Capítulo III - Os Primeiros Meses

6 1 0
                                    

No dia seguinte, ou na semana seguinte, retornei ao Colosseo novamente. Precisava vê-lo. Não conseguia me concentrar nos meus trabalhos, especialmente depois de suas palavras. Minha cabeça cantava de desejo, assim como meu corpo parecia repetir seu nome. Me acompanhava em cada um de meus passos.

Theo, Theo, Theo.

Não pensem que eu não sabia que eram mentiras o que ele me dissera. Sabia, no fundo de minha mente, que eram apenas palavras vazias, cheias de poesia e paixões fugazes. Eram palavras que eu havia me acostumado a associar com desejo, paixão e amor.

Apesar de vazias, eram aquelas ilusões que eu procurava, aquela sensação fugaz de que eu estava apaixonado por alguém, mesmo que fosse apenas durar poucas semanas. Jogava-me inteiro na sensação no calor inebriante da paixão, e aproveitava até a chegada do inverno, onde tudo era frio e congelante, onde eu precisava procurar outra chama para me esquentar.

Abri a porta de entrada do Colosseo. Meus olhos logo bateram na visão do Theo no balcão. Era tarde da noite e poucas pessoas restavam no estabelecimento. Duas da manhã, acredito. 

Ah, Theo Moretti estava lindo, simplesmente belo com aquele paletó preto. Aproximei do balcão e sentei-me. Esperei que ele me percebesse lá primeiro.

"O que o traz aqui, pequeno girassol? O que deseja?"

"Eu vim reportar as notícias que andei coletando de "concorrentes" do mercado que você poderá estar interessado em saber." 

Retiro uma pasta com alguns papéis cheios de dados que havia coletado de outros nomes da máfia nos arredores. Quando percebi que não conseguiria fazer meus trabalhos até que fosse atrás do Theo novamente, comecei a pesquisar informações além das que foram pedidas no trabalho, apenas para que eu pudesse me aproximar dele o suficiente.

"A não ser que esteja muito ocupado agora..." Falo enquanto olho ao redor do estabelecimento com as pernas cruzadas. Apenas para atiçá-lo o suficiente para que eu pudesse chamar sua atenção. Consegui.

"Nunca estou ocupado o bastante para falar sobre negócios, posso ?" 

Seus olhos gesticulam para a pasta que eu coloquei sobre o balcão logo em seguida. Sabia como chamar sua atenção. Olhei para os poucos clientes que ainda estavam no bar.

"Estaria tudo bem se fosse aqui mesmo? Vejo que não tem tantos clientes hoje."

"Já estão todos indo embora então não vejo problema, posso servir alguma coisa pra você antes de começar ?"

Deixo que ele cheque a pasta. Theo passa a mão na pasta e folheou algumas páginas, lendo as informações que deixei anotado sobre as máfias ao redor de seu terreno e suas informações de troca de cargas e drogas na região.

"Hm... Estou aberto(a) a sugestões hoje."

Theo se vira para pegar uma garrafa de vinho. Pega uma taça e abre a garrafa. Vêm em minha direção e coloca a taça na minha frente enquanto derrama o líquido vermelho sangue.

"A vida é como o vinho: se a quisermos apreciar bem, não devemos bebê-la até a última gota. O pobre prefere um copo de vinho a um pão, porque o estômago da miséria necessita mais de ilusões que de alimento."

Quão irônico era.

"Espero que aproveite."

Senta-se em uma cadeira e começa a ler os papéis com cuidado. Seus olhos correm pelas páginas enquanto analisa os dados que coletei. Sorvo um pouco de vinho em minha boca enquanto o observo lendo os papéis.

Quando chega a partes específicas do documento, percebo alguns dos detalhes que ainda faltavam ou que foram descobertos durante a pesquisa. Em pouco tempo, estou comentando meu próprio trabalho e as pesquisas que fiz sobre o assunto.

