Tyro acertou quanto ao momento do dia em que chegariam. Atrás deles, o sol se punha deixando um céu alaranjado, caminhando para tons de rosa. A princípio, não conseguia distinguir muito bem o formato de nada, porém, chegando mais perto identificou dois pedaços de terra, um de cada lado do navio. Estavam bem distantes uns dos outros, então ela não conseguia ver nenhum detalhe.— Aqui à nossa direita fica minha querida Mínyma, aquela outra ilha à esquerda é Pólemos — explicou Tyro.
Seu pai ainda chorava, mas estava tentando se recompor, talvez para estar mais apresentável quando descessem do cruzeiro.
Passaram pelas duas ilhas e a embarcação fez uma leve curva, se preparando para contornar a lateral de outro distrito de Anamar que estava à frente. Dessa vez, estavam um pouco mais perto, coisa que possibilitou à Melina enxergar um pouco melhor. Viu um longo pedaço de terra intermináveis vinhedos e Joe explicou que também havia plantações de outros tipos de frutas, mas a principal era a uva. Aquele lugar se chamava Manía.
Finalmente, começaram a realmente se aproximar o suficiente de algum pedaço de terra, se é que é possível chamar assim, para que ela visse as minúcias do lugar. Mas antes mesmo disso, percebeu a primeira coisa: barulho, muito barulho.
— Aqui é a Capital — enfim, falou Nicolao. — É onde a gente mora.
O barulho que ela ouvia se tornou mais claro e ela o identificou como cantoria, instrumentos de corda e conversa paralela. Em seu campo de visão, havia uma explosão de cores tamanha que chegava a deixá-la com um pouco de vertigem.
O navio passava rente à costa e Melina entendeu o que Joe queria dizer quando comparou Anamar com Veneza. Não havia ruas. Absolutamente nenhuma rua. Correu para a lateral do barco para enxergar melhor. Havia uma ou outra construção que pareciam ser pequenos templos e algumas praças, mas, no geral, pôde ver casas de todos os tamanhos e cores, a maioria com dois andares. A princesa reparou, com curiosidade, que em todos os telhados, sem exceções, havia placas de energia solar. E escadas externas, muitas escadas. Algumas casas eram um pouco mais isoladas e maiores, pareciam pertencer à famílias mais abastadas. Outras já eram mais simples, mas não sabia se encaixavam-se na categoria pobreza pois eram todas muito bem cuidadas e caprichadas, apesar de serem singelas. As casas mais comuns eram pregadas umas nas outras de maneira que formavam "ruas'' e iam moldando o mapa do local.
Todas elas possuíam um quintal cimentado. Em algumas, era no meio da casa e ela era construída como um U quadrado ao redor dele, em outras era na lateral. Percebeu que todos haviam saído para os quintais e janelas para ver o navio. Em alguns, haviam pessoas deitadas com suas longas caudas estendidas, recém saídas da água, em outros, pessoas sobre duas pernas ainda segurando seus afazeres interrompidos nas mãos. As mulheres usavam vestidos parecidos com o que Anastasia usava mais cedo, sem mangas e soltos, de diversos modelos. Algumas poucas usam longos e fortemente coloridos, a maioria usava na altura dos joelhos e em cores claras. Alguns homens usavam o mesmo traje de linho que Tyro vestia quando o encontrou, agora ele estava como Joe e Nicolao, outros usavam calças mais apertadas e um ou outro usavam os casacos compridos e bordados. Haviam ainda cabeças despontando da água, próximas às casas. Avistavam a embarcação voltavam para dentro da água, em seguida emergiam de volta trazendo mais alguém. Todos interromperam suas conversas e músicas para olhar o cruzeiro. Felizmente, o navio era alto o suficiente para que ela tivesse uma visão boa deles e eles, pouquíssima dela.
À sua direita, podia ver uma construção bem maior despontando e então voltou para a ponta do navio, junto dos outros.
— E aí? Era o que esperava? — perguntou Joe.
— Não, não mesmo!
— Achou que seria como?
Enquanto se arrumava, Anastasia havia explicado para ela como funcionam muitas coisas em Anamar, de maneira muito mais prática do que Joe, a menina parecia ser uma comunicadora nata. Ela lhe contara um breve resumo da história do local e sobre sua construção, e que, por gratidão, eles adoravam as divindades gregas.
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O Legado do Sol • Livro I
FantasiaHISTÓRIA CONCLUÍDA Escondido do mundo dos homens, o reino de Anamar parece ter saído diretamente de um conto de fadas. No entanto, o lugar passa por uma forte crise moral, religiosa e política que põe a vida da herdeira do trono, Mel, em risco e a...