CAPÍTULO VII

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Não era do tipo que chorava, se deixava ser um vítima ou se abalava. Era do tipo que tomava a frente das situações e as resolvia. Agora, no entanto, não havia nada que pudesse fazer. Então, só lhe restava uma opção. Surtar.

Se virou para dentro do barco, se apoiando na balaustrada para não cair. Tentava respirar com calma, mas já estava começando a hiperventilar. Não queria fazer uma cena, mas as lágrimas escorriam contra a sua vontade. Tudo o que queria era se isolar em algum buraco para chorar escondida. Imaginava o que o rapaz não estaria pensando. Com certeza deveria estar achando que ela era um ingrata! Que tipo de pessoa descobre que é uma princesa e acha ruim? Foi de classe média alta à sei-lá-o-que-lionária em um instante, descobriu que tinha uma mãe e toda uma família que a amava, daqui a pouco teria uma cauda bonita como a de seu pai e talvez até mesmo uns poderes legais. Pensou estar sendo julgada mas, ao invés disso, foi abraçada.

Se surpreendeu quando sentiu braços se enrolando ao redor dela e a puxando para perto. Estranhou ainda mais quando percebeu que ela não resistiu nem por um segundo. Parecia natural. Como regar seu antigo canteiro de manhã. Habitual e apaziguante.

— Eu tô com medo — confessou.

Apesar de todas as coisas que pareciam ser boas nessa nova vida, não podia ignorar o fato de que estava jurada de morte. Se sentia com um alvo nas costas.

Não conseguia olhar no rosto dele, estava envergonhada demais por demonstrar fraqueza. Preferiu continuar com a cabeça recostada em seu peito sem fazer contato visual.

— Não vou deixar ninguém te machucar. Juro por todos os deuses — seu tom era reconfortante e passava confiança.

A voz estava muito mais séria do que a que estava usando até agora. Lembrou então de onde a conhecia. Gelou imediatamente e se afastou do seu abraço em silêncio. O garoto pareceu perceber a súbita mudança de comportamento mas, para sua sorte, não fez nenhum comentário a respeito.

— A gente já tá chegando — foi o que disse.

Ergueu os olhos para ver do que ele estava falando e imediatamente percebeu do que se tratava. Não sabia direito o que estava esperando, mas definitivamente não era aquilo. Diante de seus olhos, pôde ver um navio de cruzeiro se aproximando. Era pequeno para o padrão, mas ainda assim era impressionante de se olhar. Somente nesse momento sentiu a ausência do segundo barco, que carregava as malas, concluiu que ele havia passado na frente deles e ela nem viu.

Se recompôs, enxugando as lágrimas, ajeitando a saia e passando os dedos no cabelo para desembaraçar. Estava apavorada, mas jamais se permitiria causar uma má primeira impressão!

— Como eu estou?

— Belíssima, como sempre.

Mesmo que soubesse que era bonita, sentiu que ele falou aquilo só para acalmá-la. Ninguém fica belíssimo com cara de choro.

Conforme o barco em que estavam se aproximava do navio, Melina começa a se questionar como exatamente eles estavam planejando que ela entrasse em uma embarcação no meio do mar e se ela teria que subir por uma escadinha pendurada na lateral como em um filme de ação. Mas suas dúvidas foram sanadas quando pararam ao lado do cruzeiro e ela viu a escada de portaló, uma escada inclinada comum que não exigiria muito esforço dela.

O navio era muito maior visto de perto, mas mesmo lá embaixo, conseguiu identificar seu pai na amurada junto com outra pessoa que ela não reconheceu.

Um rapaz novo, alto e de cabelos ruivos estava no pé da escada e a ajudou a subir. Foi seguida por Joe e quando já estavam seguros nela, o condutor saiu com o barco numa direção completamente aleatória e ela se perguntou para onde iriam com aquilo. Mas não teve muito tempo para criar teorias pois, subindo as escadas, outro homem a esperava. Esse, por sua vez, era muito mais velho e sua pele já o entregava. Era um senhor branco de cabelos e barba grisalhos com uma feição gentil. Aparentava ter em torno de sesenta e cinco anos, mas se seu pai tinha oitenta e dois, não se atreveria a perguntar qual era a real idade dele. Usava um conjunto de linho composto por uma calça marfim larga e uma camisa de manga comprida da mesma cor, porém com uma estampa suave que envolvia a gola V e ia até metade da barriga. O modelo a lembrava de uma camiseta indiana mas os desenhos na estampa não eram mandalas ou nada do tipo. Eram inscrições eram padrões gregos bordados com fios de ouro de maneira bem sutil e sofisticada.

O Legado do Sol • Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora