Entraram pelas portas do espaço que ficava atrás da sala do trono. Perto de onde havia sido a festa na noite anterior. Todos já estavam ali, assentados em cadeiras acolchoadas de madeira na grande mesa em formato de U. Era vazada no meio, dando a impressão de ser uma grande bancada curvilínea. Do outro lado da sala, em frente às duas pontas da letra, estava uma mesa retangular e um pouco mais alta. Era posta sob uma elevação do piso e possuía três cadeiras vazias, esperando seus ocupantes.
Geralmente, a reunião trimestral era apenas para os senhores de ilhas, mas Joe reparou que Nicolao estava ali. E, se a rainha havia requerido sua presença, Melina seria uma das pautas da assembleia. Notou também que os conselheiros não estavam ali. Imediatamente, sentiu-se mais relaxado. Se aqueles dois não se deram ao trabalho de se deslocar de suas residências, então o mundo não estava acabando.
Viu Dorothea acenar para ele, o convidando para sentar ao seu lado e de Thálles, no lugar vago que havia entre eles. Ela usava um terno verde menta, sua cor oficial, com a parte de cima aberta, revelando um corpete de renda branca. Aquela peça não era nada comum em Anamar, mas ela fazia uso de sua posição para ir ao continente sempre que possível. Adorava andar entre os humanos e usufruir do melhor que eles tinham a oferecer.
Seguiu por uma das laterais, rumo ao seu assento enquanto observava Melina passar por todos do outro lado, parando para cumprimentar seu pai e Agnes, que estava sentada ao lado dele.
Chloe cumprimentou Calisto com um sorriso doce demais e foi retribuída com um leve aceno de cabeça, fazendo Joe pensar sobre o que Anastasia havia dito. Mas, não era tão estranha a demonstração de afeto entre os dois, já que se conheciam desde a infância. O falecido skopós do príncipe, Lucca, era o irmão do meio da senhora de Seliniakós, então eles eram relativamente próximos.
Agatha sentou-se ao lado de sua mãe, Astera de Pólemos. Era uma mulher preta de feições duras e que raramente sorria. Os cabelos crespos estavam presos por um rabo de cavalo, bem apertado e rente ao couro cabeludo, e caindo solto pelas costas. Era o tipo de mulher que se fazia ser obedecida apenas com um olhar.
Calisto assentou-se tranquilamente em uma das cadeiras e sua sobrinha logo se sentou à direita de sua mãe, que se posicionava no centro da mesa. Gostou de ver que a menina passava uma postura confiante e parecia bem disposta. Mesmo que o rapaz ainda estranhasse essa mudança de comportamento dela. Ela parecia sair da defensiva e partir para o ataque e ele não entendia muito bem o que estava a levando a isso.
— Pronto para a guerra? — Ouviu a garota loira sussurrar ao seu lado, assim que se acomodou. — Pelo visto você também veio preparado.
Dorothea cria veementemente em uma estratégia que consistia em: ir bonita para desestabilizar o inimigo.
Nada respondeu. Contentou-se em rir junto de Thálles.
Mas, talvez ela estivesse certa. A noite anterior havia sido de pura paz. Era tradição que as festas fossem o momento para esquecer desavenças políticas e abismos sociais. Por isso os empregados participavam. Por isso ele havia festejado até com Memnon. Mas, ali, a realidade já era outra.
Começaram a tratar de coisas ordinárias e pequenos problemas que surgiam. Demandaram mais tempo prestando contas da distribuição de verbas que cada um fazia (notou que Memnon não disse nada sobre sua recente aquisição de armamento, o que gerou uma troca de olhares confusa entre Joe e Thálles).
Cada ilha tinha uma característica principal e era melhor em alguma coisa. Foram se desenvolvendo com base no deus patrono, então, se alguém adoecesse e quisesse um bom tratamento, iria à Iliakós, mesmo havendo hospitais em todas as ilhas.
Mas a monarca regente queria algo muito mais igualitário. Por exemplo, não queria que Pólemos investisse todo seu dinheiro em seu exército e tivesse uma educação precária. Mesmo que seu patrono fosse Ares. Ilhas como Kelon e Zoe já estavam acostumadas a um maior equilíbrio, já que seus patronos - Zeus e Hera, respectivamente - eram, basicamente, raio e casamento. Não tinham direito em que focar.
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O Legado do Sol • Livro I
FantasyHISTÓRIA CONCLUÍDA Escondido do mundo dos homens, o reino de Anamar parece ter saído diretamente de um conto de fadas. No entanto, o lugar passa por uma forte crise moral, religiosa e política que põe a vida da herdeira do trono, Mel, em risco e a...