37 - Assumido

87 5 18
                                    

Natan Scott

O som agudo da chuva lutando contra a minha janela me desperta após alguns segundos apreciando o som relaxante. Se não fosse pela ressaca que destruía cada neurônio de meu cérebro, eu conseguiria ficar horas e horas gozando da chuva e de toda a atmosfera que ela conseguia transformar quando chegava. Mas a ressaca mudava tudo isso. O singelo barulho da tempestade se transformaca em uma orquestra dessincronizada e barulhenta, pronta pra afugentar até mesmo os surdos. Porém, a ressaca física não era a pior coisa que eu teria que lidar, nem de longe. Esse tipo de dor eu conseguiria resolver com uma boa dose de energético e algumas garrafas de água. O que me destruiria seria a ressaca moral, aquela que se expressava nas lacunas do dia anterior que minha memória estava apagada. Nos momentos que pareceram mais um grande salto para as poucas coisas que eu me lembrava. Bem, o ponto principal da noite ainda rugia em minha consciência, questionando se eu havia tomado a decisão correta ou não.

Terminar com Tyler é uma coisa que eu nunca faria sóbrio, e talvez seja por isso que  foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado. Sempre me disseram que a bebida apenas liberta o que está preso em nós, os nossos mais nefastos segredos e nossas grandes vontades. Porém, a dúvida ainda me permeava. Eu deveria terminar com Tyler apenas por ele não se sentir pronto para se assumir? Isso não é uma puta infantilidade?

Eu poderia afirmar com quase certeza total que o universo enviou a chuva para elevar o meu sofrimento. Terminar com Tyler já não era uma das minhas atividades favoritas, mas terminar com o garoto e ter que lidar com a ressaca e a forma como o clima ameno me deixava excessivamente melancólico era uma tortura. Nessa manhã fria e congelante a unica coisa que poderia confortar-me seria passar o resto do dia lançado em minha cama, remoendo o passado perfeito que tivemos e um futuro que eu sonhava que teríamos. Obviamente, deitar com conforto seria um pedido impossível depois de vinte e sete doses de vodka.

O único momento de alívio que tive desde que despertei da grande bagunça na noite passada foi quando senti o capuccino quente sujar os meus lábios com o líquido cremoso. Minha atenção estava travada na grande janela da sala do loft, observando como cada gota escorria pelo vidro assim como as lágrimas desceram pelo rosto de Tyler na noite passada. Talvez essa tenha sido a primeira vez que o vi chorar de verdade, que o vi num estado de vulnerabilidade que não pensei ser possível para ele. Aliás, o garoto sempre aparentava ser forte para tudo o que acontecia. Sempre forte e sempre bem. Isso era o que eu imaginava, e preferia manter a minha teoria estúpida do que ser destruído com a imagem de Tyler aos prantos.

Mais um gole da minha bebida e a vontade de ligar para o garoto e passarmos uma borracha em tudo isso cresce ainda mais. Entretanto, eu não poderia fazer isso, eu queria estar com ele desde que agíssemos como qualquer outro casal pode agir. Eu não poderia mais manter um amor escondido, um amor que se limitasse ao meu apartamento ou lugares extremamente isolados. Por mais que eu entendesse o lado de Tyler em toda a situação, eu não poderia simplesmente desconsiderar o quão afetado isso estava me deixando. Observar na noite passada todas aquelas pessoas sendo livres para fazerem o que quiserem, despertou uma inveja enorme em meu peito. Eu queria ser como elas, amar como elas.

A pior parte de separar-me do garoto também era o fato de eu saber que não seria capaz de me apaixonar por mais ninguém. Provavelmente, eu me jogaria em uma cadeira e esperaria até o dia que ele estivesse pronto para me beijar sem que fosse num mundo que ele criava apenas para nós dois. Porra, mas eu não aguentaria por tanto tempo longe dele, eu tinha a plena consciência de que, se Tyler não fizesse nada, era óbvio que eu iria atrás dele e o daria todo tempo do mundo apenas para que pudesse tê-lo para mim novamente. Fodasse o meu orgulho, eu o escolheria sem dúvida alguma.

Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)Onde histórias criam vida. Descubra agora