Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)

46 - Pretos e Vermelhos

Tyler Hills

As coisas começaram a melhorar, pelo menos em meu psicológico, depois da noite maravilhosa que tive ao lado de Natan. No dia que amanhecemos juntos em minha cama, já pude descer junto a ele para tomarmos café da manhã. No dia seguinte a esse, já retomei os meus hábitos higiênicos ao normal, mas falando muito menos do que de costume. No domingo e na segunda feira, mantive-me isolado em meu quarto, mas voltei a responder todas as mensagens de Natan na pontualidade usual. Na terça-feira, consegui voltar para o convívio com a minha família completamente, passando o dia todo ao lado de minha mãe fazendo as suas coisas favoritas. E hoje, quarta-feira, eu finalmente consigo prometer a mim mesmo que colocarei a minha vida nos eixos. Encararei o colégio e seja lá quem decidir me julgar mais uma vez pelo namoro com Natan ou qualquer outra coisa. Enfrentarei tudo isso de cabeça erguida e, se esses forem os últimos momentos que terei em família com a minha mãe, me esforçarei ao máximo para que sejam os melhores possíveis, aproveitando cada mínimo segundo para que a única palavra que não exista no pior cenário seja arrependimento.

Todo esse entusiasmo não se sustentaria sozinho, e eu sabia que os meios que eu usava para isso não seriam os mais válidos ou mais saudáveis. Algumas pílulas eram tudo o que eu precisava para manter a minha postura confiante. As vezes tudo o que precisamos é de trapacear na vida.

Esse minha confiança de decidir voltar para o colégio não apenas me chocou, como a todos da minha família que se surpreenderam ao me ver descendo as escadas ainda sendo sete e meia da manhã. Depois de um café apetitoso e rejuvenescer as minhas esperanças ao perceber o quão bem minha mãe estava, ela insiste mais uma vez para que eu ficasse em casa e só retornasse na próxima semana, como sempre fazia quando sentia que eu estavam emocionalmente fragilizado, o que se tornou bem recorrendo nos últimos tempos. Não posso negar que a minha vontade seria voltar para a cama e dormir pelo resto da manhã, mas, se eu quisesse que minha vida voltasse aos eixos, essa seria a melhor forma.

***

-Você veio! - Natan se surpreende quando fecha a porta de seu armário, encontrando o meu sorriso singelo e os meus lábios que logo cumprimentaram os seus.

Assim como deixei esse colégio, eu seguia como assunto principal, e ficaria ainda mais se soubessem o que eu estava passando em casa. Um único beijo entre eu e o meu namorado já despertava os mais curiosos e julgadores olhares que me aborreciam cada vez mais. Confesso que já pensei em gritar com todos que nos encaravam, mas isso parou de ser uma possibilidade quando percebi que só atrairia mais e mais atenção. Esse é o preço que pago por morar em um lugar como esse, a mentalidade das pessoas é mais limitada do que tudo. Sei que, enquanto viver aqui, não poderei andar com Natan sem que me enviem para o inferno com a força do olhar, e esse vem sendo um dos maiores motivos para que eu faça as minhas malas e fuja para a Califórnia.

-Eu vim - Recosto a minha cabeça contra o armário ao seu lado - Qual a sua primeira aula?

-Francês. Não sei como vou suportar o quão tosco e esnobe o professor fica quando começa a falar qualquer coisa que seja - Natan gargalha sutilmente, apoiando a cabeça como eu e adentrando bem no fundo da minha alma como costumávamos fazer todas as manhãs quando nos encarávamos no silêncio do chalé.

-Eu tenho literatura, e, com certeza, o professor não tá muito bem comigo depois da última aula.

Eu já esperava por seu olhar fuzilante como o de toda a turma quando eu entrasse por aquela porta. Mas isso não seria nada perto do que eu andava enfrentando, não chegaria aos pés, e muito menos me afetaria depois dos meus lábios encontrarem mais uma vez os de Natan, dessa vez, mais apaixonados e menos casuais como da primeira vez. Admito que já passava a apreciar a ideia de poder estar incomodando algum daqueles babacas do colégio por estar fazendo isso.