Safe Place

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Carina estava estática na frente do berçário  com as mãos enfiadas no fundo dos bolsos do jaleco. Muitos bebêzinhos dormiam calmamente enquanto alguns outros balançavam os delicados bracinhos no ar.
O olhar de Carina, no entanto, focava a bebê gorduchinha que se movia com dificuldade. Alice, Carina se lembrava que a mãe havia dito com um sorriso no rosto que esse seria o seu nome.

A mãe havia vindo em todas as consultas sozinha e Carina nunca soube muito se ela tinha alguém. Ela era uma pessoa muito fechada. O seu parto teve complicações e ela não resistiu. Alice havia ficado sozinha.

A morena foi tirada dos seus pensamentos quando um dos residentes chegou ao seu lado e lhe informou que a Assistente social havia chegado e conversaria com ela sobre a situação da bebê. A Obstetra foi conversar com a mulher que lhe informou que realmente não haviam parentes próximos encontrados para cuidar da recém nascida, portanto assim que tivesse alta ela seria encaminhada para um lar temporário e na sequência ficaria disponível para adoção.

Após a conversa, Carina voltou à sua sala e trocou-se para deixar o hospital. Ela parou um instante enquanto recolhia algumas coisas sobre sua mesa e as jogava na bolsa. Ali havia uma foto de Maya, Carina, Lucy e Olie na última viagem que fizeram para a praia. Ela parou o que fazia e tomou o objeto nas mãos. Sentou-se na beirada da mesa trazendo o porta retrato para o alcance dos seus olhos. Ela esboçou um sorriso que misturava felicidade e preocupação.

Na foto, elas beijavam as bochechas de Lucy uma de cada lado. A pequena tinha um sorriso aberto mostrando a gengiva desdentada. O menino fazia uma careta sobre a cabeça das mães enquanto agarrava o pescoço das duas. Maya ia sempre contra a sua vontade e sempre acabava ficando queimada de sol por causa de sua pele delicada. Carina e os filhos no entanto adoravam. A italiana ficou ali um instante olhando aquela foto. A sua família era perfeita  e nem nos seus melhores sonhos ela imaginou ser tão feliz como era agora.

Carina sentia-se triste por perder uma mãe. Sentia-se mais triste ainda por uma bebê que não tinha ninguém naquele momento.  Desde a chegada de Lucy a sua profissão havia tomado um novo significado. Sempre lembrava do momento em que tomara a sua filha pela primeira vez no colo quando via os olhos brilhantes das mães após o parto. Aquelas pequenas criaturas chegavam para mudar a nossa vida completamente, ela pensava. Agora com a chegada de Oliver tudo ficava intensificado. A sua rotina era uma maratona lidando com duas crianças de idades diferentes o hospital e a clínica na Estação, mas não trocaria aquilo por nada.

Carina levantou-se, recolheu suas coisas e foi em direção a porta da sala. Era o final do seu turno e a médica ansiava por ver seus filhos e sua mulher.

Carina entrou em casa e colocou suas coisas sobre a mesa. Dali mesmo da sala conseguia ouvir a voz de Maya brincando com as crianças no quarto. Era possível ouvir Lucy se desmanchar em gostosas gargalhadas. Ao fundo a voz de Oliver fazendo barulhos de dinossauro era notável. Carina não pode evitar um sorriso enquanto depoisitava suas chaves sobre a mesa tentando ser o mais silenciosa possível.

A morena tirou os sapatos do lado de fora e caminhou na ponta dos pés até a porta do quarto.
Carina focou o olhar em Maya. Tinha tanto medo que ela se machucasse. Medo que algo de ruim lhe acontecesse. Às vezes evitava pensar em como a sua profissão era perigosa apenas para espantar o medo de perdê-la por um instante. As lágrimas começaram a encher seus olhos mesmo que seus labios desenhassem um sorriso.

Maya não notou sua presença e continuava a brincadeira com os filhos. Sentados no tapete colorido no chão do quarto os três encontravam-se cercados por brinquedos coloridos e livros infantis. O menino atacava a irmã com um dinossauro de pelúcia fazendo que ela gargalhasse e em seguida atacando a mãe.

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