40 - Em fúria

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Tyler Hills

Suor e lágrimas de desespero corriam indistintamente pela minha pele. Eu sentia o frescor que cada gotícula deixava, evaporando logo em seguida com um dos últimos dias ensolarados que teríamos por um bom tempo. As trevas cobririam a cidade em dias e noites chuvosos. Aliviado eu estaria se a única escuridão que eu enfrentaria não passasse de um evento meteorológico sem nenhuma estupidez poética. Esse é o meu destino, e hoje eu enfrentaria o que por muito tempo me amedrontou e me escravizou. A opinião alheia. Ela me destruiria em milhões de pedaços que eu receio jamais encontrarem o seu formato original.

-Tyler. - O clique suave da porta da frente e o ruído preocupado de minha mãe me imobilizaram completamente antes que eu pudesse entrar em meu carro.

-Oi, mãe. - Torno em sua direção, girando a chave do carro em meus dedos.

-Não prefere faltar hoje, filho? Eu posso ligar na universidade é adiantar a nossa visita. - Ela tenta, cruzando os braços em sua frente e lutando contra os seus impulsos de ordenar que eu entrasse em seu carro para que ela seguisse com a crença de que é capaz de me proteger do mundo.

-Eu preciso ir, não quero mais ficar adiando. - Bem, sem nem pestanejar eu aceitaria a sua proposta se isso fosse adiantar de alguma coisa. Mais um dia sem ir ao colégio e as fofocas sobre mim aumentariam ainda mais.

-Qualquer coisa é só fingir que está doente que irei te buscar. - Minha mãe me esmaga mais uma vez com o seu abraço, quase se recusando a me soltar quando tentei após alguns segundos colado ao seu corpo.

Saber do seu amor incondicional por mim tornava as coisas um pouco mais fáceis, porém eu não poderia viver para sempre na barra de sua saia, implorando por sua ajuda a cada segundo que se passasse.

No instante em que eu percebia a minha casa cada vez mais distante do retrovisor, a ansiedade e a angústia se tornavam ainda mais potentes. Eu era capaz de sentir o sangue vibrando violentamente em minhas veias, ao ponto de saltarem para fora. O ar que se atrapalhava para deixar os meus pulmões me deixavam a beira de mais um colapso interno. Eu estou fodidamente assustado.

Eu não me acalmaria tão cedo, e muito menos me sentiria bem. Seguir lamentando por isso seria uma grande perca de tempo, por mais que fosse a única coisa que prendesse a minha atenção no trajeto até o apartamento de Natan. Estava tudo extremamente complicado e sem nenhuma expectativa de melhorar, mas eu não poderia dar-me o luxo de acreditar que eu era o único sofrendo com toda a situação. Eu e ele estamos juntos nessa, estamos afundando em nosso próprio oceano de desespero.

-Desculpa a demora, aquela mulher do 302 insistiu pra eu ajudar ela a subir com as compras enquanto ela procurava as chaves. - O rapaz suspira, adentrando o meu carro euforicamente enquanto lançava a sua mochila no banco de trás.

Natan não parecia destruído como eu. Ele agia como se isso não passasse de um dia normal em sua vida. Eu profundamente invejava esse seu autocontrole de manter a calma no mesmo nível que eu era capaz de me torturar com a sequência de possibilidades catastróficas que nos aguardam no dia de hoje.

-Você está pronto? - Não consigo manter o ânimo que ele expressava, eu sequer me esforçava para fingir um falso sorriso para não o preocupar.

-Não. - O garoto mantém o seu sorriso, curvando as sobrancelhas como quem já aceitou a derrota. - Você está? - Natan pergunta quase que por força do hábito, a resposta estava evidente.

-Nem fodendo. - Desamarro o milésimo nó que se formava em minha garganta apenas nessa manhã, largando algumas lágrimas enquanto imitava o seu conformismo.

Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)Onde histórias criam vida. Descubra agora