9- O dia após a tragédia.

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Natan Scott

  A única coisa que eu escutava era o cintilante e perturbador barulho das máquinas do hospital. Inúmeros tubos conectados ao meu corpo, como se fosse uma espécie de robô, a gastura que eu sentia era imensa. Não conseguia movimentar minhas pálpebras, apenas escutava a respiração pesada de Luke ao meio dos vários apitos do eletrocardiograma. Percebia o quão tenso ele estava pelo intenso batucar dos dedos no braço da cadeira. Era incessante. Conseguia sentir os machucados em minha mão, os hematomas em minha perna e uma dor pesada em meu rosto. Aos poucos, consegui abrir os meus olhos, porém tal esforço resultou no aumento da minha frequência cardíaca, alertando Luke em um ímpeto.

  Ele pulou da poltrona onde estava repousado e andou até o meu lado. Os seus olhos estavam vermelhos, bolsas pretas se formavam embaixo deles, o aspecto que me dava era que ele não dormia há dias. Então, um sorriso fraco surge em seu rosto em meio a todo o seu desgaste emocional.

  -Bom dia - Ele diz, forçando um sorriso custoso.

  Tento me ajeitar na cama ao flexionar meus braços machucados, mas ele me impede, colocando sua mão em meu ombro e fazendo uma leve força para trás.

  -Você não pode fazer nenhum esforço, pode romper os pontos. - Ele alerta

  -Que pontos?? - Pergunto assustado, mas sentia uma dor indescritível na mínima palavra que falava.

  -Natan, quando o carro te atingiu você ficou todo fodido - Os seus olhos abatidos assumiram o espaço do agora ausente sorriso. Luke puxou sua poltrona para se sentar ao meu lado - Você quebrou umas três costelas, uma delas perfurou seu pulmão esquerdo. Por pouco os médicos conseguiram te salvar... Então, assim que você chegou aqui no hospital, já te levaram para a sala de cirurgia. Me disseram que a cirurgia era arriscada, talvez você nem saísse vivo. - Ele suspira, ainda abatido com tudo o que me revelava - Mas pelo menos ficou tudo bem. Você só deve precisar de umas sessões de fisioterapia eu acho, não consegui prestar muita atenção no que o médico dizia.

  -Porra... - Suspirei - Tem quanto tempo que tô aqui? - Indago com dificuldade enquanto confortava minha cabeça no travesseiro.

  -Você chegou aqui... era umas três da manhã, eu vim com você. Já são umas onze da noite. Eu passei a madrugada toda contigo, Tyler ficou depois do almoço até as nove, que foi quando eu mandei ele pra casa. Ele foi só tomar um banho e já deve tá vindo. - Ele me informa

  Ao ele tocar no nome de Tyler, algumas memórias da noite passada tornam a aparecer como um turbilhão. O clima estranho com Madison, o beijo deles, as palavras que Luke tinha me dito. Tudo estava voltando. Até mesmo minha discussão com Tyler momentos antes do carro acabar comigo. Olho para Luke ainda um pouco ressentido.

  -Você não se lembra de nada de ontem? - indago-o

  -Só da nossa briga. As coisas horríveis que eu te disse e o som do carro te atropelando. Desci correndo e vi você no chão, achei que tava morto - Ele enxuga as lágrimas com a gola da camisa - Fiquei pensando nisso a madrugada inteira. A última coisa que fizemos foi brigar. Não queria mesmo que tudo acabasse daquele jeito, uma hora eu te digo um monte de merda, na outra você nem vivo tá mais. - Ele tenta conter as lágrimas mas acaba falhando. Eu sabia o quão difícil era pra Luke chorar ou expressar qualquer sentimento que seja.

Ele tenta segurar minha mão levemente, mas hesita ao notar minha careta de dor.

Então, ele me pede - Me perdoa? Eu não queria ter dito nada daquilo. Foi tudo um bando de merda sem pensar, a ideia de viver sem você para ser meu melhor amigo acabou comigo, e foi aí que eu percebi que não quero ter uma vida em que você não esteja nela.

Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)Onde histórias criam vida. Descubra agora