Melina não respondeu nada. Joe já estava começando a se preocupar com a possibilidade de ela ter entrado de paralisia devido ao choque. Seus olhos fixaram-se na mochila que estava nas suas costas. Não piscava.
Mas, então, ela virou a cabeça para a porta, vendo a barricada que ele havia construído ali, com os sofás, mesas, poltronas e todos os móveis disponíveis que ele tinha visto pela frente. Aquilo deveria ter sido o suficiente para cair sua ficha, pois ela se pôs de pé sobre a cama e correu, saltou no chão e avançou para dentro do closet.
Nos quinze segundos que ela passou lá dentro, ele remoeu amargamente o quanto estava arrependido de tê-la pedido em namoro. Entretanto, jamais diria isso em voz alta, muito menos para ela. Já era tarde demais.
Melina saiu do closet trajando uma bota preta, uma calça da mesma cor. Terminava de colocar a blusa (igualmente escura), revelando a arma em sua cintura. Fez um coque apressado, de qualquer jeito. O semideus, então, pegou a segunda mochila — que estava no chão — e atirou-a para o outro lado da cama.
A princesa encarou a bolsa à sua frente, pegou-a, colocou-a nas costas, descobrindo que estava mais pesada do que imaginava, e perguntou:
— O que tem aqui?
— Armas, munições, documentos falsos, dinheiro e algumas mudas de roupa — chegou perto da garota e estendeu sua mão para ela. — Vamos!
Ela não pegou na mão dele. Ao invés disso, deu um passo para trás.
— Não me diga que está mesmo achando que eu vou fugir?
— Eu não estou achando, a gente vai fugir.
Aproximou seu rosto do dele. — Eu não vou a lugar algum.
Joe nunca esteve tão irritado com a teimosia dela.
— Nós temos ordens para fugir! — gritou porque ela já estava removendo os móveis da porta. — Melina, por tudo que é mais sagrado, me ouve!
Ela virou-se para trás após afastar o último móvel. Chegou a crer que ela seria racional e aceitaria ir para o país mais longe possível. Mas não se surpreendeu quando ela indagou:
— Onde está minha mãe?
Suspirou bem fundo, tentando conter a irritação. Sabia que não conseguiria tirá-la dali de outro jeito que não fosse à base da força. Não queria, jamais, ter que fazer aquilo com ela. Decidiu deixá-la ver apenas um pouco de como estava a situação do lado de fora. Talvez assim ela entendesse a gravidade da situação.
— Na sala do trono.
Melina apenas virou-se novamente de costas e abriu a porta. Teve que correr para alcançá-la e garantir que ela não saísse sozinha. Alcançou-a no corredor, onde ela estava parada encarando a entrada de seus aposentos.
Joe também parou. E foi aí que escutou o som de luta bem na porta.
A garota deu alguns passos para trás, ainda encarando a entrada.
— É a voz dos nossos guardas — disse ela enquanto o som de tridente contra tridente cortava seus ouvidos, junto a bramidos de dor.
— Já conseguiram invadir essa parte do palácio — constatou Joe, alarmado.
— Temos que ir ajudar! — falou a ele com convicção.
Porém, quando deu o primeiro passo, as vozes deles se calaram e o som de luta foi substituído pelo volume das tentativas de arrombar a porta. Sabia que esta era reforçada justamente para evitar esse tipo de situação. No entanto, tinha a impressão de que a determinação de seus inimigos venceria.
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O Legado do Sol • Livro I
FantasyHISTÓRIA CONCLUÍDA Escondido do mundo dos homens, o reino de Anamar parece ter saído diretamente de um conto de fadas. No entanto, o lugar passa por uma forte crise moral, religiosa e política que põe a vida da herdeira do trono, Mel, em risco e a...