Capítulo 12

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Um dia, acho que uma semana depois do teste, eu acordei e estava tudo um silêncio. Lembrei-me da noite da briga. Senti que algo estava diferente. Havia acontecido alguma coisa. 

Eu saí do meu quarto sem muita hesitação. Já não temia mais tais coisas. Como disse, sabia que não havia nada que pudesse fazer, e não me importava mais com o que ela me falava.

Fui para a sala principal e fui recebido pela família inteira com uma surpresa. Assustei-me de verdade. Quando levantei o olhar, percebi que todos estavam sorrindo. Meu pai, minha mãe, até meus irmãos que me cercavam.

Haviam comprado um bolo e começaram a me parabenizar. O mais estranho disso tudo é que não era meu aniversário. Nem uma data especial que eu soubesse.

"Mas o que? Pra que isso?"

Não sabia como reagir, porque dificilmente via todos tão felizes comigo.

"Você passou, meu filho! Você passou!"

Meu pai aproximou-se de mim e me abraçou com força, e meus irmãos vieram até mim também. Apenas minha mãe ficou observando de longe, e ainda assim, possuía um sorriso no rosto.

Demorou um pouco para eu poder processar as palavras que diziam.

Eu passei? Eu passei! Eu havia conseguido passar na faculdade! Não acreditava. Senti-me muito feliz de que eu veria Breno novamente, e juntos nós iríamos continuar uma dupla, morando bem longe de meus pais, de minha família desconcertada.

Mas como eles sabiam disso? Eu tinha certeza de que não havia checado ainda o resultado hoje.

"Como… Como vocês descobriram?"

Minha mãe coloca um papel em cima da mesa.

"Recebemos a carta, lógico!" 

Carta? Os resultados do Enem não viam em carta, saiam no Portal do Estudante. Não podia ser o mesmo resultado.

Aproximei-me da mesa. Era uma carta mesmo. Carta de aceitação. Mas como assim? Nenhuma universidade ou faculdade no Brasil lidava com carta, lidava?

Estava em inglês, língua que meu pai entendia. Era de uma universidade renomada, fora do Brasil. Fora um dos concursos que ela sugeriu que eu fizesse, e eu fiz sem me importar se passaria ou não.

Ao que tudo parecia, eu havia passado.

"Não, não! Não é essa a faculdade que eu quero!"

"Mas filho, ela é a melhor na área de Ciência da Computação." 

"Mas eu quero ir na faculdade que o Breno foi!" 

"Vai negar uma oportunidade dessa?"

"Não quero…"

"Não pode estar preferindo ficar numa faculdade mexerica que Breno foi quando você tem a melhor do mundo para passar?"

"Não vou! Vocês não podem me obrigar!"

"Já é tarde demais pra mudar de ideia, já preparei toda essa celebração porque eu finalizei a sua inscrição no site da universidade."

Foi ela que dissera isso. Não acreditei por um segundo, mas era verdade. Fiquei sem saber como reagir.

Lembrei-me de uma de nossas conversas que apenas concordava e ignorava, onde ela comentou que faria a minha inscrição em uma universidade que mal prestei atenção com o email dela como principal. Ela que fizera e ela que recebera o resultado.

Não havia mais o que discutir. Estava feito. Nem o que chorar. Não importava mais o que ela dizia, porque parei de escutar. Voltei para mim mesmo, talvez para proteger o pouco de sanidade que ainda tinha.

Deixei que ela tomasse a frente. Falasse as coisas que falava, ela estava certa. Se havia passado em uma universidade melhor, por que não ir? No exterior, ainda.

Não reagi, apenas deixei que celebrassem o que eu havia conseguido. Que celebrassem minha vitória, porque iria estudar numa universidade de elites para ciência da computação.

Pra mim, eu só queria ir pra qualquer lugar em que eu pudesse ficar longe deles.

Ariel.EXEOnde histórias criam vida. Descubra agora