CAPÍTULO VIII

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— Se me permite perguntar, a senhora pretende ir sem sapatos? — Anastasia perguntou com muito cuidado, parecia temer uma repreensão.

Melina olhou para os próprios pés e se deu conta de que havia esquecido seu tênis na cabine e que, provavelmente, também estava toda largada, porém, já haviam andado um bom pedaço e ela não fazia a menor ideia de como voltar à sua suite.

— Ai, eu tô toda doida, não tô?

— Não creio que a sua sanidade mental esteja comprometida, Alteza — respondeu a serva.

— Pode ir descalça, se quiser — disse Joe —, ninguém vai se importar.

— Pode pegar as minhas sandálias, minha senhora — disse a menina, prontamente se abaixando para tirar os próprios calçados.

— Não, não precisa disso! — rapidamente disse Melina. — Eu vou assim mesmo, sem problemas.

Na verdade, não gostava nada da ideia de ir almoçar daquele jeito, completamente desleixada. Mas ela também não estava muito a fim de fazer todo aquele trajeto novamente.

— Quer que eu vá buscar? — se prontificou o garoto ao seu lado.

— Decorou o caminho de volta? — perguntou, levemente surpresa.

— Sim, você não?

— Não, uai.

Na cabeça dela, era óbvio que não, só havia feito o percurso uma única vez. Mas ele a olhou como se estranhasse isso e disse:

— Fica aqui, volto em um minuto.

Anastasia lhe entregou a chave da porta e ele se lançou pelo labirinto de corredores afora. Assim que virou a esquina, Melina se virou para a menina e perguntou:

— Meu cabelo tá bagunçado?

— Um pouco, princesa. Deseja que eu ajeite para a senhora? 

— Se você puder me ajudar, seria ótimo.

A serva logo se apressou a arrumar seus cabelos e parecia realmente boa no que estava fazendo, fazendo Melina pensar que talvez não fosse assim tão desnecessário ter alguém para ajudá-la. Rapidamente, desfez sua trança e a substituiu por uma embutida na lateral da cabeça, finalizando com um rabo de cavalo baixo, próximo a orelha, amarrado com seu próprio cabelo. Bem a tempo, Joe voltou com seus sapatos e puderam seguir para o almoço.

Finalmente chegaram a um dos restaurantes pelos quais haviam passado mais cedo. Nele havia um piano de cauda preto em uma área que parecia especificamente para ele, pois ali o chão era de madeira e no restante do salão, um carpete nude. Além de ter refletores apontados para ele, provavelmente para alguém talentoso tocar música chique para pessoas chiques comendo comidas chiques.

Anastasia se despediu educadamente e disse que deveria voltar aos seus preparativos. Melina não entendeu direito que preparativos eram aqueles, mas ignorou.

Tyro e Nicolao estavam sentados em uma das mesas papeando e quando os viram, o senhor de Mínyma se levantou e fez uma reverência, coisa com a qual a garota ainda não estava acostumada.

— Alteza, é uma honra poder desfrutar dessa refeição com a senhorita — disse e puxou uma cadeira para que ela se sentasse. — Espero que tenha tido um bom momento de descanso.

— Tive sim, obrigada — falou, se sentando, e era meia verdade.

Não chamaria aquilo de descanso, mas pelo menos havia conseguido organizar um pouco as ideias.

Na mesa redonda, estava entre seu pai e Joe, e este, por sua vez, se sentou ao lado dela e de Tyro. Haviam taças sobre a mesa e mais talheres do que ela estava acostumada.

O Legado do Sol • Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora