16- Coração Partido

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Natan Scott

Eu pensara que as lágrimas de Tyler eram a pior atitude possível. Eu estava errado. O seu silêncio ensurdecedor dominou o fim de semana, ele evitava qualquer contato que fosse comigo. Felizmente, estávamos voltando para a cidade e poderia ir cada um para o seu canto.

Nunca tinha visto Tyler tão destroçado. O modo como os raios de sol penetravam pelo pára-brisas e incidiam em seu rosto revelava a escuridão em seus olhos. As bolsas negras abaixo aos seus olhos, a vermelhidão do mesmo, tudo indicava que ele não estava bem, e isso acabava comigo.

-Você não vai dizer nada? - Interpelo ao garoto. Era a primeira palavra que trocávamos desde o ocorrido no lago. Estava olhando para frente, mesmo com a claridade cegando-me não conseguiria ficar mantendo contato visual com ele.

-Eu não sei o que dizer, Natan. - Ele é sucinto. Assim como eu, evita qualquer contato visual que fosse. Sua atenção estava completamente voltada para a estrada cercada por altos pinheiros.

-Bem, dizer se sente ou não o mesmo é um bom começo... - Instigo-o. A única coisa que eu desejava era uma resposta. Mesmo que fosse um não. Eu precisava e eu merecia uma resposta decente.

-Eu não sei, tudo bem? Você me confunde pra caralho, e eu ainda não me acostumei com a ideia de não ser hétero. - Ele já estava impaciente novamente. Tyler abre o porta-luvas em minha frente, completamente bruto. Retira o seu óculos e cobre os olhos com o mesmo.

-Então a solução e me evitar? - Agora minha atenção estava voltada para o garoto. Precisava ser imponente, precisava confronta-lo.

-Não. Eu só estou confuso, eu preciso pensar. A gente pode conversar quando chegarmos? Até porque você vai ter que dormir lá em casa ou na casa de Luke... - Ele já olhava para mim. Era um bom avanço considerando que nos evitamos por dias.

-Tudo bem... - Tento esboçar um discreto sorriso para o mesmo, mas não era tão simples assim. Do mesmo jeito que ele me despertava as melhores sensações, ele sabia despertar as piores. Deixava-me desorientado, chateado e melancólico - Na sua casa? Eu nem conheço seus pais, não quero ser folgado. E é melhor que eu fique na casa de Luke também, faz dias que não nos falamos... - Com esse clima entre nós e a incerteza dos sentimentos se Tyler, a última coisa que eu precisava era de me tornar seu colega de quarto.

-Ah... Tudo bem. - Tyler desanima. Ele estava desanimado porque eu não dormiria na casa dele? Em uma hora ele me ignora, na outra lamenta minha ausência? Por que tão complicado?

-Quando vamos conversar então? - Interpelo ansioso. Estava esperançoso, ele tinha que sentir algo. Não era possível que fosse platônico.

-Olha, eu tô confuso. É muita coisa para processar, eu sei que sinto algo. Mas o que? - Percebia suas sobrancelhas confusas. Compadeço-me com sua confusão, afinal eu estivera assim dias atrás.

-Eu entendo... Melhor conversarmos depois. - Repouso a mão levemente em sua perna. A sua resposta aquecera-me o coração, pelo menos não era um não.

Essa conversa consegue fundir o gelo existente entre nós. Seguimos conversando a viagem inteira, mesmo que não fosse sobre as situações estranhas que estávamos vivenciando.

"Bem vindo à Asheville" a placa brilhava sobre nossa cabeça, iluminada pelos postes à sua volta. Imediatamente, o horizonte da pequena cidade ressurge em meio à noite estrelada. Estávamos em casa e eu não sabia se isso era bom ou um pesadelo.

-Chegamos. - Tyler anuncia retirando os óculos de sua face. Admirava o horizonte da cidade, parecia aliviado por enfim chegar em casa.

-Vou ligar para Luke para ver se ele está em casa. - Aviso sacando o celular de meu bolso. Ele deslizava o carro pelas ruas da cidade, um tanto quanto vazias. Afinal, era um domingo à noite.

Toxic Love (Continuação disponivel no perfil)Onde histórias criam vida. Descubra agora