Comentário da autora: Oi, galera! Tudo bem? Eu não sei se alguém ainda lê isso, mas, se sim, me perdoem por ter largado a história. A vida adulta cobra preços estranhos e, confesso, perdi a motivação de escrever. Mas estou aqui. Voltei. Quero terminar esse romancezinho, mesmo que não faça mais tanto sentido pra mim agora. Farei isso por mim; a Ingrid Montaia de 16 anos que idealizou esse caos narrado, mas que ainda tem medo de ser rejeitada; e por vocês, os remanescentes. Obrigada por tudo. Beijos!
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A cabeça de Susana borbulhava. Jaqueline! Jaqueline... Jaqueline? O ódio que sentia era surreal. Por mais que quisesse confrontar aquele maldito índio traíra, agora deveria priorizar a apresentação. Buscou novamente seu esconderijo nas coxias, o mesmo do primeiro dia de apresentações, e tentou colocar as ideias em ordem.
Respirou fundo. Conhecendo Werá como conhecia, aquilo certamente era verdade, mas a informação era parcial e nada detalhada. Sabendo que Vanessa era perversa, se houvesse algo escabroso para falar, ela diria, justamente por saber que toda informação adicional traria mais instabilidade. Mais uma vez, respirou fundo. Por mais que pudesse dar o benefício da duvida a Werá, ele realmente descumprira o acordo ao arriscar a exposição do caso. Algo deveria ser feito, mas certamente não agora. Respirou fundo uma última vez, levantou-se e voltou ao camarim na certeza de que este seria o último show de Vanessa Ferraz.
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A música alta, a plateia, as luzes e toda a equipe cantando no palco impediam que Susana pensasse com clareza. Por mais que tivesse tentado, nenhum plano de vingança bom o suficiente surgiu em sua cabeça, então decidiu apenas dar tudo de si, assim ninguém poderia dizer que ela estava ali por causa do namorado. A música ressoou pelas caixas de som do auditório. Chegou a hora: seu solo. Era a oportunidade de fazer seu nome, mostrar para o que veio. Os primeiros acordes sinalizaram o momento de sua entrada, mas, antes que pudesse reagir, Vanessa cantou as primeiras palavras. Surpreendendo até a própria Vanessa, Susana não parou de cantar, nem mesmo fez uma careta. Susana apenas sorriu. Sabia que a megera era corajosa, porém provou ser uma burra. O solo planejado e ensaiado para Susana começou a intensificar-se, as escalas subiam, as vozes precisavam alcançar os tons adequados. Susana aproximou-se do centro do palco. Estupidamente, Vanessa fez o mesmo. A expressão de deboche no rosto da loira foi sendo substituída por receio, mas Susana permanecia intocável. Um sorriso cínico surgiu nos lábios de Susana e um olhar expressivo foi direcionado a Werá. A mensagem foi clara e rapidamente compreendida. Desobedecendo as regras da competição, o rapaz seguiu para a cabine de controle da sonoplastia, enquanto o solo que virara dueto causava euforia na plateia. Gritos, agitação, palmas e caos entre os espectadores. De repente, um breve silêncio. A hora da verdade. O agudo.
Susana começou, sendo seguida pela voz já instável de Vanessa. Sobe, sobe, sobe. Agora sem pausa para respirar. Sobe mais um pouco. E, fim, Vanessa desafina, se perde e tosse. Antes que alguém visse, Werá prontamente desligara o microfone da moça. Assim, o plano brilhante que Susana precisava simplesmente veio até ela. Enquanto Vanessa tentava recuperar o fôlego saindo de fininho pelo canto do palco, Susana brilhava absoluta com um holofote centralizado sobre ela. Procurou a fonte da luz e viu Werá direcionando os controles. Sorriu. Ele realmente era um grande babaca, mas ela meio que gostava desse grande babaca.
