Chaos II

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Maya chegou em casa e abriu a porta quase que em câmera lenta como vinha fazendo nos últimos dias quando voltava para casa. Ela ainda ficara bastante no carro refletindo se entrava ou não em casa. Nos últimos dias muitas foram as vezes em que ela preferiu dormir na Estação a encarar a esposa em casa.

A loira andava cautelosamente. Tinha medo de fazer barulho e acordar a esposa caso ela estivesse em casa aquela manhã. Ela depositou a bolsa no chão ao lado da porta. Retirou o casaco e o pousou no cabide e continuou a andar até atingir a soleira da porta.

Seu plano era entrar rapidamente no closet para pegar uma roupa e sair para correr. De certo ela havia marcado uma consulta com Diane Lewis. Havia procurado ajuda como Carina pedira, mas as coisas haviam alcançado um nível muito além do que ela havia imaginado após a discussão na Estação e a bombeira tremia ao pensar em conversar com a esposa em contar a ela que havia enfim feito aquilo pois podia ser tarde demais. "Talvez não tenha mais remédio", ela pensou triste.

Ao entrar no quarto de impulso ela parou.
Carina se encontrava deitada, com uma expressão calma no rosto. Seus cabelos estavam espalhados pelo travesseiro e o seu rosto era apoiado sobre sua mão.

Como a bombeira desejava deitar-se ali e apenas colar seu corpo ao da esposa enfiando seu nariz entre os cabelos dela. Como queria receber aquele "Buongiorno, bambina", que a sua deusa italiana lhe dava ainda com a voz rouca de sono. Seu corpo estremecia ao lembrar do cheiro suave da pele da amada e do toque carinhoso dela sob o seu corpo.

A outra mão de Carina que descansava sobre o lençol denunciava o brilho de sua aliança. Ela não havia tirado. "Talvez ainda haja tempo", Maya pensou e não pôde evitar que um sorriso viesse aos seus lábios. Aquela réstia de esperança foi suficiente para preencher o coração ferido da bombeira.

Ela enfim andou até o closet na ponta dos pés ainda com aquele sorriso nos lábios, recolheu uma roupa enquanto sua mente criava cenários de como ela pediria desculpas a esposa e lhe contaria sobre a consulta. Como quebraria aquele gelo entre elas. Maya voltou ao quarto ainda caminhando com cuidado, mas deu de cara com Carina já com os olhos abertos.

"Eu acordei você?", Maya falou baixo preocupada.

"Não, não... Eu já estava acordada", a mulher disse.

As duas ficaram em silêncio enquanto Maya trocava sua roupa.

"Como foi o trabalho?", Carina disse enquanto sentava se encostando-se na cabeceira. Aquela conversa estava praticamente forçada.

"Cada dia mais difícil, mas eu consigo suportar...", ela disse enquanto retirava a blusa e a depositava sobre a poltrona.

As duas permaneceram em silêncio.

"Eu achei que você não voltaria para casa novamente", a italiana cutucou.

"Eu... eu...", Maya gaguejou. Fora pega de surpresa. "Eu estava lidando com muitas coisas", Maya quase disse , mas sabia que Carina diria "Então você me deixou lidando com tudo "isso" sozinha", enquanto apontaria para a barriga e isso iniciaria uma nova briga. Ela não deixaria que isso acontecesse.

A bombeira tomou uma grande quantidade de ar para dentro dos pulmões e falou virando para olhar diretamente para Carina:

"Me desculpe. Eu... eu não queria que os meus erros ferissem você. E... eu sei que não foi o melhor, mas eu precisava organizar os meus pensamentos".

Carina não disse nada. Apenas cruzou as mãos sobre as pernas ainda encarando a mulher.

Depois de um instante Maya virou-se novamente e abaixou-se para pegar os tênis de corrida no chão.

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