A house is not a home

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Nós chamaremos esse lugar de lar
A terra em que nossas raízes podem crescer
Mesmo que as tempestades nos puxem e empurrem
Nós chamaremos esse lugar de lar
...
Nós iremos contar as nossas histórias nestas paredes
Todo ano, medir o quão alto
E assim como uma obra de arte
Nós iremos contar as nossas histórias nestas paredes
(North- Sleeping at last)

Maya entra cozinha e Carina está pensativa com uma expressão triste no rosto enquanto permanece parada no meio do cômodo com o olhar preso em um ponto fixo à sua frente. Um silêncio cortante preenche o ambiente. As crianças não estão ali. Maya e Carina preferiram que os filhos não passassem por aquilo. Elas fizeram as devidas despedidas mais cedo e eles ficariam na casa da avó em segurança até que tudo estivesse acabado. Seria mais fácil assim.

Ao redor delas um amontoado de caixas se acumula. As paredes já não têm quadros e as estantes não tem as fotos da família ou os livros de estudo de suas profissões que com o decorrer do tempo foram sendo acompanhados por livros de histórias infantis. Os brinquedos onde elas costumavam tropeçar não estão mais espalhados pelo chão.

Na cozinha, as prateleiras estão praticamente vazias salvo um ou outro pequeno ítem que Carina se recusa a colocar em uma caixa pois tem um valor sentimental muito grande e ela não suportaria perder. Não há mais flores sobre a mesa.

O quadro negro onde as duas costumavam escrever recados fofos também não está na parede. O pequeno apartamento agora parece gigante com suas paredes brancas (salvo um ou outro rabisco de giz de cera ou lápis de cor feitos pelos filhos) sem quadros e suas estantes sem cor.

A morena de repente se vira e vê que é observada pela esposa.

"Você está triste?", Maya diz compassivamente quando a italiana bate os olhos nela.

"Não... Emotiva", ela diz enquanto leva o dedo por sob o olho para enxugar uma lágrima.

"Isso é toda a nossa história", ela diz levantando o braço e mostrando ao redor. "Toda a história que construímos durante todos esses anos. Todas as nossas memórias estão nessas caixas", Carina disse sentindo os olhos enchendo-se de lágrimas. "Nesse sofá nós sentamos e decidimos viajar juntas pela primeira vez. Nessa sala nós tivemos a nossa pior briga o que me levou a ver que eu não podia perder você. Aqui nós dançamos no dia do nosso casamento e tantas outras vezes. Nós fizemos planos para a chegada de Lucy. Sentadas nessa mesa nós contamos a Oliver que ele ficaria conosco e assistimos o laço entre ele e Lucy se tornar cada vez mais forte. Tantos sorrisos e lágrimas também. Aqui nos multiplicamos o nosso amor. Nós comemoramos objetivos alcançados no nosso trabalho e ficamos chateadas quando algo foi contra a nossa vontade."

Maya andou na direção dela e lhe deu um abraço sentindo o choro leve dela sobre o seu ombro.

"Eu também não acredito que estamos saindo daqui", Maya disse também sentindo os olhos marejados.

"Aqui estou eu toda emocionada quando você viveu aqui por bem mais tempo que eu", ela disse olhando para a esposa.

Maya tomou o rosto da esposa nas mãos de falou fixando os seus olhos:

"Uma casa não é um lar e essa casa só se tornou um lar para mim quando você veio com todos os seus quadros de vagina, os seus temperos. Eu já vivia aqui antes, mas eu não consigo lembrar como era sem você. Você mudou todo esse apartamento e mudou a mim também."

Carina abriu um sorriso enquanto inclinava a cabeça encostando a na da esposa.

"Você está certa. Uma casa não é um lar. E o meu lar são vocês então está tudo bem."

