48 - Ultimato

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Tyler Hills

O perfume do café da manhã já dominava toda a casa. Na minha memória já apareciam as saborosas tiras de bacon e os ovos perfeitamente preparados. Alguns dias após a minha expulsão do colégio e isso aparentava ser a coisa certa para me revigorar, pelo menos no dia de hoje. E, infelizmente, já estava voltando a ser um hábito me dopar de remédios para que conseguisse deixar o meu quarto, eram essas pequenas cápsulas que reduziam a minha vida em vinte anos que me reerguiam, pelo menos fisicamente, para descer as escadas e encontrar a minha família na mesa de café da manhã com o mesmo sorriso falso de sempre.

-Bom dia, querido! - A minha mãe se anima com a minha presença, manipulando as panelas para que terminasse de servir o meu prato com agilidade.

-Bom dia - Agradeço-a com um sorriso largo por tudo o que ela estava preparando.

-Ótimo, perfeito - Desde que eu fui expulso, meu pai passava muito mais tempo do que de costume em seu telefone, provavelmente encontrando um acordo com o colégio para limpara toda a minha bagunça - O diretor não aceitou a proposta de renovar a biblioteca e nem de pagar aquela festinha que vão dar - Meu pai anuncia, preocupando a minha mãe que já jorrava as maldições mais educadas que encontrava - Mas eu já liguei para os mesmos advogados que resolveram tudo ano passado, vou ligar no colégio mais tarde pra ameaçar com o processo, se não aceitarem, a gente leva pro tribunal e resolve isso - A forma como ele se preocupava com isso parecia tudo menos genuína, uma bela atuação.

As notícias poderiam até serem animadoras para eles, mas, para mim, não passavam de um pesadelo. Eu não tinha a menor noção de como conseguiria algum outro colégio em Asheville, mas, definitivamente, não iria querer colocar os meus pés em um lugar que claramente não sou bem vindo.

-E o que as famílias daqueles garotos acharam da sua proposta? - Minha mãe se junta a nós na mesa.

-Uma delas pediu por mais mil dólares, todas as outras aceitaram então não vão fazer nada.

-Como assim? Vocês não lembram do que eu disse? Eles estavam quase matando o Natan! Eu apenas protegi ele! - Era indignante como o meu pai sempre tentava resolver até mesmo as situações em que eu estava certo, usando da mesma justificativa de que eu passei dos limites e que isso poderia ferrar a reputação de toda a família como se fôssemos a porra da família real.

-Tyler, o que você fez foi passar dos limites, quase matou aquele garoto! Então, acalme o seu orgulho e deixe que eu resolva tudo pra nada der errado pra gente. Se uma dessas famílias resolver mover algum processo contra você, vão prejudicar toda a imagem da nossa família - Dito e feito, o mesmo discurso que ele usava todas as vezes que eu me envolvia em alguma briga no colégio e ultrapassava levemente os limites.

Como de costume, meus olhares alcançaram a minha mãe, esperando que ela me defendesse e dissesse que eu estava certo em tudo aquilo e que, se dependesse dela, não daria um centavo sequer. Isso não aconteceu. Ela sequer parecia estar atenta para o que estávamos conversando. Todo o seu foco era voltado na forma orquestrada em que ela remexia a sua xícara de café, escondendo os seus olhares turvos de nós dois. Minha mãe agia da exata maneira das outras vezes que se preparava para nos anunciar alguma notícia ruim, o que se tornava ainda mais apavorante com tudo o que estávamos sofrendo ultimamente.

-Mãe...

-Tyler, eu e seu pai precisamos conversar com você... - O seu tom sério me deixa ainda mais aflito.

Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)Onde histórias criam vida. Descubra agora