32 - Mudanças

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Natan Scott

-Então é aqui que você dorme? - A voz de Tyler percorreu o quarto de Luke assim que a porta fora aberta suavemente.

-Sim, tem um colchão que eu coloco aqui do lado da cama dele - Digo, ainda mascando o chiclete que eu havia conseguido em nossa curta viagem de Uber.

Tyler certamente ainda guardava certo rancor pela guloseima, afinal eu havia pegado a única restante e negado dividir com ele. Era morango, quem seria o louco de aceitar dividir? A regra era simples: quem pega primeiro fica.

-Seus dentes vão cair se continuar com esse chiclete, já tem mais de 20 minutos que você ta mascando isso - Ele me repreende, expressando toda a sua inveja ainda vibrante.

-Você precisa aceitar que perdeu, Ty - Constato, deslizando em direção à cômoda de Luke com um sorriso estampado em meu rosto. Por mais infantil que pudesse ser, eu me sentia triunfante por vencer essa frívola batalha de egos.

Tyler esboçava todo o seu falso descontentamento, lançando-se sobre os lençóis do jogador. O garoto admirava a forma como eu puxava minhas roupas da última gaveta da cômoda, impedindo que a sua careta emburrada evaporasse de sua face. Ele performava perfeitamente como uma criança de 8 anos: os cabelos desarrumados, a barra da camiseta manchada com creme dental que ele sequer havia percebido e os sapatos desamarrados que passariam uma rasteira no crianção em questão de instantes.

-Você vai me ajudar ou vai ficar aí atoa? - Questiono, lançando o meu olhar sobre Tyler que se acomodava na beirada da cama.

-Prefiro a segunda opção - Ele brinca, projetando um sorriso sarcástico para mim.

Toda a sua birra infantilizada apenas me deixava ainda mais contente. A maneira como ele sempre conseguia me deixar bem era louvável. Eu finalmente estava me sentindo bem após anos em um inferno particular sem fim. Tyler havia salvado-me de tudo isso.

-Isso é seu? - Tyler interroga, manuseando um álbum que havia encontrado sobre a escrivaninha de Luke. Os seus olhos admiravam o livro curiosamente, tentados a abri-lo.

-É, algumas fotos minhas de quando eu era mais novo - Aproximei-me de Tyler, respondendo a sua pergunta enquanto nossos braços se roçavam suavemente.

Ele sorriu com a minha resposta, alisando a capa de veludo do álbum. Não demorou para que seu olhar fosse voltado para mim, um sorriso suave se destacava em seu rosto e seu semblante pedia minha permissão para abrir aquele emaranhado de memórias. Aceno positivamente para o garoto, auxiliando nossos passos até a ponta da cama de Luke. Tyler se confortou ao meu lado, grudando as nossas pernas e repousando o grande livro em seu colo. Seus dedos demonstravam toda a sua ansiedade para conhecer uma parte da minha vida, lançando-se sobre a borda do veludo azul para que iniciasse essa viagem nostálgica.

-Essa eu tinha uns 4 meses - Apontei para uma foto de minha mãe me carregando. A paisagem bucólica que compunha o espaço era adorável, tudo combinava muito bem com o sorriso que ela mantinha entre seus cabelos negros.

Tyler sorriu com o registro, analisando cada traço facial de minha mãe. Ele já tinha visto ela algumas vezes, mas a forma como seus olhos percorriam sobre a foto parecia tudo inédito.

-Você se parece com ela - O garoto constata, já alternando o seu olhar para os animais que descansavam na tarde ensolarada.

-É, todos dizem isso - Afirmo, puxando a página para que a próxima foto fosse relevada. Nesse instante, toda a ansiedade de Tyler para conhecer o álbum havia sido transferida para mim. - Isso foi no natal de 2009, passamos na casa do tio Mike, em Boston - Informo.

Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)Onde histórias criam vida. Descubra agora