Utilizei esta chance para me aproximar aos poucos de sua figura, enquanto ambos nos imergimos nos dados interessantes e sempre contrastantes das conexões da máfia italiana. Ficamos focados demais no que havia explicado e o resto da aproximação ocorreu naturalmente, sem que eu precisasse me esforçar muito.

Quando vi, Theo estava do meu lado. Seu rosto tão próximo do meu, não pude resistir quando terminei de finalizar minhas explicações com um beijo quente.

--------

Achei que um mês e meio seria o limite. Preparei-me financeiramente para tanto, apesar de que o dinheiro que me pagava fosse o suficiente para comprar um bom apartamento na região. Refleti sobre o tema, mas, no fundo, tinha certeza de que não duraria.

Continuei a visitá-lo. Por vezes, era o Theo que me enviava uma mensagem, um sinal de que precisava de mim. Maior parte das vezes, era eu que ia atrás. Que procurava desesperadamente algum carinho, algum calor humano, porque meu quitinete simplesmente parecia vazio demais, frio demais, silencioso demais para que eu conseguisse aguentar ficar lá por muito mais tempo.

Claro que, o trabalho que servia para ele como Hacker não diminuiu. Pelo contrário, acredito que apenas aumentaram quando eu me envolvia cada vez mais com sua organização, com seus funcionários e participantes. Das pessoas que ele considerava quase como uma família.

Era bom estar lá. As pessoas eram calorosas, a bebida maravilhosa e o Theo certamente uma delícia.

Quando vi, dois meses haviam passado sem perceber. Não pensei sequer uma vez em algum outro país que pudesse viajar ou pesquisei sobre como estavam as passagens do aeroporto. Além do mais, não estava em risco de ser pego pelas ações que fazia, protegido pela própria máfia que o Theo comandava, assim como não me pagava nada mal, permitindo que eu pudesse gastar com minhas luxúrias, hobbies e o necessário.

Ficamos mais familiares um com o outro. Aos poucos, fui percebendo que ele havia parado de utilizar o tapa olho quando havia apenas nós dois do quarto. Talvez porque havia se cansado de retirá-lo durante o ato. Não sabia dizer o por quê o utilizava para início de conversa.

Além disso, satisfazia-me. Não podia negar que havia uma certa conexão que não podia apontar de onde viera. Conseguimos satisfazer um ao outro, sem necessidade de conversas sérias ou discussões de casal totalmente desnecessárias. Gostava disso.

Afinal de contas, não havia necessidade disso.

Conversávamos. Por horas a fio durante as noites. Sobre os mais diversos assuntos. Às vezes, gostava de escutar histórias que o Theo me contava na calada da noite sobre situações que ele passava. Contei-lhe também sobre pequenas aventuras que havia vivido durante os anos de minhas viagens depois da saída da faculdade.

Chegou a ler alguns livros pra mim também, assim como fiz o mesmo por ele. Fato era que ambos líamos bastante, e por isso começamos a discutir sobre os livros que líamos para descobrir que tínhamos gostos diferentes. Não que fosse problema, pois na mesma hora sugeri que trocássemos recomendações de livros. Sugerimos livros um para o outro e sempre utilizamos as histórias como tema de nossas conversas depois de nossas noites apaixonantes e as bebidas tivessem acabado.

Por vezes, eu chegava com alguma roupa que havia reaproveitado ou que simplesmente havia encontrado uma estampa nova em uma das lojas de roupas. Colocava-me a falar em frente ao Theo, como fizera com poucas pessoas em minha vida. Falava da qualidade do tecido que eu havia achado, tipo, cores, preço… Perguntava-me como tinha paciência para me escutar.

Por vezes, pegava-me no ato e tentava parar. O Theo sempre dizia que queria escutar mais, então eu acabava continuando. Pedia que ele me contasse algo em troca.

O Theo parecia um mundo por si só. Minhas pesquisas já haviam me dito tanto, e havia ainda mais para descobrir para saber. Gostava disso.

Ariel.EXEOnde histórias criam vida. Descubra agora