38 - Mais uma noite no lago

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Tyler Hills

Pouco antes que meu telefone descarregasse, um turbilhão de mensagens chegaram para mim. Algumas bem agressivas, outras prestando apoio, mas o que mais ganhava destaque nessa fatídica noite eram as dezenas de ligações de Madison que eram ignoradas uma a uma até que eu conseguisse bloqueá-la em todas as minhas redes sociais, até mesmo no Facebook que ela insistia em tentar contato comigo. Falar com a garota nesse momento seria o maior ato de masoquismo que alguém já presenciou na história da humanidade.

Quando o brilho da tela do celular desapareceu na escuridão do meu quarto, as lágrimas retornaram lentamente, irritando-me por estar chorando pela milésima vez em um único dia. Eu não suportava mais sentir as pequenas gotículas de água fazerem cócegas por todo o meu rosto até que caíssem no piso do meu quarto. Sem poder saber a resposta de Natan por ter lançado o meu carregador pela janela durante o meu descontrole e com a minha respiração que se desordenava ofegantemente, só me restava uma coisa a ser feita que poderia apaziguar a minha mente de alguma forma. E não, isso não consistia em ir correndo até o garoto como um filhote abandonado em uma noite chuvosa, ele precisaria de um tempo para entender tudo o que estava acontecendo antes que pudéssemos nos resolver. Eu não tenho mais pressa, o post me preencheu com mais autoconfiança do que eu pensei ser possível. Tudo daria certo e eu poderia viver o meu romance clichê com ele sem mais nenhum problema. Pelo menos era nisso que eu preferia acreditar para que não surtasse com a possibilidade de tudo isso ter sido em vão.

O que eu precisava era da brisa da estrada, do frescor que só a flora de minha cabana poderia presentear-me. Em minhas condições, o frescor mais próximo que eu sentiria seria o ar gélido do necrotério. Eu não estava apto para dar um passo para fora do meu quarto, mas eu precisava sair dali, sair daquele ambiente que me lembrava a todo momento do colapso que eu tive horas atrás. Eu precisava de alguma distração antes que o clima tenso do ambiente fosse capaz de prensar-me contra a parede até que eu fosse esmagado. O mínimo que eu precisava e faria para não bater o carro mais uma vez seria um banho capaz de expulsar toda a energia ruim grudada em minha pele.

***

A água quente que escorreu por longos minutos sobre a minha pele foi capaz de acalmar os meus demônios mais ativos, colocando-os em uma soneca como se fossem bombas-relógio prontos para explodir a qualquer momento. Todo o vapor que se formava dentro do banheiro foi capaz de relaxar-me e afastar o pessimismo que se empenhava em me fazer acreditar que tudo dará errado. Sim, eu ainda estava um completo caco, danificado por dentro e por fora, mas acreditar que tudo dará certo é o melhor remédio que eu poderia ter nesse momento.

-Pai. - Minha voz reverbera pelo hall de entrada enquanto eu descia as escadas.

-Aqui na cozinha. - Ele anuncia, guiando-me pela sua voz que era espalhada pelo corredor da casa.

-Eu preciso ir na farmácia. - Afirmo, inclinando-me sobre a bancada para que pudesse ver o que exigia tanta concentração dele no fogão. Era o seu carbonara maravilhoso que ele sabia fazer como ninguém. A massa saborosa foi a única capaz de atiçar o meu apetite depois de um dia inteiro em greve de fome.

-Eu estou acabando aqui, ai vou com você. - Meu pai constata, ameaçando foder completamente com o meu plano sem que ele pudesse perceber.

-Não precisa, pai. Eu preciso de um tempo sozinho fora de casa. Pensar um pouco. - Franzo as minha sobrancelhas enquanto rejeitava a sua proposta. Imediatamente, meu pai tornou o olhar para mim, como se procurasse alguma feição que revelasse a minha mentira.

Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)Onde histórias criam vida. Descubra agora