CAPÍTULO XXXV

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Encostada na parede da varanda da frente de Astera, observava o clima nublar acima dela. Odiava não controlar aquilo. Só lhe restava olhar a água se mover vagarosamente alguns metros à sua frente. Chegava a ser curioso o mar estar tão tranquilo enquanto sua vida estava uma bagunça.

Viu que Joe chegou alguns segundos depois dela, sentou-se na parte em relevo da parede branca e fria e ficou em silêncio por alguns minutos. Talvez, por medo.

— Olha, eu sei que talvez eu não seja a melhor pessoa pra falar de maturidade e respeito — disse, cautelosamente —, mas aquilo não foi legal.

— Você também não surtou ontem? — rebateu Melina.

— Sim, por isso eu disse que não sou a melhor pessoa. A gente tá precisando acalmar os ânimos e amadurecer um pouco.

Ele tinha razão, detestava admitir.

Relaxou os braços, puxou uma boa quantidade de ar e caminhou até ele, se encaixando de costas, no meio de suas pernas. Virou um pouco o pescoço para trás, para encará-lo.

— Quero massagem — pediu, fazendo cara de choro.

Ele riu. — Tudo bem.

Começou a massagear seus ombros com força, fazendo com que o rosto dela se contorcesse em algumas caretas de dor, estava mais tensa do imaginava. Quando conseguiu fechar os olhos e relaxar, sentiu uma presença se aproximando pela direita.

— Atrapalho? — perguntou Calisto.

— Sim — ela respondeu, abrindo os olhos e notando o olhar curioso e confuso que recebeu do massagista. Porém, o ignorou. — Veio me dar esporro?

— Não sou seu pai. Não acho que esse seja o meu papel.

Respirou fundo. — Tudo bem, pode falar, eu aguento.

Joe parou com a massagem para prestar atenção na conversa, mas Melina bateu de leve em sua mãe e disse: — Não, não. Você continua.

— Se quer mesmo a minha opinião — falou o príncipe —, então eu gostaria de dizer que admiro o quanto você consegue ser incisiva e ninguém aqui pretende suprimir esse seu traço de personalidade. Mas, existe uma diferença entre ter fortes convicções e ser... deselegante. — Reparou que ele usou de eufemismo. — Cibele ainda é sua mãe e sua rainha, o mínimo que você deve à ela é respeito. Não levante a voz para ela outra vez!

Pensou por alguns segundos. — Justo.

— E sugiro que peça perdão. Minha irmã é bem fácil de ser magoada.

— Eu vou. Mas, depois. Ainda tô estressada.

Calisto acenou com a cabeça. — Quer ir nadar, não quer?

Sorriu. De fato, queria. Só estava sem graça de pedir. Não era autorizada a nadar sozinha e Joe não poderia acompanhá-la.

— Eu quero! — Saiu do meio das pernas do rapaz, deu-lhe um abraço rápido e apertado, que o fez corar levemente e pulou no mar, desaparecendo na água.

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Quando chegaram à cidade de Kelon naquela tarde, a primeira coisa que Dorothea fez, após prestar as devidas reverências, foi agarrar Melina e Joseph pelo braços, puxá-los para um abraço e sussurrar em seus ouvidos:

— Não tem nada de interessante nesse lugar, o passeio vai ser breve — disse e amaciou mais ainda a voz —, mas me aguardem hoje a noite.

Soltou os dois e deu um sorriso para lá de sugestivo.

O Legado do Sol • Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora