estou te dando esse voto de confiança simplesmente por não saber o que fazer. Nunca lidei bem com público. Você e minha irmã são melhores que eu nessa parte, vocês conversam e me livram dessa cagada homérica que você arrumou. - todo o bom humor de Susana tinha desaparecido naquele momento - Eu acho que nunca quis mídia, só o dinheiro.

- Em primeiro lugar: eu não arrumei nada, você desmaiou e eu socorri. Coloquei tua cabeça no colo pra te dar apoio, mas não era como se eu estivesse enfiando a língua na tua boca. Era totalmente reversível. - Werá mantinha a calma como se conversasse com uma criança - E, em segundo: boneca, você vem pro concurso de talentos mais famoso do mundo e não quer mídia? Desculpa, mas isso não tem o menor sentido. Se queria dinheiro e discrição, acompanhantes de luxo ganham super bem e não se expõem tanto.

O tapa de Susana quase fez Werá virar o volante, mas ele já o esperava. Com uma grande gargalhada, o rapaz seguiu o caminho já conhecido até a residência das jovens Carmo.

- Uau, você ainda é mais gato pessoalmente. - Cristiane parecia realmente perplexa - Se vocês tivessem me avisado que teria um deus mitológico esculpido pelas mãos de Afrodite parado bem aqui na minha porta, eu teria me arrumado melhor!

- Não elogia muito senão ele fica metido. Vem, entra logo. - Susana puxou rispidamente o braço de Werá e entrou em casa.

Após jogar conversa fora e comerem a pizza paga pelo rapaz, o grupo finalmente se acomodou na sala para o assunto sério. Susana apresentou um resumo de toda a história para Cristiane, que ouvia silenciosamente. Vez ou outra, a narração era interrompida por Werá, que fazia questão de reafirmar sua inocência. Após meia hora nesse semi-monólogo, Cristiane ponderou:

- Bem, vamos aos fatos: Werá, se você disse pra Susana que estava salvando a carteira dela, nós devemos concordar que isso não é nada inocente, você assumiu que estava manipulando a mídia. E eu estou ok com isso, já tinha dito pra Susana que eu gostava da ideia. Mas agora, Susana Carmo, acho que você tem probleminhas. Você diz que não fez essa ceninha de propósito, mas não se defendeu das acusações, muito pelo contrário, você deu provas contra você mesma. Mesmo que ele tivesse tatuado seu rosto na testa, se você não tivesse dado moral, a história não pegaria. Se você não quer, se posicione publicamente sobre isso e afaste os burburinhos. E, pros dois, eu não sou famosa nem nada, mas pertenço ao público consumidor então eu sei o que estou dizendo, vocês precisam lembrar que VOCÊS ESTÃO EM EVIDÊNCIA!! Tudo que vocês fazem será visto e terá efeitos. SEMPRE. Não podem esquecer disso, tá? Agora eu preciso dormir. Boa noite aos senhores, membros deste conselho.

Depois que Werá se despediu, Susana também foi se deitar. Ao entrar no quarto escuro, se assustou com a voz de Cristiane ressoando no escuro

- Qual é a tua?

- Credo, Cris! Achei que estivesse dormindo. Do que você está falando?

- Você diz que não quer ter sua imagem associada à dele, mas anda sempre com ele a tiracolo.

- Nada a ver...

- Susana, se você não quer nada, por que o trouxe pra tua casa? Admite logo que você precisa dele ou dá um ponto final nessa história! Para de agir como se não tivesse o controle da tua vida, porque você tem. Ele não pode decidir se vocês serão um casal, porque você fala por você. Assuma as rédeas, Susana! Eu estou só o pó da rabiola, trabalhando e estudando igual uma desgraçada, dando o maior duro pra você conseguir ganhar essa merda e você de "nhenhenhe, ain que ele me obrigou". PARA COM ISSO, SUSANA, PESTE, TOMA VERGONHA! Se é pra ganhar, então joga de verdade!

As palavras de Cristiane atingiram fundo no peito de Susana e ecoaram dentro de sua mente por horas, até que ela pegasse no sono.

Joga de verdade...

It's (NOT) A Love SongOnde histórias criam vida. Descubra agora