Apesar da dolorida despedida, a família estava feliz com a mudança. Na casa nova teriam um quintal para as crianças brincarem, cada crianças teria o seu próprio quarto e elas teriam espaço para um escritório, uma grande cozinha e ainda um quarto de hóspedes. Elas sempre acolheram os amigos, mas com a chegada das crianças a casa ficou pequena demais e isso ficou um pouco complicado.

"Nós vamos fazer novas memórias na casa nova. Um montão delas. As mais lindas", Maya começou a dançar lentamente com o corpo colado ao da esposa. Tantas vezes haviam dançado ali e agora faziam isso pela última vez.

"Sim... E eu mal posso esperar para viver tudo isso. Eu estou emocionada por deixar esse apartamento pela felicidade que tivemos aqui, mas eu mal posso esperar para construir novas memórias. Para assistir os nosso pequenos humanos descobrindo o mundo."

"Quem sabe com mais espaço nós podemos pensar em aumentar a família", Maya disse com uma expressão de criança travessa no rosto.

"O quê? Você quer ter mais filhos, Maya?", Carina disse parando um instante para encarar a esposa tentando entender a sugestão dela.

"Não, não é isso... Quer dizer, eu não sou contra a possibilidade, mas eu estava pensando em adotar um cachorro", a loira falou animada.

"Eu estou completamente dentro", Carina disse girando a loira enquanto ria animada junto com ela.

Carina continuou dançando lentamente com a esposa enquanto corria com os olhos ao redor do apartamento.

"Você lembra quando eu mudei e nós desistimos das caixa e dormimos com toda bagunça ao nosso redor?", Carina riu. Agora, no entanto, era diferente. Não eram apenas as duas. Elas precisavam deixar tudo pronto para que as crianças dormissem tranquilamente. Já sabiam que aquela noite seria de amontoado na cama das mães por causa da adaptação, mas estava tudo bem. No dia seguinte dormiriam um pouco mais e estariam descansadas. Por sorte todos os amigos estavam engajados na mudança e grande parte das caixas já haviam sido levadas e já deveriam estar sendo por Vic e Andy naquele exato momento.

"Eu lembro exatamente do dia em que você mudou. Eu estava tão ansiosa e assustada, mas eu quase não conseguia respirar só de imaginar que você estaria aqui todos os dias. Que eu abriria os olhos pela manhã e você seria a primeira coisa que eu veria. E... no início eu tive tanto medo... porque eu estava tão acostumada com o meu espaço, com tudo do meu jeito. Eu estava acostumada a ser sozinha, a me proteger de todos. Bem... não muito tempo depois eu já não conseguia lembrar como era essa casa antes de você. Antes das suas flores sobre a mesa de jantar e as suas canções cantaroladas pela manhã. Eu já não lembrava como era tomar café da manhã e não sair atrasada de casa todos os dias", Maya disse com os olhos marejados, mas com um sorriso no rosto provocando a esposa.

"Ei, eu estou melhorando nesse quesito", Carina reclamou rindo.

"Um passo de cada vez", a loira também riu. "Meu bem, nós ainda temos que finalizar o closet. Daqui a pouco o pessoal estará aqui para pegar as últimas caixas e nós temos um longo dia de arrumação pela frente...", Maya disse mesmo que sua vontade fosse permanecer nos braços da amada aproveitando aquela atmosfera de amor em que elas estavam envoltas.

"Só mais alguns minutos...", a morena apertou os baços ao redor do pescoço da esposa e descansou a cabeça sobre ombro dela.

Elas ainda ficaram ali com os corpos colados até que realmente tivessem que voltar ao trabalho e por mais cansativa que fosse toda aquela mudança estavam felizes por iniciar mais um capítulo de sua história juntas.

****

Nota da autora: Desculpem pelo pequeno susto. Eu sou adepta ao drama. O título desse one shot é o mesmo título do próximo episódio da série. Foi daí que eu resolvi escrever essa história porque já estava pensando se elas vão mudar em algum ponto porque pense num apartamento pequeno é o delas.

Espero que tenham gostado. :)

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