Melina não imaginou que a parte mais exaustiva de seu dia envolveria uma fita métrica e pedaços de organza e chiffon.
Não que fosse um grande incômodo ter roupas preparadas exclusivamente para ela, mas a presença desesperada do estilista a cansava. O homem fazia questão de lembrá-la a cada cinco minutos de que não contavam com a presença dela para as festas e que desenhar e costurar dois vestidos dignos da realeza em apenas dez dias — além do da coroação — era a tarefa mais difícil que ele já havia aceitado. Não falou com todas as letras, mas também deixou subentendido que não estava nada satisfeito por só terem permitido que ele tirasse as medidas dela sete dias após sua chegada.
Apesar de ele afirmar que azul escuro era a sua cor, não tinha certeza. A situação relativamente fútil se tornava ainda mais estranha quando o costureiro fazia parecer que aquela era a escolha mais importante de sua vida.
Quando, enfim, conseguiu decidir as três cores que usaria nas três ocasiões e qual modelo gostaria de usar, já era quase hora do jantar. Havia perdido um tempo precioso de treino com sua mãe, no entanto, se parasse para pensar sobre isso, surtaria.
Resolveu que o melhor a se fazer seria tomar um banho e tentar relaxar. Não chegaria a lugar algum se tornasse oficial o modo "pilha de nervos".
Solava Smooth Criminal na guitarra, tentando impor ordem aos próprios pensamentos quando ouviu baterem à porta. Sua mãe abriu devagarinho, passando a cabeça para dentro do quarto, com um sorriso.
— Vim jantar com você. Só nós duas.
Interrompeu a música, deixando o instrumento de lado e o desligando da caixa.
— Já está pronto?
— Ainda não — aproximou-se e sentou ao lado dela no sofá e a envolvendo com um dos braços. — Por que parou? Era uma boa música.
— Nunca imaginei que gostasse de Michael Jackson.
— Não sabia que era dele — confessou. — Ainda gosta de cantar? — desconversou.
Riu. — Sim.
— Canta para mim? — pediu, sorrindo com os olhos.
Assentiu, saindo de seu abraço e reconectando o instrumento enquanto sua mãe observava seu quarto com curiosidade.
— Meu pai pediu pra trazerem o resto das nossas coisas que não cabiam no carro — explicou antes que ela perguntasse — e eu também tentei enfeitar um pouco, deixar com a minha cara.
Cibele levantou, caminhando até a parede que, antes lisa, agora estava estampada fotos com de sua adolescência, desde quando obrigou Nicolao a levá-la ao show do One Direction até fotos aleatórias no refeitório da universidade. Tudo misturado com ingressos de concertos, pôsteres de filmes e famosos.
— Não sente falta dos seus amigos? — ela perguntou, virando-se para trás.
— Acho que preciso de pelo menos mais uma semana pra começar a sentir saudades de verdade — brincou.
— Sabe que pode visitá-los, não sabe? Quando tudo isso... passar.
Não quis perguntar quando isso seria, sabia que ninguém poderia ter uma previsão. Talvez o melhor que pudessem esperar não fosse uma resolução, e, sim, que a poeira baixasse o suficiente para lhe dar a mínima sensação de segurança.
— Vou tocar Coldplay — mudou de assunto —, acho que você vai gostar mais do que uma música sobre uma boneca de ressuscitação.
Cibele sorriu, concordando. Voltou ao sofá com sua filha, aproveitando o momento tranquilo juntas.
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O Legado do Sol • Livro I
FantasiaHISTÓRIA CONCLUÍDA Escondido do mundo dos homens, o reino de Anamar parece ter saído diretamente de um conto de fadas. No entanto, o lugar passa por uma forte crise moral, religiosa e política que põe a vida da herdeira do trono, Mel, em risco e a...