3- O Trabalho

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Natan Scott

  A semana passou rapidamente. O mesmo tédio todos os dias era comum, mas o tempo me confirmava como as minhas inseguranças quanto o possível afastamento de Luke eram completamente sem base, isso nunca aconteceria. Ele seguia o mesmo, tudo não passava de mais um dos meus surtos sem o menor sentido.

Tyler faltou o restante da semana, me deixando sem nenhum parceiro para as aulas de química. Não que isso me incomodasse, aliás sem ele por perto eu conseguia dormir por mais da metade da aula sem ser interrompido. Mas, mesmo assim, era esquisita a sua ausência. Nos primeiros dias eu cogitei ir até a sua casa para verificar como ele estava, atravessar o jardim que nos separava não seria tão complicado. Eu hesitei, por mais que tivéssemos passado um momento bom juntos em sua festa, eu seguia com a mesma impressão sobre ele. O jogador babaca e egocêntrico que pensava que tudo girava ao seu redor, e eu não contribuiria com esse clichê. A ideia de visitá-lo foi completamente rejeitada quando percebi que faríamos um trabalho juntos, justamente naquele dia. Iria suprir qualquer "preocupação" minha sobre a sua lesão sem precisar inflar o seu ego.

O relógio do meu celular marcava 4:56 p.m. quando percebi que ele estaria em minha casa dentro de quatro minutos, se não se atrasasse. Diferente de Tyler, eu não me preocupava em manter uma imagem perfeita e inalável, mas as garrafas de bebida espalhadas ao redor do sofá era exposição demais até para mim. Ele não precisava saber que eu convivia com um pai alcoólatra que passava o dia inteiro lançado no sofá da sala quando não estava se embebedando em um bar qualquer. Minha sala de estar odorizava todo o fedor de bebida que ele transpirava. Respirar naquele ambiente era praticamente embriagante. A forma como seu corpo estava jogado sobre o sofá, com a camisa desabotoada deixando o seu peito nu e molhado por uma garrafa que repousava em uma das almofadas, era desastroso.

-Pai - Sacudo o seu braço, desistindo no seu segundo resmungo quando ele se virou de costas para mim - Merda! - Largo o homem embriagado, batendo os meus pés até o meu quarto.

Aquilo não era uma surpresa para mim. Desde a morte da minha mãe, a forma que ele encontrou para superar o luto foi a bebida. O seu chefe achava que seria temporário, no máximo dois meses, mas, quando ele seguiu se atrasando todos os dias para o trabalho, a nossa realidade mudou completamente. A poupança da minha faculdade se transformou na grana que nos sustentava e também ao vício incessante dele.

Aquele dinheiro não duraria para sempre, e não durou. Os papéis lançados na mesa de entrada da minha casa eram claros sobre isso. As minhas horas de trabalho não eram suficientes para manter a casa, muito menos quitar as dívidas dos empréstimos que meu pai fazia em seus momentos de surto. A casa seria hipotecada em dois meses Isso era o que a carta mais antiga dizia. Agora apenas trinta dias me separava do prazo do banco.

***

Eu hesitava em tocar a campainha da mesma forma que evitava qualquer contato com outras crianças no jardim de infância. Algo me travava, e eu precisava de uma dose extraordinária de coragem para fazer algo tão banal.

Antes que eu pudesse finalizar o meu lento e doloroso ritual, passos pesados se aproximavam da porta, seguidos de gritos intensos de uma garota. Eu conhecia aquele timbre de longe, aquele timbre ensurdecedor. Madison gritava maldições indecifráveis no seu caminho até a porta, seguida pelo toque metálico de Tyler que se arrastava atrás dela. Ela abriu a porta violentamente, atravessando por mim sem se importar com a minha presença e batendo os pés até o seu carro.

Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)Onde histórias criam vida. Descubra agora