12- Estávamos fugindo

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Tyler Hills

  A emoção de estar no campo novamente era dominadora. Um sorriso cintilante se negava a sair dos meus lábios um segundo que fosse. As borboletas se chocavam desesperadamente contra meu estômago, a sensação era a mesma de quando pisei nesse gramado pela primeira vez. Era revigorante.

  O jogo começara com o apito ensurdecedor do treinador. Todos se moviam rapidamente, mas Luke era certamente o mais rápido, em questão de segundos atravessava o campo e marcava o ponto. Uma vez. Duas vezes. Três vezes. Ele era imparável. Suas pernas cortavam o vento como navalhas afiadas, tirava tudo e todos que entrassem em seu caminho.

  Mais uma partida iniciada, agora no time contra Luke sabia que as coisas seriam bem diferentes. Assim que consigo grudar a bola em meus braços, acelero o máximo possível o movimento de minhas pernas contra a grama do campo. Precisava marcar pelo menos um ponto, um único ponto. A êxtase de já estar na metade do percurso é interrompida quando ele, em mais uma tentativa de se exibir, joga o seu corpo contra o meu. A forma como vou de encontro ao chão é deplorável. Como se já não bastasse a humilhação de ser arremessado pelo novato, acabo por rolar algumas repetidas vezes antes que finalmente pudesse parar.

  Luke me observava fixamente, como se seu objetivo havia sido alcançado. Seus lábios contraiam formando um singelo sorriso atrás da grade de seu capacete, ele estava feliz com aquilo. Feliz de um modo irritante e presunçoso, como se marcasse ali o seu grande valor no time.

  Aos poucos, alguns colegas se amontoam a minha volta, ainda estava estirado gemendo de dor. Meus murmúrios de dor logo são interrompidos pela grave voz do treinador, ele se aproximava com seu jeito bruto de sempre.

  -Anda, Hills, levanta - O tom imperioso de sua voz não era chocante. Para ele, a única coisa que sempre importou foi a vitória, e isso nunca mudaria.

  Com o amparo de alguns colegas, sou levantado brutamente. Aqueles caras não sabiam o que era delicadeza, puta que pariu. Sentia meus braços urrando de dor, implorando para que largasse o jogo e fosse para casa. Bem, seria a decisão mais sensata a se fazer se eu não fosse tão orgulhoso. Não iria deixar o jogo após aquela afronta de Luke, e disso eu tinha certeza.

  A partida começa com o agudo som do apito cortando as geadas daquela tarde. A agilidade de todos me contagia, fazendo com que acompanhasse a velocidade de seus movimentos. Não demorou muito para que Luke agarrasse a bola em um pulo magnífico. Suas pernas se moviam incessavelmente, desviando de qualquer obstáculo com manobras preciosas, mas não se livraria tão fácil de mim. Ele poderia ser rápido, mas não estava no time há tantos anos quanto eu. Certamente, eu seria capaz de pará-lo, e estava disposto à isso. A cada segundo ele estava mais próximo, estimulando que eu corresse em sua direção. A raiva em seu olhar era nítida a todos, ele não iria parar e muito menos eu. Milésimos antes de nossos corpos se chocarem, agacho em sua frente em uma manobra que aprendera em uma de minhas inúmeras partidas. O choque de suas canelas contra meu corpo é estrondoso, atirando-o para longe. O baque de seu corpo contra o chão era ensurdecedor, sendo logo prosseguido por um rugido de dor que era expelido pelos seus lábios. Ele poderia ser extremamente habilidoso, mas não conhecia um porcento do esporte como eu conhecia.

  Assim como ele, ponho-me à sua frente exatamente com o mesmo sorriso presunçoso que ele usara minutos antes. Como se não bastasse, retiro o capacete para que ficasse extremamente nítido meu contentamento com sua desgraça. A rapidez com que ele se levanta é impressionante, parecia inteiro novamente e invocava maldições em tom quase inaudível. Em um ímpeto, seu punho se choca contra o meu rosto, abatendo-se violentamente contra meu nariz. Imediatamente, o barulho agudo do instrumento do treinador ressoa pelo campo, tornando a atenção de todos para seu bruto caminhar. Ele era um homem de quarenta anos com a altura de um garoto de dezesseis anos, mas conseguia colocar ordem facilmente em um grupo de adolescentes bombados.

Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)Onde histórias criam vida. Descubra agora