28 - Tyler conhece Natan

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Natan Scott

Meu coração palpita. Uma. Duas vezes. Para. Palpita. Uma. Duas vezes. Sou apenas eu. Eu e o escuro. Sequer conseguia enxergar um palmo que fosse na minha frente, tudo na mais completa escuridão. Isso me deixava apavorado.

Não. Eu não estou sozinho. Eu sinto a sua respiração. Ele está próximo. Cada vez, mais e mais próximo. Até que não sinto mais sua respiração. Ela é interrompida. Mas ela retorna. E junto à ela, vem o seu toque. O seu indicador encontra o meu queixo. Seu toque é suave, mas persuasivo. Isso, suave e persuasivo. Seu dedo consegue inclinar o meu queixo, levantando a minha visão. Nossos olhos se encontram, e o contato seria catastrófico se nos permitíssemos um pouco mais. Seu dedo permanece em meu queixo, nossos olhos continuam conectados. Tudo parece nos eixos, a escuridão diminui levemente e posso visualizar os seus olhos.

A clareza chega. Mas, ela é limitada. Ela é restrita. Seus olhos são clareados, e eles são como duas esferas castanhas perdidas num oceano sombrio. Elas navegam livremente, os movimentos são precisos e permissivos. Elas têm confiança, elas sabem que, independente do que aconteça, elas nunca se afogarão naquele oceano escuro. Elas sempre estarão seguras. Sempre.

O encontro do seu dedo com meu queixo é finalizado, mas o formigamento que sentia em minha extremidade indica que, um dia, ele esteve presente. Seu toque não estava mais ali, mas a memória de nosso contato será eterna. O mundo está contra a nossa conexãop, e ele vai conseguir que esse encontro acabe tragicamente. Mas, enquanto eu estiver vivo, o roçar de seus dedos em minha pele vai estar eternamente gravado em minha memória. Agora, fazia parte da matéria que compunha minha alma. O seu toque fazia com que eu, eu Natan Scott, fosse Natan Scott. Ele era revelador.

O seu toque segue, e eu não estou mais apavorado. Ele me acalma, me conforta. Eu me sentia completamente seguro e nada poderia mudar isso. Seu dedo desliza, ele cria seu trajeto. Ele percorre meu pescoço, analisando cada mínima parte que o compunha. Tyler consegue me conhecer. Ao aprofundar cada vez mais o seu contato com o meu pescoço, compartilho todos os meus gritos agonizantes por socorro. Eu não estava mais gritando. Eu não gritava desde que senti sua respiração. E ele sabe disso. Tyler sabe dos meus gritos e os conhece. A nossa conexão é tão mágica que ele permite que a dor dos meus gritos seja compartilhada com ele, e ela é compartilhada. Cada mínima vibração é transmitida para Tyler. Ele recebe toda a minha dor, e eu tenho certeza que nunca mais gritarei. Os gritos nunca mais farão parte da minha matéria. Eles não existiam mais, não em mim.

Seu dedo percebe que é hora de partir. Sua tarefa estava concluída ali. Sem perder tempo, Tyler percorre suavemente o caminho até o meu peito. Eu estava nu. Minhas roupas haviam desaparecido, e ele não parecia se importar com isso. Tyler queria conhecer o meu corpo, queria conhecer as minhas cicatrizes, queria conhecer as minhas alegrias e as minhas tristezas. Ele queria me conhecer. Ele queria conhecer o Natan Scott. Mas ele não poderia. O antigo Natan Scott estava morto. O antigo Natan Scott morreu assim que percebeu sua presença. Eu havia mudado com o seu toque, e o mesmo não fazia parte do antigo Natan Scott. Tyler matou o antigo Natan Scott no mesmo momento que criou o novo Natan Scott.

O antigo Natan Scott estava enterrado. Junto com ele, todas mágoas, todas as frustrações, todos os gritos, todos os choros, todos os anseios, todo o desespero, toda a desistência, todo o pessimismo, todo o vazio, toda a tristeza, toda a irritação. O velho Natan havia enterrado tantas coisas com sua partida que era impossível descrevê-las em sua totalidada, mas elas estavam enterradas.

O novo Natan Scott estava vivo. Junto com ele, todos os calafrios, todas as surpresas, todos os sorrisos, todas as risadas, todas as alegrias, todas as calmarias, todas as persistências, todos os otimismos, todo o preenchimento, toda a felicidade, toda a esperança. O novo Natan Scott havia gerado tantas coisas com sua chegada que era impossível descrevê-las em sua totalidade, mas elas estavam vivas.

Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)Onde histórias criam vida. Descubra agora