Capítulo 10 👑

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⚠Atenção . Esta história contém cenas de sexo e violência, o que não são indicadas para menores de 18 anos🔞. Não é permitido nenhum tipo de plágio. Não se esqueçam de votar, comentar e partilhar!
Boa leitura.

♤♤♤

Entro cansada para dentro do apartamento e ouço o som da televisão antes que pouse as chaves sobre a prateleira para a entrada da cozinha, farejando o ar. Tem um cheiro de cigarro deixado pelo corredor, como se fosse fumada com tanta perspicácia até ao filtro capaz de deixar um orifício na faringe. Distingo à minha direita, sob a pia e o balcão, empilhados com duas panelas novas que eu comprara este mês, e meia dúzia de pratos sujos como se uma família numerosa inteira estivesse a almoçar aqui. Solto um pequeno suspiro, tudo capricho do descuido de Maya e sua mania de acumular pratos durante um dia inteiro. Mesmo que eu pedisse, ela deixaria aquilo por uma semana. Observo com raiva a base de uma das panelas. O excesso de tempo ao fogo deixou-a com o aspeto carbonizado, nem dando a impressão de ter somente uma semana no apartamento.

Arrasto os pés em direção à sala e observo Maya com os olhos fixos na televisão e pernas cruzadas por baixo da almofada. Solto a respiração antes de começar a falar:

— Porque deixaste a cozinha assim? Sabes que não dá para estar sempre a limpar o apartamento inteiro, muito menos uma cozinha imunda daquelas.

Ela não diz nada. Levanta o telemóvel em sua mão com a tela do ecrã ligada, dirigida a mim, sem me encarar. Todavia não consigo distinguir o que aparece na tela. Nem dou-me ao trabalho de aproximar para ver melhor. Ela já tem a notícia a mil.

— Nem vais acreditar. Coloquei um anúncio nas redes sociais e alguém surgiu no instante seguinte? — Desde o início eu sempre achara que Maya e Max tinham tanta coisa em comum que eles dariam um par tão perfeito, como duas serpentes de uma mesma espécie. Tive pena porque nunca senti verdadeira conexão entre eles. Eles poderiam continuar a cruzar-se por tanto tempo que nem se dignassem a procriar alguma coisa juntos.

— Que anúncio, Maya? — Eu pergunto já sentindo um leve estremecimento entorpecendo pelas pernas. Sua voz simplesmente está calma, e sei que tem algo nada bom nesta conversa toda. Algo que decerto eu notara dois anos antes de ter feito o que fiz. Ter repetido aquilo que fiz. Tantas vezes. Abano a cabeça como se enxotasse meus próprios propósitos. Não eram minhas. Não eram minhas ações. Pertenceram a outra pessoa. Mais possessa que eu.

— Anúncio para acolher uma nova companheira no apartamento — eu deleto uma expressão confusa e dirijo uns passos em frente. Agora estou a tantos poucos passos de começar a compreender o que realmente pode estar vivendo dentro de mim, quem sabe eu poderei vir a entender o que uma alma como a de Maya tanto planeia para se safar, jogando algo tão ruim com alguém mesmo que a pessoa nem se aperceba. Ela vai fazê-lo o quanto puder.

— Conseguimos pagar o apartamento as três— eu respondo com a voz em um fio e aperto as mãos sentindo-me violada pela raiva. Alem disso, não há espaço para mais alguém. Não vou dividir meu quarto.

— Já temos uma garota. E ela vai ocupar o teu lugar.

Uma vez em criança vi um filme, era tão antigo, uma família que adotara dois cãezinhos tão bonitinhos que pareciam com os da casa de Jenny, mas os personagens as deixaram fugir para que suas crianças não as machucassem. Elas não entendiam que não podiam machucar os bichinhos. Maya nunca percebe que as coisas não são como ela sempre quer. Ela deseja e quer. Duvido que ela alguma vez tenha passado por um surto psicótico por uma semana inteira que fizesse a família rasteja-la até um posto de saúde pouco preparado, em meio a madrugada. De longe ela sonha com isso.

Maya tem uma expressão tão plácida em seu rosto que por um minuto tive uma vontade imensa de declinar-lhe uma tapa bem forte e gritar com ela. Sinto raiva e humilhação. Eu fora a última pessoa a ocupar o apartamento, porque as duas não conseguiam pagar a renda sozinhas. Fiquei com o segundo quarto, ocupei metade do apartamento durante os últimos três anos. Sinto raiva porque não consigo entender esse sentimento de raiva que elas tem por mim. Esse sentimento de angústia por elas terem angústia de minha presença. Como se eu fosse apenas algo, não, alguma coisa que estava a ocupar uma parte do apartamento só para que elas tivessem de pagar menos no arrendamento. Não tive culpa se nunca consegui viver com o meu pai no apartamento dele, se não tive como interagir o suficiente com ele antes que o seu problema respiratório violento matasse-o.

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