Capítulo 22

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Mandaram o dinheiro. Não vi quem mandara, mas estava agradecido pelo gesto. Utilizei para pagar as dívidas da universidade, porque era apenas o suficiente para tanto. Tive que pegar trampos, apesar da falta de tempo com o trabalho de conclusão de curso e as últimas cadeiras para pagar, para pagar o tratamento.

Talvez quem esteja lendo pense que foi burrice, já que o dinheiro era pra pagar o tratamento, mas eu estava muito desconcertado. Não dormia. Não comia direito. O tratamento era violento ao ponto de eu pedir para que os professores me deixassem ficar no quarto.

Compreenderam, o que fez com que eu apenas ficasse alternando ainda mais as aulas e os trabalhos que fazia, usando as noites que não conseguia dormir pra ganhar mais dinheiro. Não sei como sobrevivi. Não consigo dizer como estou vivo.

Mas também não me lembro da minha festa de formatura. Apenas de ter o diploma nas minhas mãos e pensar em como estava aliviado por ter mais tempo livre agora para trabalhar.

***

"Ariel Amadeo?"

Eu estava na clínica. Já fazia dois anos que eu estava recebendo tratamento. Usava um lenço cor de rosa, porque tinha me cansado de usar perucas. O médico que me chamou explicou mais uma vez de como não havia surtido efeito.

***

Eu estava acabado, trabalhava dia e noite para manter o tratamento sozinho. Depois que terminei a universidade, comecei a viajar o mundo por minha própria conta. Não queria retornar a minha casa de jeito algum. Seria demais.

Queria continuar sendo a diva Ariel, governante da sedução, aquele que tinha carisma e cérebro. Não queria retornar a ser Ariel Chorão, o perdedor, nunca mais. Peguei a primeira quantidade de dinheiro que tinha nas mãos e viajei para fora.

***

"Apenas retire tudo, por favor."

"Tem certeza disso?"

Concordo com a cabeça.

"Já faz dois anos que estou recebendo tratamento. Não tenho mais condições de pagar os custos por muito mais tempo."

"Será um processo violento."

"Que seja. Só quero estar livre de todos esses exames."

***

Acho que enviei alguma mensagem para Daniel avisando, mas ele nunca me respondeu. Tive a sorte de pegar um job bom que me pagasse as despesas.  Desde então, eu tenho vagado o mundo, aprendendo novas línguas, novas culturas. Sempre trabalhando debaixo dos panos.

Quando estava na Itália pela primeira vez, visitando museus e escutando sobre a história dos antigos tempos, escutei com novos olhares sobre a história de Afrodite, a deusa do amor e da sexualidade. Apaixonei pelo conceito, tanto que acabei adotando como codinome.

Queria ser como Afrodite. Desejável, poderosa, bela.
Uma deusa.

Ariel.EXEOnde histórias criam vida. Descubra agora