Após o fim das apresentações, as equipes foram chamadas no palco. Por causa da crise de tosse de Vanessa, sua equipe perdeu a rodada do dia e, por isso, precisaria mandar alguém pra casa. Obviamente, a loirinha deixou o time e o programa, mas, antes que tivesse a chance de iniciar um escândalo, Susana correu para Werá e, com ímpeto, o beijou na boca. Suas mãos percorreram o dorso do rapaz em um movimento íntimo e carinhoso. Ao interromper o contato entre seus lábios, Susana soltou um "eu te amo" e voltou para o seu lugar. Com isso, mesmo os participantes mais céticos passaram a repensar a honestidade da relação do casal. Inclusive o próprio Werá.
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Já na volta pra casa, Susana passou o caminho todo em total silêncio, apenas ouvindo seu companheiro contar animadamente o seu ponto de vista sobre o solo final. A narrativa, obviamente, agora contava com detalhes heroicos sobre a sua participação, mas Susana não estava no clima para contestar.
Ao chegarem na empresa, Susana não desceu do Monza.
— Quer entrar?
A pergunta pegou Werá de surpresa.
— M... Mas tua irmã não está aí?
— Sim... E?
— Nossa, Susangada, não sabia que você era dessas — Werá ostentava um sorrisinho
Dentro do prédio, Susana apenas sentou no terceiro degrau da escada:
— Quem é Jaqueline?
— Ah... Eu não sei.
— Você já entendeu o embate de hoje ou eu vou ter que explicar pra você?
Na falta de uma resposta, Susana continuou:
— Vanessa sabia sobre o plano. Sabia porque você convidou uma menina chamada Jaqueline para o seu apartamento. Jaqueline é amiga da Vanessa. Eu vou te dar a chance de me contar exatamente o que aconteceu lá, só porque o plano tá dando certo e eu não quero perder isso.
— Nada aconteceu, eu juro!! Ou nada do que eu gostaria, com quem eu gostaria. Eu não gostava dela, eu só queria...
— O QUE ACONTECEU??
— Susana, eu chamei a Jaqueline porque queria me distrair, mas nada aconteceu porque, quando íamos partir pra ação, eu chamei outro nome em vez do dela. Foi só isso.
Werá esperava um tapa, mas tudo que recebeu foi uma sonora gargalhada.
— Cara, você é péssimo! Que coisa mais ridícula. Você pega tantas que nem consegue se concentrar em quem está contigo na hora? Que nojo! Ainda bem que é fingimento, eu jamais conseguiria ficar com alguém como você.
— Hey, não exagera, tá? Senão machuca o coração. Mas, ok, ainda bem que somos só bons colegas brincando... — e suspirou.
— Mas, voltando à parte séria, você mentiu, arriscou o plano e quase fez com que nosso nome fosse pra lama. Graças a mim, Vanessa rodou e, agora, tudo que ela falar contra nós vai parecer recalque de perdedora.
— Você planejou isso?
— Mais ou menos. O ponto aqui é: não faça mais isso. Nunca mais minta pra mim. Nunca mais. Você é o carismático, mas definitivamente não é o inteligente. Se você colocar nosso plano em risco novamente, eu jogo tudo contra você e saio como a mocinha. Então, preste bem atenção, não minta pra mim NUNCA MAIS.
— Eu prometo, Sussu!
— Eu estou te dando essa chance porque, mais de uma vez, você arriscou sua participação no programa por minha causa. Eu gosto de você. Tem mais alguma coisa que você queira me me dizer?
"Talvez seja uma boa hora pra contar sobre a casa..."
— N...N...não, nada.
— Então ótimo. Pode ir.
Virando-se de costas, a moça subiu apressadamente mais uns degraus
— Susana!
— Diga, Papa-Capim.
— Eu também gosto de você...
— Và à merda, Werá.
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It's (NOT) A Love Song
RomanceAnos depois de uma derrota humilhante em nível internacional, Susana recebe a chance de se redimir. Perder não é uma opção e qualquer falha é inaceitável. De volta ao programa de TV dos seus pesadelos, ela conhece Werá, um jovem indígena que só quer...