Capítulo 13

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Não discuti. Fiz o que ela me pediu. Ela parecia extasiada. Orgulhosa. Na verdade, todos na casa estavam.

Eu havia passado para o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, mais conhecido como MIT. Parece mentira quando digo pra alguém, parecia mentira até quando eu pensava nisso.

Ajudei ela com a papelada e os últimos passos. Conseguimos pagar a viagem. Pelo que parecia, seriam 4 anos nos Estados Unidos. 4 anos afastado de minha família.

Descobri que não teria como levar o computador de mesa que eu tinha construído na garagem de Breno. A bagagem extra teria que pagar mais, e meus pais já estavam sofrendo com as despesas da viagem em si.

Lembro de falar com eles que eu tinha dinheiro que pudesse ajudar, e que estava disposto a arcar com parte das despesas. Não lembro se ficaram surpresos com o fato de que já ganhava dinheiro com o que fazia, mas chegamos a um acordo.

Decidi levar comigo o notebook que meu pai me comprou, e passei uns três dias tentando readaptar o notebook para encaixar com as coisas que eu usava. Não seria em nada comparado com o computador que montei, mas daria pro gasto.

A viagem até o aeroporto foi tranquila. Silenciosa. Por vezes, percebi o olhar de esguelha de um dos meus pais ou meus irmãos, mas nenhum deles falou nada.

No aeroporto, encontramos com Dona Marta, a mãe de Breno. Estava esperando para me ver. Parabenizou-me por ter conseguido entrar na universidade e que esperava o mais belo futuro para mim. Trocamos um abraço.

Retirou da bolsa uma caixinha, onde tinha as cópias da chave da garagem que eu devolvi a ela enquanto preparava-me para viajar. Disse que eu deveria ficar com ela. Ela ainda havia colocado a cópia da chave em uma corrente de prata, o que achei estranho.

"Isso é para que você possa abrir novas portas para o seu futuro, Ariel." Isso soou estranho vindo dela, porque ela nunca fora alguém a dizer tais coisas.

"Agradeço, mas não posso ficar com elas. De verdade, Dona Marta."

"Não foi minha ideia. Foi o Breno que pediu isso."

É claro. Só o Breno tinha essas ideias malucas de chaves para abrir o futuro. Um poeta.

"Fique. Eu te peço. Sempre admirei ambos, você e meu filho, por serem tão chegados um com o outro e tão apaixonados pelas mesmas coisas. Estou muito feliz de ver os dois tomarem seus caminhos. Eu só lhe peço que aceite isso, porque eu desejo a você o melhor pro seu futuro."

"...obrigado, Dona Marta."

Aceitei o colar com a chave da garagem. Coloquei no pescoço. Decidi naquele instante que este seria o objeto de sorte que eu carregaria comigo, cravado com as esperanças de que dias melhores viriam. De que essa chave seria capaz de abrir algum lugar de grande significado e de muitas memórias, como a garagem de Breno fora pra mim.

Troquei abraços com a minha família, dei as minhas despedidas. Lembro de escutar meu pai falar algo no meu ouvido.

"Você sabe que eu te amo, não é, meu filho? Eu te amo tanto. Nunca se esqueça."

Seus olhos estavam cheios de lágrimas, apesar de que nunca tinha visto ele chorar. Eu, por outro lado, me sentia como uma fonte seca. Cansado, exausto. Não que eu não sentisse a tristeza de partir, ou o alívio. Eu apenas estava frio como pedra, quase incomunicável. Não expressava nada além do necessário.

Algum tempo depois, eu estava no avião. Sozinho. Em silêncio, enquanto escutava outros passageiros conversando. Uns em português, outros em inglês, outros em línguas que desconhecia.

Abracei a calmaria, a paz. Horas se passaram até que a moça avisou que em poucos minutos o avião sairia.

Apenas quando eu comecei a sentir o avião acelerar que eu comecei a me arrepender de não ter falado mais com o meu pai, com a Dona Marta. Senti como se, de repente, eu havia retornado a realidade, e esta me levava pra longe de meus pai, da garagem, de tudo que eu conhecia como parte de mim. Parte de Ariel.

Estava chorando quando o avião subiu ao ar.

Ariel.EXEOnde histórias criam vida. Descubra agora