CAPÍTULO IX

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Finalizaram a refeição com algo chamado zabaglione e vinho tinto. Tyro e Nicolao se retiraram do restaurante e Joe agarrou a garrafa que estava sobre a mesa, juntamente com sua taça e a dela, e se dirigiu ao piano, coisa que entendeu como um convite para segui-lo. O rapaz se sentou no banco acolchoado do instrumento, serviu duas taças e pôs a garrafa no chão. Ofereceu uma das taças a ela, que aceitou se sentando ao seu lado.

— Eles têm os melhores vinhedos em Anamar, não tem nem comparação — disse saboreando a bebida.

— Não entendo nada de vinho — confessou. — Mas é gostoso.

O garoto riu e pôs a taça vazia em cima do piano e começou a tocar a mesma canção que tocou no violão mais cedo, com algumas diferenças, parecia testar alguma melodia.

— Compôr me ajuda a pensar — explicou antes mesmo que ela perguntasse.

— E no que está pensando? — perguntou e logo em seguida deu um gole em sua taça.

— Em você.

— Por que em mim? — indagou em tom de brincadeira — Me conhece há seis horas e já se apaixonou?

O rapaz deu uma risada alta, daquelas em que se joga a cabeça para trás, e mudou os acordes que tocava para uma harmonia que ela conhecia.

" [...] Me olha como se me odiasse.
Parece a porra de um rottweiler..."

Abriu a boca e franziu as sobrancelhas em uma expressão de surpresa forçada e descontraída. Mas antes que pudesse dizer alguma coisa, o garoto continua a música: "Jogue suas tranças, princesa''. Dedilhando com uma mão e jogando seu rabo de cavalo para trás do ombro. Melina reparou que o timbre da voz dele era realmente muito bonito, mas não se dedicou a pensar nisso.

— Não é isso! Eu não te odeio — retrucou —, eu só não consigo confiar fácil assim nas pessoas.

— Relaxa, eu sei — disse em meio a um sorriso.

Voltou para a melodia que tocava antes e parecia estar travado em certa altura da música.

— Mas vamos combinar que você também é bem suspeito — disse terminando sua taça de vinho.

— Por que eu sou suspeito?

Interrompeu o que quer que fosse que tocava, pegou a garrafa do chão e se serviu oferecendo também à ela, que aceitou.

— Pra tudo quocê fala, dá a impressão de que tá escondendo mais quinze coisas — respondeu enquanto tinha a sua taça preenchida com todo o resto que havia na garrafa.

— Não é que eu tô escondendo — se justificou. — É que são informações demais pra soltar tudo de uma vez.

— Não tô falando disso e você sabe.

— Do mesmo jeito. Não tem como esconder o que você já sabe, o detalhe é que você não lembra.

— Olha, eu entendo que você não queira entrar em detalhes da sua infância ou da sua adolescência e eu respeito seu espaço, mesmo sendo curiosa. Mas por que diabos você não quer falar o que você é?

— E por que tá tão curiosa?

— Porque às vezes eu tenho a impressão de que você vai falar que é um vampiro e sair correndo pelos matos comigo nas costas.

— Não... — disse, rindo. — Eu não brilho no sol.

— Então o que você faz? — perguntou, ansiosa.

— Olha, não é como se a senhorita estivesse em posição de exigir alguma coisa. Tu também tá escondendo coisa de mim.

Melina se lembrou que realmente havia dito que não contaria o real motivo de não confiar nele. Se viu em xeque mate, com seus argumentos quebrados. Virou toda a taça garganta abaixo e decidiu que faria um acordo. Talvez por conta de todo o álcool servido na refeição ou talvez por sua curiosidade ser maior que ela própria, mas disse:

O Legado do Sol • Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora