Capítulo 11

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Não que o castigo me incomodasse. Eu poderia ter saído de casa se quisesse. Eu sentia que todos os sentimentos que tinha para a minha mãe tinham ido embora quando esmurrei e briguei com Fernando.

Sentia-me que não havia mais nada que eu pudesse fazer para mudar a ideia dela. Não fosse por isso. Eu faria 19 anos naquele ano. Da mesma forma que Breno, eu teria que escolher que caminho e carreira deveria seguir. Acho que consegue imaginar qual.

Não importava o que Breno dizia. Eu queria tentar passar na mesma faculdade que ele tinha passado. Pretendia pagar o mesmo curso, e por que não escolher uma faculdade onde eu encontraria um amigo? Melhor do que ficar mais tempo nessa casa ou sozinho no meio do mundo.

Foquei nos meus estudos assim que finalizei o terceiro ano do ensino médio. Tinha decidido dar um ano a mais para que eu pudesse ter certeza que passaria.

Meus pais não reclamaram. Nenhum deles falou nada em relação a quantidade de tempo que eu passava trancado no meu quarto ou afastado. Dizia que estava fazendo outros cursinhos, apenas estudando para o Enem.

Na verdade, estava apenas indo para a garagem de Breno, onde era recebido pela mãe compreensiva dele: Dona Marta. Ela ficava feliz em me ver, talvez porque sentisse falta de seu filho. Trazia lanches às vezes, e perguntava o que estava fazendo.

A maior parte do tempo, eu apenas estudava. Meus estudos se alternavam entre os estudos pro enem ou os estudos com códigos, que deixaram de ser os mesmos depois que Breno viajou. Não que eu tivesse perdido a curiosidade, apenas não tinha vontade de construir nada do zero. Fazia-me lembrar do Grande Sábio 2000.

Meu pai comprou um computador novo pra mim, o modelo mais recente que ele conseguiu pagar. Eu mal usava. O computador que eu havia construído na garagem encaixava mais nas minhas necessidades. Mas eu carregava o notebook para todo o lugar comigo, por vezes mentindo dizendo pra ele que usava muito, só pra ele não saber.

Esse último ano passou assim. Meu último ano com a minha família.

Foi um alívio. Uma época de paz. De silêncio. Tudo que eu havia pedido.

Eu apenas concordava na mesa com seja lá o que minha mãe dissesse. Pelo que parecia, ela havia percebido que eu era muito bom na codificação. Começou a falar de cursos no exterior, de como eu devia tentar isso ou aquilo. Apenas concordava com a cabeça.

Eu sabia para onde queria ir. Ela podia pedir que eu fizesse quantos testes ela quisesse. Eu faria todos eles, mas a última decisão seria minha.

E eu sabia pra onde queria ir.
-

Fiz o Enem e coloquei a faculdade que Breno estudava como primeira opção. Não lembro o que coloquei como segunda. Algum curso aleatório.

Esperei os resultados.

Ariel.EXEOnde histórias criam vida. Descubra agora