CAPÍTULO XLVII

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Melina segurava e encarava seu quadro de anotações repleto de post-its naquela manhã. Nem o gosto salgado do oceano que ainda estava em sua boa e nem os fios brancos e desgrenhados que caíam sobre seus olhos a impediam de focar na tela branca e magnética à sua frente. Reprisava em sua mente tudo o que podia ter por certeza. A maior delas era: esperar era uma merda

Mais de trinta horas já haviam se passado desde que Joe retornara ao palácio e tudo o que Melina viu acontecer foi: nada. 

Bem, é claro que ele havia conversado com Cibele e também com Calisto, contado tudo o que tinha escutado e entregado todas as gravações. Tudo o que os gêmeos disseram foi: excelente, agora temos motivos plausíveis para abrir uma investigação formal e legal. 

E abriram. O que era ótimo.

Acontece que a princesa não sabia o que deveria esperar, mas esperava mais. Claro, não queria uma guerra civil ou nada do tipo. Mas, sua ambição mínima era uma prisão. Todavia, em termos jurídicos, o único crime que aqueles dois haviam cometido era desacato à autoridade e Cibele não considerava isso um bom motivo para executar alguém. 

Ademais, Calisto tinha dito à ela que seria imprudente da parte deles prendê-los, mesmo que preventivamente. O melhor a se fazer naquele momento era esperar que eles os levassem mais profundo dentro de toda aquela tramoia.

Melina odiava ser imediatista. 

Mas, não se culpava tanto por isso, tinha apenas dezenove anos. Mal da geração.

— Hektor disse que tu ainda não foi tomar café. 

Seus olhos localizaram a silhueta na entrada do quarto. De imediato, soube que ele tinha acabado de acordar. Os cabelos loiros ainda estavam uma confusão, a pele branca de sua bochecha estava vermelha e amassada e ele ainda não tinha se preocupado em procurar algo para vestir além de seu short cinza moletom.

— Não tô com fome — respondeu, desviando o olhar de suas tatuagens, de volta para seu quadro. 

— Se eu trouxer comida, tu vai comer, não vai?

Levantou os olhos outra vez. 

— Vou — admitiu.

Com uma risada seguida de um alto bocejo, ele retirou-se. Voltou poucos minutos depois com dois pratos e dois copos de suco.

— Odeio estereótipos regionais — disse assim que viu a comida — mas juro que mataria por um pão de queijo. 

Ele riu. — Sei de uma receita de pão de queijo caseiro que fica uma delícia — sentou-se junto dela na cama. — Vou fazer pro café da tarde. 

Melina assentiu e pousou o quadro sobre a cama. Olhou para o rapaz ao seu lado, seriamente, e disse:

— Joseph?

— Tu nunca me chama de Joseph.

Fechou os olhos e respirou fundo. — Sai do meu quarto.

Quase engasgando com o pedaço de melancia, perguntou:

— Por que, o que eu fiz?

— É o que você não fez — abriu os olhos e apontou para seu abdômen desnudo. — Quer que eu cumpra minha parte do trato? 

Depois dos segundos que foram necessários para que ele se lembrasse do que ela estava falando, corou levemente e brincou:

— Olha... até que eu não me importaria. 

Como resposta, ela agarrou um dos travesseiros e o acertou com ele.

— Vai vestir uma blusa! — ordenou, apontando para a porta. 

O Legado do Sol • Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora