44 - Verdade

58 6 0
                                    

Tyler Hills

Câncer de mama. Câncer de mama. Câncer de mama. A minha mãe estava com a porra de um câncer de mama. O veredito final estava aqui. A minha mãe estava com a porra de um câncer e eu não podia fazer nada sobre isso.

-Não, não! - Berro, vislumbrando o semblante abatido do rapaz - Isso está errado, não, Natan, ela me contaria! - Sigo berrando - Natan, para de mentir! A minha mãe ta bem porra, ela ia me falar! Natan pelo amor de Deus só me diz que é mentira! - Imploro, agarrando os seus ombros - Por favor, diz que é mentira. Natan, diz que é mentira. Natan! Minha mãe está bem, ela tá bem! Minha mãe não tem nada, Natan! - Insisto - Não, não, não.

Eu estava em pânico. Completamente em pânico. O meu estado de choque era tão grande que só despenquei emocionalmente quando o garoto envolveu os braços em meu entorno, afagando as minhas costas. Eu estava incrédulo. Meus olhos se enchiam de lágrimas e minhas mãos se contorciam com toda a energia que penetrava em meu corpo. Minhas pernas não foram resistentes por muito tempo, logo eu despenquei fisicamente, deslizando pelas pernas do rapaz até estar de cara para os seus sapatos. Os meus berros ainda se alastravam pelo apartamento enquanto meus punhos esmurravam insanamente a madeira bruta do piso. Natan não aguentou avistar a cena por muito tempo, juntando-se às minhas lágrimas e ao meu corpo lançado ao chão, acobertando-me com os seus braços amorosos.

Essa dor. A dor que eu senti quando descobri da doença de minha mãe. Ela é cruel. Absurdamente cruel. Ela não é como uma angústia de briga de namoro ou uma decepção por ser reprovado em sua faculdade dos sonhos. Quando acreditamos que estamos sem chão, não é verdade. Nunca é verdade porque temos a nossa mãe ao nosso lado. Não é verdade porque a pessoa que mais nos ama em todo o universo e faria simplesmente de tudo por nós está ao nosso lado. Agora, agora eu realmente sentia o que era estar sem chão. Agora eu sentia aquela vontade absurda de sugar toda a dor que ela sentia, extrair cada mínimo vestígio de sofrimento que poderia machucá-la.

-Me leva no lugar dela, porra! Me mata caralho, me mata! Mas não leva ela, porra! Não leva ela! - Grito no chão da sala de Natan, inclinando o meu olhar para o céu como um protesto para Deus.

Eu daria a minha vida em troca da dela sem pensar duas vezes, até porque, pensar em um mundo onde eu não a teria nunca mais, é um mundo cruel. É um mundo que eu não quero nunca fazer parte. Eu não quero viver em um mundo em que eu perdi a coisa que eu mais amo em minha vida. Escutar que a minha mãe estava com câncer foi de longe a pior coisa que já me aconteceu. Eu estava paralisado, despencando do meu próprio abismo. Dessa vez, nada me salvaria. Natan não me salvaria, meu pai não me salvaria, Mia não me salvaria e muito menos a minha mãe estaria ali para me salvar. Nada nesse mundo iria impedir a minha queda. Nada nesse mundo iria impedir que eu sucumbisse à tristeza, ao medo e ao sofrimento. Eu estava morrendo por dentro, morrendo lentamente com essa notícia que ainda me movia em alguns berros embargados. Eu não seria forte o suficiente para viver sem ela ao meu lado. Eu não seria forte o suficiente para não ter a minha mãe em meu casamento. Eu não seria forte o suficiente para não ter a minha mãe em toda a minha vida, até me despedir dela quando ela atingisse os seus 107 anos e com todos os seus sonhos realizados. Eu não seria forte. Eu não sou forte. Eu não sou nada sem o meu maior alicerce. Eu não sou nada sem o suporte que ela me dá. Eu não sou nada sem a minha mãe. E, por mais que eu tente me convencer que já sou quase um adulto, eu não sou. Eu sou a porra de um garotinho que precisa desesperadamente da mãe. Sou a porra de um garotinho que ainda não aprendeu a andar de bicicleta, eu preciso dela segurando no banco de trás e prometendo não soltar nunca. Eu não estou pronto para que ela solte e minta que ainda está segurando só para não me causar medo. Eu não estou pronto para pedalar para o sol se pondo no horizonte, eu preciso dela me guiando em cada passo que eu der. Eu preciso dela e abriria mão de qualquer coisa para que isso tudo fosse um grande pesadelo.

Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)Onde histórias criam vida. Descubra agora