Capítulo II - Seja Meu Parceiro

3 1 0
                                    

Meus trabalhos não haviam acabado ainda. Estava atoladx de coisas para se fazer. Havia chegado ao ponto de organizar tabelas de tempo e horário para poder trabalhar, imagina?

Isso só acontecia nos piores cenários.

Demorou um bom tempo até que pudesse respirar novamente. Meu sono era mantido por meio das poucas horas em que meu corpo capotava no meio de um intervalo que havia definido, onde eu só acordava horas depois.

Depois de uma boa semana nesse sufoco, eu finalmente sentia que estava ficando com mais tempo para mim mesmo. Comecei a retornar ao dia a dia normal, estava dormindo mais.

Já havia se passado uma semana inteira quando recebi a mensagem do Theo.

" Preciso conversar com você pessoalmente"
" Venha até o bar no horário que estiver fechando"

"Aconteceu algo?"

"Só venha"

"Ainda hoje? Certo, farei o possível."

Olhei para as tabelas e mais tabelas de horários de trabalho que havia definido para mim. Observei o relógio. Teria que reajustar tudo para que pudesse encaixar esse encontro inesperado.

Pensei que algo sério houvesse ocorrido. Ou talvez, pior, ele havia descoberto ou lembrado daquela noite. Iria despedir-me ou se livrar de mim.

Mas é claro, não havia outra solução. Não sabia o que estaria me esperando quando entrasse no bar. Talvez fosse me punir pelo que aconteceu.

Afinal de contas, quem eu achava que era pra pensar que sairia ilesx de tentar ter relações com o chefe mafioso? Principalmente, um tão pai-de-família quanto ele parecia. Iria morrer para que ele pudesse salvar a cara e o orgulho.

E ainda assim, tinha que comparecer.

-----

Coloquei uma blusa moletom colorida com faixas arco íris, que lembrava a bandeira gay um pouco, e uma calça normal creme. Não me sentia confortável de me arrumar totalmente ainda, sentindo o cansaço e exaustão de meu corpo como nunca antes. Talvez fosse isso que me impedisse de correr dali e sumir.

Abri a porta do estabelecimento e dirigi-me ao balcão, como sempre faço. Logo o vi, Theo Moretti no balcão, terminando de limpar um copo lavado na mesa. Theo me percebe e olha em minha direção.

Pede que eu sente e me pergunta se quero beber algo. Sento-me na cadeira da mesa enquanto tento fazer meu cérebro refletir por uns instantes em qual bebida tomar antes de morrer ou ser despedidx.

"Vinho"

Theo Moretti busca a garrafa e a taça. Vira a taça na mesa em frente a mim e enche-a do líquido de um vermelho profundo. Tomo-as nas mãos como um jovem menino que estivesse tomando sua primeira bebida alcoólica. Sorvo o vinho em minha boca por um tempo.

Theo senta ao meu lado na mesa. Não olho em sua direção, e apenas espero que seja direto. Se for me matar, saque logo a arma.

O silêncio na sala é quase sufocante enquanto ele me observa por um tempo. Não faço a mínima ideia o que pensa de mim, ou de meu corpo, ou de como me visto. Não faço a mínima ideia se havia se lembrado da noite ou simplesmente  decidido que eu não era mais útil.

"Seja meu parceiro sexual. Darei tudo o que você quiser."

Sinto minha mão na taça parar por um instante, porém não deixo isso transparecer. Não olho em sua direção, e resumo a apenas continuar sorvendo a bebida. De todas as coisas, não esperava esta. Theo parecia sério demais para deixar algo como aquilo transparecer com facilidade.

Meu cenho franziu quando absorvi o significado de suas palavras. Como se lembrou, me perguntava. Teria alguém falado? Viro meu olhar em sua direção.

"Ora, Achei que não se lembrasse de nada depois que bebesse bem muito."

"Uma hora ou outra, as coisas sempre vêm à tona, a gente não pode fugir da verdade, e eu sei que eu e você somos compatíveis."

"Compatíveis? "

Vários outros já utilizaram palavras similares para tentar colocar em palavras o que sentiam. Somos compatíveis, ou temos gostos similares, ou que apenas éramos conectados… Palavras apenas palavras sem significado além da poesia.

Não era isso que queria escutar.

"Qual sua resposta ?"

"Me diga a verdade, Theo. Diga."

Aproveito que está sentado ao meu lado e me aproximo. Aah, eu queria escutar cada sussurro que fizesse, cada detalhe de sua voz ou do que pensava de mim. Minha mão foi ao seu peito antes que pudesse pensar nas ações que realizava. Me diga o que quero escutar.

"Você me disse que daria o que eu quisesse. E eu quero que você me diga que gostou. Que quer mais."

Mesmo que seja mentira. Diga que fui capaz de tornar chiclete em minhas mãos, diga que precisa de mim para satisfazer suas vontades.

Aproxima-se perto. Percebo tarde demais que está perto demais, e caio deitado sobre a mesa. Seus lábios chegam bem próximos aos meus ouvidos.

"Eu gosto disso, eu estou sedento por isso, seus gemidos são músicas pros meus ouvidos."

Escuto meu próprio coração acelerar quando seus lábios descem ao meu pescoço. Sim, era isso que me fazia desejar mais. Era isso que me esquentava nas noites frias de meu quitinete. Seguro o gemido em minha garganta, soltando um suspiro quando beija meu pescoço.

"Diga que me deseja e me quer que eu gemo o mais alto que você quiser. Onde você quiser."

"Eu quero você, eu te desejo, eu quero sentir seu interior, eu quero te fazer meu hoje a noite. Seja meu, Ariel. Só por essa noite."

Ah, as mentiras que gosto de escutar.

Um riso de prazer borbulha em minha garganta quando percebo que a noite será maravilhosa.

Ariel.EXEOnde histórias criam vida. Descubra agora