43 - Investigando

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Natan Scott

Eu detesto clichês. Detesto frases prontas de livros de autoajuda. Tudo aquilo não passa de um idiota tentando arrancar dinheiro de pessoas dizendo coisas como "Seja você mesmo" ou "Acorde às 5 da manhã e tenha um dia produtivo". Se eu pudesse, queimaria todo e qualquer livro com alguma dessas imbecilidades que só funcionam em musicais românticos da Disney. Não estamos em High School Musical para resolvermos os nossos problemas com a força da amizade e de nossas vozes. Eu poderia passar um dia inteiro criticando essas idiotices, mas eu poderia até mesmo estar sendo hipócrita.

Um dos maiores clichês já ditos na história da humanidade, provavelmente por alguém como Einstein ou Platão: "Só damos valor àquilo quando perdemos". Sim, era um enorme clichê e completamente contraditório que isso não saísse da minha cabeça enquanto eu preparava uma grande fogueira para livros com frases semelhantes. A angústia permeava em minha pele todos os dias quando eu percebia que estava sendo o foco de alguma conversa. Não posso negar que as coisas ficaram um pouco mais fáceis depois de uns dois dias. Os olhares diminuíam assim como os cochichos. Cheguei num ponto que só era o centro das atenções quando estava acompanhado de Tyler. Diferentemente de mim, Tyler era assunto o dia inteiro em qualquer lugar do colégio. Ainda era possível escutar alguns comentários maldosos ou alguns exageros como o de que os pais dele pagavam Madison para fingir um namoro com ele. As imaginações eram férteis e ácidas, piorando ainda mais o que já não estava confortável para nenhum de nós dois.

Uma parte minha sempre desejou ter um pouco de atenção algum dia, que as pessoas soubessem o meu nome e gostassem de mim. Em partes, eu consegui que soubessem quem eu sou, e nunca desejei mais algo do que voltar a ser completamente invisível no colégio. Voltar a ser apenas o garoto que todos olhariam no anuário daqui alguns anos e se perguntariam se realmente estudaram comigo. Eu faria de tudo para ter a minha paz e a minha privacidade de volta, ou então que Tyler e eu pudéssemos agir como qualquer outro casal do colégio. Mãos dadas ou selinhos inocentes pareciam grandes crimes para o resto do colégio.

A única coisa que me animava era como o Baile de Inverno estava próximo, bastavam alguns dias para todos esquecerem completamente de nós e fossem se estressar com vestidos perfeitos e ternos polidos. O que me animou mais ainda foi o som estridente da campainha que ecoava por todo o ambiente, puxando-me até a porta que revelava a silhueta de Tyler escondida por algumas sacolas assim que aberta.

-Caralho, você comprou tudo isso pra hoje a noite? - Surpreendo-me, acompanhando o garoto até a bancada da cozinha onde ele jogava tudo o que havia comprado.

Uma garrafa de vinho e uma variedade enorme de petiscos logo dominaram a mesa e, imediatamente, os meus olhos logo flagraram meu doce favorito em meio a todos aqueles pacotes, deliciando-me com a memória do seu sabor divino.

-Porra, e eu não ganho nem um beijo? - Tyler questiona, vidrando a forma como eu me lambuzava com o chocolate.

-Claro. - Aceito prontamente, avançando os meus lábios até o do garoto, dividindo toda a minha bagunça em sua boca que agora estava manchada com o doce.

Meus dedos atentos não deixaram de perceber os vestígios do chocolate no canto de sua boca, lançando-se em sua direção para que limpasse o garoto e fossem devolvidos para a minha boca.

-Precisamos conversar. - Tyler desliza a mão pelo meu ombro, girando entorno da bancada para que buscasse as taças que após alguns segundos já estavam cheias.

Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)Onde histórias criam vida. Descubra agora