Baby issues

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*Este capítulo contém possíveis spoilers do episódio 502.

Carina havia chegado do trabalho bastante silenciosa. Ela apenas atravessou a porta e seguiu direto para o quarto. Maya estava no sofá trabalhando ao computador quando ela passou e apenas olhou a esposa por um segundo antes de continuar seu caminho. A loira ainda tentou dizer "Bom dia", mas a sua saudação se perdeu no ar pois Carina já entrava no quarto.

Maya respirou fundo enquanto fechava o computador que tinha sobre as pernas posicionando-o, em seguida, sobre a mesa. Ela ainda ficou um instante ali com as mãos pousadas sobre os joelhos até ter realmente coragem de levantar para ir atrás da esposa.

A bombeira entrou no quarto e pôde ver que Carina estava tirando a maquiagem à frente do espelho no banheiro. Ela ficou um instante parada à soleira da porta em silêncio lutando contra a vontade imensa de conversar com a morena contra a vontade de esquecer o assunto que ocasionara tudo aquilo. A morena apenas a olhou pelo reflexo do espelho e voltou a fazer o que fazia antes sem dizer nada.

— É sério que você ainda está brava comigo por causa de ontem? – Maya disse encarando a esposa enquanto encostava-se na pia de costas para o espelho e cruzava os braços.

A morena parou e deu um longo suspiro deixando a mão que segurava o algodão cair ao lado de seu corpo enquanto continuava fixando o seu reflexo no espelho.

— Não, Maya. Eu não estou brava... eu estou triste. Eu tenho o direito de ficar triste? – Carina explicou com uma voz dura virando se na direção de Maya.

— Sim, você tem. – Maya disse baixinho os olhos e mordendo o interior da bochecha. "Triste é bem pior do que brava",  a bombeira pensou.

— Nesse momento eu sinto como se algo tivesse sido tirado de mim. Algo que eu sempre imaginei que seria meu um dia. Então me deixe sentir. – Carina desabafou. A morena ia e vinha com a mão no ar enquanto voltava a olhar na direção de Maya sentindo a visão embaçar por causa das lágrimas que enchia seu olhos. Ela parou de falar e abaixou os olhos na direção da pia apoiando também as mãos sobre ela.

— E... Maya, você tem tanto orgulho de ter sido a primeira mulher e a mais nova Capitã da sua Estação e mesmo assim você quer continuar seguindo pelo caminho feito pelos homens antes de você. O que você quer mostrar para as mulheres que vierem depois de você? Que você pode ter uma carreira bem sucedida ou uma família? Ter os dois é impossível?

— Essa é uma carreira moldada por homens e para homens, Carina. Você não entende o que é ser uma mulher nesse meio.

— Sim, esse é sempre o seu argumento, Maya. "Você não entende, Carina" e então fim da discussão. – A mulher disse com ironia.

A loira deixou os ombros caírem e deu suspiro.

— Eu... Me desculpe, é só que eu venho de um mundo de competição onde só os melhores sobem, Carina, e homens podem se tornar pais nesse mundo, mas mães são diferentes...

— Eu sei digo, Maya... Você pode não se lembrar, mas eu trabalho com mães todos os dias. Eu as escuto, sei pelo que elas passam muitas vezes sozinhas. E nós... Nós teríamos uma outra.

A bombeira permaneceu ali apoiada na pia ao lado da amada enquanto ela voltava a tirar a maquiagem com um algodão aproveitando para também limpar as lágrimas que desciam por seu rosto.

Carina estava realmente triste. O seu dia de trabalho havia sido insuportável. Ela ficara com a sensação de que algo estava preso na sua garganta. Não conseguira chorar. Não havia conversado com ninguém desde o dia anterior.

A morena deixou o quarto e foi na direção do closet. Um segundo depois Maya a seguia.

— Quando você pensa em ter um bebê o que te vem na mente primeiro?

— Eu não quero mais falar sobre isso, Maya. Eu estou cansada. – A morena disse sem ao menos virar-se para olhar para a esposa.

— O que vem na sua mente, Carina? – Maya insistiu vindo ao lado dela e fazendo com que fosse impossível não vê-la. – Por favor?

A morena apenas sacudiu a cabeça e ficou um instante de silêncio antes de começar a falar.

— Eu... eu penso em uma mãozinha envolvendo o meu dedo enquanto dois olhinhos brilhantes me encaram e eu quase posso me transportar para esse lugar. – Carina espremeu os olhos ao dizer "mãozinha" e fez um movimento com a mão para sinalizar.

— O que mais?

— Eu imagino primeiras palavras e primeiros passos, primeiro dia na escola. Eu imagino ouvir alguém me chamando de "Mama" e correndo em direção a mim com os braços abertos. – A morena agora encarava um ponto invisível enquanto falava. — Eu imagino almoços de domingo e aniversários e festas do pijama, halloweens e natais. Eu imagino ensinar alguém a falar italiano e contar a ele ou ela sobre o meu país e falar sobre o seu tio que amaria ter lhe conhecido. E... e quando a vida deixar de ser apenas trabalho... eu imagino alguém que liga para saber como eu estou e que vem para os feriados. – A morena agora voltava a si. — A vida não vai ser para sempre sobre trabalho, Maya. – Ela saiu novamente com o olhar triste levando nas mãos uma roupa para trocar no quarto.

— Me dê mais tempo. – A bombeira disse decidida.

— O que?

— Me dê mais tempo para pensar. Me deixe reconsiderar. – Ela disse enquanto arregalava os olhos na direção da esposa esperando por uma resposta.

— Nós não temos tanto tempo assim, Maya. Nós...

— Não vai tomar tanto tempo... Apenas preciso de mais tempo sem pressão. Deixe me pensar e eu aviso quando tiver uma decisão. – A bombeira disse. — Olhe, eu não prometo que vou mudar de ideia, mas eu prometo que vou reconsiderar e nós vamos encontrar uma saída, okay? – Maya disse aproximando-se de Carina e tomando as mãos dela nas suas.

— Eu não tenho certeza se...

— Por favor. – A loira interrompeu juntando as mãos na frente da boca como se implorasse.

— Okay. – A morena disse após jogar a cabeça para trás. Para ela aquele era apenas um jeito de Maya tentar amenizar as coisas naquele momento. Não achava que ela mudaria de ideia, mas deixaria aquilo acontecer.

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Nota da autora: Alguém recuperado do último episódio? Como sempre nem um dia de paz. Então, sobre o assunto "bebês", vocês acham que esse assunto foi encerrado e vai ficar tudo bem ou elas ainda vão ter discussões sobre isso? Eu só sei que aquelas duas carinhas tristes me acabaram. Eu realmente acho que elas poderiam achar um meio termo nisso, como por exemplo adotar uma criança maior que não precisasse da quantidade de cuidados de um bebê. O que vocês acham?

P.S. Voltei a atualizar a fanfic "I choose you" então acompanhem e comentem lá também. bjs

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