Capítulo 3

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O tempo passou. Eu cresci. Fui bem instruído, apesar das situações em casa. Recebi boa educação. Quando era deixado sozinho em casa, usava um computador velho de casa, obsoleto, que minha mãe pretendia jogar no lixo. Não sei porque pedi que ela não o fizesse.

Talvez tenha sentido pena, porque o computador funcionava ainda. Ridículo, ela abanou a cabeça negativamente. Deixou que eu ficasse, contanto que usasse.

Todo dia, desde então, eu tentava encontrar algo que eu pudesse utilizar o pobre computador para fazer. Os jogos mais avançados não funcionavam, então eu precisava jogar jogos mais velhinhos ou o que o computador já possuía.

Tinha muito tempo livre. Minha mãe parou de comentar sobre as coisas que eu fazia, parecendo satisfeita por ter um pouco de paz de minhas perguntas, conversas, ou qualquer coisa que eu tentava falar só pra ver se ela me respondia. Também senti um alívio em não ter que dividir o tempo no computador mais avançado que ela usava para trabalho com as besteiras que eu fazia.

Não senti o tempo passar. Havia tantas funções, e eu me vi explorando cada uma delas, por mais chatas que fossem. Até mesmo abri as configurações só pra ver o que poderia modificar.

Usei tanto o pobre computador velhinho que, um dia, enquanto abria várias abas de pesquisa, explorando os browsers e os conteúdos que eu podia acessar e baixar, a tela apagou completamente. Escureceu. Fiquei parado ali, pelo que pareceu uns três minutos, sem saber o que fazer.

No fundo, esperei que voltasse. Não voltou. Senti meu coração acelerar e as lágrimas subirem aos olhos enquanto eu olhava a tela preta do computador.

Não podia dizer à minha mãe. Não podia. Sabia o que iria fazer. Ela iria jogar fora o computador velho, e a culpa seria minha. A culpa seria minha que eu usei o computador demais e ele não resistiu. Porque eu quebro tudo que eu toco.

Lembro de ter colocado as mãos ao redor da tela em forma de caixote, minhas lágrimas escorrendo de meus olhos. Lembro de ter dito coisas como "Desculpa", "Não vou fazer mais isso", "Por favor volte". Ridículo. Como se uma máquina pudesse responder a emoções humanas.

Engolia os soluços quando escutava alguma movimentação à distância. Lembro de pedir que não entrassem no quarto e me encontrassem lá, chorando na frente de um computador quebrado.

Contra meus maiores pedidos, alguém entrou. Não era ela. Era um dos meus irmãos. Daniel. O mais velho.
"Ariel? Por que tá chorando? Se machucou?"

Mexi a cabeça negativamente, mas desviei o olhar dele. Não queria que me vissem chorando. Iriam dizer a ela, e ela viria atrás de mim. Descobrir o que fiz de errado dessa vez.

"Tá tudo bem?"

Daniel se aproximou de mim, tocando em meu ombro. Eu me tremi. Queria bater em sua mão, afastá-lo. Mas não o fiz. Daniel percebeu o computador com a tela preta, depois olhou para mim.

"Aconteceu alguma coisa com o computador?"

"Não foi minha culpa! Eu não fiz nada! O computador apagou, ficou tudo preto, puf! Do nada, se foi! E eu não sei o que fazer! Por favor, não conta pra mamãe!" As palavras saíram de mim mais rápido do que eu pude contê-las. Falei sem permitir que ele pudesse ter tempo algum de pensar, porque não queria que ela soubesse. Não queria que pensassem que fosse culpa minha.

"Opa, calma aí, Ariel! Tá bom, Tá bom. Eu não conto. Prometo, sim. Mas o que você vai fazer com ele agora? Você não pode esconder um caixotão desse e esperar que ela não descubra e jogue fora mais cedo ou mais tarde."

Eu fiquei pensando por um tempo, tentando não deixar que o pânico me tomasse enquanto as lágrimas recentes ainda secavam em meu rosto.

"A gente não pode consertar?"

"Consertar essa coisa velha, Ariel? Eu nem sei por onde liga... "

Daniel observa o caixote de metal por mais alguns instantes.

"Não conhece ninguém que sabe, Daniel? Você conhece todo mundo da rua!"

"A gente poderia levar pra uma loja de eletrônica, mas provavelmente perguntariam pela nossa mãe, e aí ela descobriria."

"Nãooooo!"

"Calma, eu conheço outra pessoa, que pode nos ajudar. Vem, me ajuda a colocar esse negócio pesado no carrinho de mão do Fernandinho."

Ariel.EXEOnde histórias criam vida. Descubra agora