Consequences - Thomaz (3)

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Thomaz King

-Garrett? Anda, cara, a gente tem que estar na mesa antes dela chegar! - Eu esmurrava a porta do meu irmão, mas ele simplesmente não me respondia.

Qualquer atraso para o jantar, independente de qual fosse o motivo, sempre era punido duramente por nossa avó. Ela não admitia esperar por alguém para que a refeição se iniciasse, e apenas pensar nessa possibilidade já desestabilizava toda a noção de hierarquia que ela estipulava desde o dia em que nascemos. Basicamente, ela está no topo, seguida por meu pai e por Claire, em seguida os netos e, apenas no fim, quem era da família, mas sem ligação de sangue com ela, como a minha mãe e o pai de Tyler. Com a mudança da situação de Mia perante as suas ligações sanguíneas, eu me pegava pensando recorrentemente se a neta favorita seria rebaixada na hierarquia da família ou a minha avó aceitaria alguma mudança na tradição que era preservada por gerações e gerações apenas para proteger Mia.

-É sério, Garrett, eu cheguei hoje, mano. Ela vai me encher a porra do saco se eu não estiver lá na hora! - Eu ficava cada vez mais impaciente e ansioso para que ele saísse do seu quarto, mas nenhum pio era transmitido de lá.

Um minuto sem respostas foi o suficiente para que eu tentasse abrir a sua porta. Obviamente, ela estava trancada. Suspirei, correndo até o meu quarto para que pegasse um cabide qualquer. Assim como Garrett havia me ensinado há anos atrás, deformei o cabide para que conseguisse abrir a sua porta. Aquela foi a minha primeira tentativa, e a alegria por ter dado certo era tremenda.

-Puta merda... - Respirei fundo, caminhando até o garoto que estava adormecido como uma pedra - Acorda, Garrett, pelo amor de Deus - Sacudi o seu braço, gritando alto o suficiente que até a minha avó a metros e metros de distância poderia me escutar.

Instantaneamente, a minha atenção foi voltada para o frasco de remédios atirado ao seu lado na cama. Algumas pílulas estavam despejadas pelo lençol, e eu não precisava do rótulo ou algo do tipo para descobrir que se tratava de antidepressivos. Aquilo foi um baque que eu não esperava naquele momento. Garrett era o grande herói da minha infância e eu poderia contar nos dedos, de uma mão só, as vezes em que ele não estava sorrindo ou animando todos em casa. O seu astral era contagiante e, mesmo com o seu acidente, eu não esperava que isso poderia ser tirado dele. Garrett não perdeu apenas o movimento das pernas naquele dia. Ele perdeu a sua alegria, a sua família e a sua liberdade. Ele perdeu tudo apenas para não manchar a imagem de família perfeita que os meus pais tanto queriam produzir. Um filho cadeirante não condizia com os padrões de perfeição que eles criavam e eu os odiava tremendamente por isso.

-Merda, Garrett... - Murmurei, sentando-me ao meu lado.

Eu não me importava mais com o sermão que levaríamos. A única coisa com que eu me preocupava era o meu irmão.

Algumas lágrimas se formaram no meu rosto, mas logo eram abatidas pelos meus dedos que passavam violentamente por ali. Precisei sacudir Garrett apenas mais uma vez para que os seus olhos se abrissem.

-Que que foi? - Ele perguntou, voltando a fechar os olhos e franzindo a testa.

-A gente tem que jantar, anda, vamos - Levantei-me da sua cama, caminhando até a porta.

Garrett precisou de alguns segundos para processar toda a situação. Ele logo percebeu que eu estava dentro do seu quarto, mesmo que a porta estivesse trancada. Ele também notou o frasco de comprimidos largado ao seu lado. Garrett suspirou, esfregando as mãos pelo rosto enquanto se ajeitava em sua cama.

Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)Onde histórias criam vida. Descubra agora