Capítulo 26

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Estava tudo escuro, a não ser pela luz da lua, que entrava da janela. A iluminação da lua chegava exatamente na mesa do escritório, onde ele se posicionou para me encarar do outro lado da mesa.

Toda a cena acabava por me lembrar da cena do contrato de "50 tons de cinza", o que me fazia sentir incertx acerca do que estava por vir e ao mesmo tempo extremamente curiose. Theo Moretti percebeu isso, talvez pela forma como eu agia dentro do quarto escuro.

"Preocupada? Não tenho interesse em você dessa maneira, embora você seja uma moça muito bonita, você esconde muito bem suas emoções, gosto disso. Achei que você se sentiria mais confortável num lugar isolado, minha intenção não era te deixar desconfiada."

Olhei para seus olhos sem esboçar muitas emoções e continuei observando enquanto falava. Moça? Que interessante. Ele achava que eu tinha medo de ser abusada? Bom, talvez qualquer moça normal tivesse, mas eu já havia abandonado tais padrões de gênero. De qualquer forma, não o corrige, queria saber até onde ele chegaria com este tipo de pensamento.

"Ultimamente as paredes têm ouvidos… Chamei você justamente para discutir sobre isso, tem alguém vazando informações, alguém de dentro."

Alguém de dentro? Um espião. Nada menos esperado de alguém com um nome tão grande quanto os Moretti. Claro que, ele poderia ter tido outros trabalhando a procura deste espião ou suspeitas.

"Sim, você me disse. Possui suspeitas?"

"Ultimamente estou desconfiando até da minha própria sombra, nunca se sabe quando alguém vai te apunhalar pelas costas, as pessoas são gananciosas… Não posso culpá-los, eu também sou. Respondendo a sua pergunta., não, chamei você pra descobrir... É o seu trabalho, certo? Eu preciso que você monitore algumas ligações e mensagens."

Senti-me um pouco incomodado por ter sido chamado a atenção do meu próprio trabalho, porém era inesperado que estivesse pegando um trabalho tão fresco ou recente. Nunca havia trabalhado com a família Moretti, e, de repente, foi-me confiado tamanho trabalho. Theo Moretti provavelmente tinha grandes estimativas, ou alguém havia dado a ele uma boa confiança de que eu era capaz.

Deveria trabalhar duro para atingir as expectativas.

"E eu o farei. Inclusive já pesquisei alguns de seus funcionários e sobre o seu estabelecimento. Posso confirmar que não sei tudo, pois seu serviço é bem... Colocado, se é que me entende. Assim que você me forneça onde eu poderia encontrar mais informações, estarei ao seu serviço 24h por dia. Mas, antes disso, queria algumas condições."

"Pode falar."

Era agora a chance de definir o que eu queria do trabalho, e que tipo de informações eles poderiam colher de mim. Fui honeste.

"Quero que compreenda que, ao vir aqui, estou arriscando minha identidade. Já sabe quem sou, apesar de não saber meu nome. Sei também que conhece Itália com a palma da mão, e que, de todos os lugares, escolheu o próprio estabelecimento como local de negociação. Por isso, eu pediria que, durante o período de contrato, houvesse uma segurança de que eu teria a privacidade de minha moradia em segredo. Também desejo uma quantia justa para que possa me manter durante o período do contrato."

A sorte havia sido jogada, agora era apenas esperar para ver como iria reagir. Esperei que discutisse os termos que defini ou que tentasse adicionar outros termos para poder ter um controle maior de meu trabalho. Muitos faziam isso.

"De acordo. De qualquer forma, não vamos nos ver com bastante frequência."

Ele concordou com todos. Seria ele um tolo? Ou de tamanha inocência? O que foi que disseram a ele que fazia com que ele colocasse tamanho crédito em minha pessoa? Talvez eu nunca soubesse. Só sabia que as coisas estavam indo a meu favor. E eu iria me aproveitar disso.

"Posso fornecer-lhe o meu nome, mas qualquer informação de minha família ou das pessoas que conheço devem ser mantidas em segredo para ter certeza de que elas não serão utilizadas contra mim."

"Como eu disse eu não tenho interesse, até porque eu poderia ter qualquer garota na minha cama, então realmente não vale a pena se relacionar com alguém do trabalho, de qualquer jeito estou fora do mercado há dois anos."

Uma pausa. Theo Moretti se virou para pegar algo na gaveta. Por um momento, vislumbrei apenas sua silhueta no quarto escuro, iluminado pela luz da lua. Quando se virou, segurava um conjunto de papéis já impressos, como se tivesse preparado anteriormente para esta situação. Colocou em cima da mesa que nos separava.

"Leia com cuidado." 

Posicionou suas mãos sobre a mesa, similar ao modo como um homem de negócios faria. Ou um vilão de filme. Não sabia dizer se isso era de propósito ou apenas para passar uma imagem de superioridade. Que, para mim, convenhamos. O nome dele já era suficiente.

Seu olhar era sério e fixado em mim, sem qualquer expressão. Para quem acreditava que eu era uma moça indefesa e que a única coisa que temia era ser levada para sua cama… ele era, à sua própria maneira, talvez um pouco puro. Não menos sério no que fazia, claro.

Mas quem era eu para levar um serviço totalmente a sério?

Lembrei-me de suas ações anteriores, as quais havia suspeitado como formas de me enganar por trás do cavalheirismo barato, como muitos faziam. Comparei com as expressões e ações dele. Quão díspares eram. Era honesto.

Senti um riso baixo subir a minha garganta pela ironia da situação. Ah, isso seria divertido.

"Ah, Theo Moretti... Quero que saiba que a cama é o que eu tenho menos medo. Achei que você saberia a quantidade de coisas que se pode fazer ao sequestrar alguém, principalmente Afrodite."

Estendi as mãos para pegar os papéis em cima da mesa, bem lentamente e com jeito para que ele percebesse que realmente não tinha medo de ser sensual ou de como me observava.

"Vejo que é um cavalheiro."

Folheio o contrato, observando os termos e suas especificações. Procurava por coisas que não haviam sido discutidas, limites de horário, saída, chegada, espaço de trabalho. Acesso a informação de dados do trabalhador. Limitações que geralmente tentavam usar contra mim para me manter sob controle. Não havia nada que ele não tivesse discutido. Puxei a caneta do bolso.

"Pelo que vejo, está tudo de acordo. Estarei colocando em prática o plano assim que possível, espero que possamos trabalhar harmoniosamente em conjunto até que possamos encontrar este espião." 

Assinei o contrato, devolvendo-o nas mãos dele para que guardasse consigo. Levanto-me da cadeira onde me sentava e estendo minha mão em sua direção.

"Pode me chamar de Ariel."

Mais uma vez, soltei meu melhor sorriso.

"Como a pequena sereia?"

"Talvez... Se acha que tenho o charme."

"Ok, então."

Aceita meu aperto de mão. Depois que oferecemos nossas despedidas, decidi voltar automaticamente para o meu quarto de hotel, porque não podia arriscar ficar em seu território por muito mais tempo.

Ariel.EXEOnde histórias criam vida. Descubra agora