Capitulo 7

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"Tu é doido?!" Breno comentou.

"Não sei como criei tanta coragem. Eu só não queria ouvir ela reclamar mais. Não sei se funcionou. Ainda não voltei pra casa desde então." Ri de nervoso.

"Então era por isso que tu tá dormindo na garagem há três dias? Rapaz, não faz isso. Ela deve está uma estátua até hoje."

Breno coloca a mão sobre a testa.

"Por ISSO, que Daniel veio perguntando por tu. Ele parecia preocupado. Disse também que ela nunca mais reclamou não. Pelo contrário, o computador dela nunca esteve melhor."

"Daniel disse isso? Ela tá falando bem?" Duvidei. Ela nunca falava bem de mim.

"Ele não mencionou nada disso. Mas eu acho que deu pra perceber."

Refleti um pouco sobre o que ele disse. Ainda tinha medo de retornar para casa, ter que encará-la depois de eu ter a audácia de formatar o computador na frente dela sem que ela permitisse. Não fazia ideia do que faria.

"Cara, só volta pra casa. Daniel me disse que seu pai tá preocupado por tu."

Meu pai. Eu havia esquecido. Ele vira o que aconteceu também. Acenei positivamente com a cabeça, lentamente. Sim, eu precisava explicar para ele porque fizera aquilo. Como havia aprendido. Sim, eu queria dizer a ele.

"Acho que eu posso tentar ver como a situação está em casa..."

"Só vai. Tenho certeza que vão estar orgulhosos de ver o talento que você tem."

Fechei os olhos. Imaginei como seria se minha mãe realmente percebesse que eu era bom em alguma coisa. Que eu podia ajudá-la em casa, ajudá-la com o trabalho. Enchi-me de esperanças. Enchi-me de coragem.

Terminei os serviços que tínhamos que fazer na garagem e meus pequenos trabalhos de codificação que me pediram. Arrumei minha mochila da escola, e coloquei atrás das costas. Dei tchau a Breno e sua família depois do jantar que compartilhei com eles, e segui para casa.

Quando virei a minha rua, meus passos estavam confiantes. Sentia que eles iriam compreender, que eles iriam ver que eu era habilidoso, talentoso, dotado com os códigos como Breno dizia. Eles iriam me acolher e dizer que não havia necessidade de desaparecer daquele jeito que fiz. Que eu havia apenas preocupado todo mundo.

Escutar minha mãe dizer que fiz um ótimo trabalho. Ouvir meu pai me encher de beijos como fazia quando estava preocupado comigo.

Vi a fachada de casa. Queria em breve chegar para saber o que tinham achado do que eu tinha feito. Uma tevê velha e quebrada me passou pelos olhos.

Apertei o passo. Havia algo na Tevê que apressou os batimentos do meu coração. Ela estava jogada no topo da pilha de lixo de casa. Parecia similar demais, mas não podia ser.

Não, não, não.

Não pode ser. Eles não seriam capazes. Não a tanto.

Ninguém usava aquela parte do guarda-roupa.

Quando estava perto o suficiente, senti algo dentro de mim gritar.

Era o Grande Sábio 2000. Sua tela de caixote tinha sido partida em pedaços, e ele estava no lixo de casa, junto com o teclado e o mouse.

Ariel.EXEOnde histórias criam vida. Descubra agora