2 da Manhã.
O tilintar de copos de vidro já havia parado. Agora, restava apenas o silêncio no quarto em que eu deitava. Além dos barulhos da cidade ao redor, é claro.
Eu não queria dormir. Meus olhos pesavam, e por vezes tive que me esforçar para mantê-los abertos. Não podia dormir. Há qualquer minuto, o telefone poderia gemer com uma ligação mais recente de meu cliente, pedindo feedback do trampo que pedira. Perguntando como ia a codificação de seu site, aplicativo, software.
Eu sabia que havia um trabalho que deveria ter entregado mais cedo, não conseguia apontar qual. Não queria saber qual.
Soltei um suspiro enquanto deixava de pensar no meu trabalho, razão pela qual eu simplesmente sai de casa para fazer. Virei-me ao lado para observar a pessoa que se deitava ali, já em um sono leve na cama que dividimos. O cheiro de sua colônia incensava seu quarto, fazendo com que meu corpo relaxasse em seus lençóis de seda negros.
Ele era rico, não podia negar. E de muito bom gosto, pelo jeito.
Observei os copos de vidro e garrafa vazios da vodka que bebemos mais cedo. Ele tinha um bar, e ministrava o mesmo com bastante zelo. Parecia ser um homem de grande futuro.
De certa forma, não consigo imaginar como ele procuraria alguém como eu. Não que eu não gostasse, adorava o conforto e riqueza de seu espaço. Especialmente a forma como me tratava.
Havia algo que não sabia definir especificamente sobre ele…
Se eu pudesse compará-lo com uma coisa, seria um copo de vodka. Ah, sim, que ironia era.
Vodka… Uma bebida quase transparente, tão similar à água. Para os outros parece normal aos olhos, quase impossível de diferenciar. Quem bebe, porém, consegue sentir o amargor na garganta.
Era assim que via o Theo.
Escuto o gemido do outro lado do quarto. Meu celular. O nome da pessoa me vem à cabeça antes que pudesse me levantar para atender. Não quero atender.
Em minha cabeça, peço a Deus que não seja aquele cliente. Movo-me lentamente e com cuidado para fora da cama, até chegar na mesa de canto e pegar meu celular da minha bolsa.
Droga.
"Te mandei as modificações que queria há três horas atrás! Você sabe que preciso desse projeto pra hoje, não sabe?"
"Sei, sim. Tive que sair para resolver algumas coisas fora."
"Há meia noite? E por três horas? Não minta. Sei que apenas desejou fugir do trabalho, como você sempre faz. Se você não fosse tão bom no que faz, saiba que já teria te despedido da empresa."
"Sim, sei. Eu entregarei seu projeto pronto ao meio dia, não se preocupe... Certo... Sim, não estou mentindo. Até mais tarde."
Finalizo a ligação. Solto outro suspiro que estava segurando.
Volto a observar Theo na cama, perdido em sonhos.
Como queria estar tão tranquilo. Mas preciso voltar.
Com pressa, coloco minhas roupas. Pego meus sapatos de salto alto. Enfio meu celular na bolsa cheia de bótons e chaveiros brilhantes que carrego comigo. Olho em volta do quarto e percebo algumas peças ainda espalhadas pelo chão, mas elas pouco me importam agora.
Eu saio do quarto da mesma forma que venho levando minha vida na última década. Como um furacão.
***
Em meia hora, chego no quitinete que decidi alugar usando o pouco dinheiro que havia salvo. Não tinha certeza quanto tempo estaria, e estava planejando apenas um mês na Itália até seguir estrada a dentro mais uma vez. Não podia ficar muito tempo em um lugar só, e sabia disso.
Destravei a porta, e entrei no quitinete vazio, com apenas algumas malas pequenas bagunçadas ao lado do colchonete que dormia. Tudo estava espalhado, não era como eu tivesse tido tempo suficiente para organizar ou decorar o quitinete que havia comprado. Tranquei a porta atrás de mim.
Segui para o banheiro, retirando o vestido e o casaco que tinha recolocado rapidamente no quarto do Theo. Deixei as roupas dentro de um cesto onde separava a roupa suja. Andei pelo quarto apenas com a calcinha até o banheiro e olhei meu estado no espelho.
A maquiagem estava borrada, como sempre ficava. O batom rosa estava manchado dos beijos rápidos que havia deixado no Theo Moretti, e por causa do quanto suei durante o processo. Eu tinha que comprar maquiagens de marcas melhores assim que pudesse.
Retornei a sala e peguei o removedor de maquiagem da mala bagunçada, e fui passando no rosto para retirar o excesso. Depois, lavei bem o rosto, fazendo com que as olheiras do cansaço surgissem por trás da máscara. Não havia dormido nas últimas duas noites, e, ao que tudo indicava, não dormiria esta.
Eu havia sido marcado. Diversas vezes por quase o corpo todo. Da clavícula até os braços. Na cintura e nas pernas. Tento me lembrar se deixou alguma nas costas ou na parte traseira do pescoço.
O cansaço chega com força no meu corpo e sinto ele perder o equilíbrio por alguns segundos antes de me segurar na parede mais próxima. Balanço a cabeça furiosamente para me manter acordado.
Quando retorno a consciência, escuto os gemidos do Theo de novo. Sempre gostei de escutar os gemidos de prazer das pessoas com quem dormia, e foi uma delícia escutar os dos Theo. Toda a experiência foi excelente, apesar de inesperada.
Apenas tomei consciência do que tinha feito depois que nós dois chegamos ao topo. Não sabia como iria reagir a mim caso lembrasse amanhã, quando o efeito da bebida tivesse passado. Parte de mim desejava que ele tivesse gostado tanto quanto eu.
Tirei a calcinha e joguei no chão do banheiro, ligando o chuveiro para poder me limpar do cheiro de sémen e bebida que se pregava em mim. Deixei que a água escorresse por algum tempo, tocando a mim mesmo nos lugares onde ele tocou.
Perguntava-me se o cheiro de sua colônia havia ficado em minha roupa, em meu casaco.
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Ariel.EXE
RomanceDesde muito novo, Ariel sofre abusos de uma mãe que nunca o amou. Quando atinge a idade adulta e se torna Hacker famoso, elu decide se separar completamente de sua família e acredita ter descoberto o verdadeiro significado do que é Amor Próprio, por...