CAPÍTULO LIX

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O impacto da perfuração a fez cambalear dois passos para frente. Instintivamente, levou a mão ao ferimento. Sentiu o líquido quente manchar seus dedos imediatamente. A ponta da lança estava igualmente colorida de vermelho. 

Precisava pensar rápido.

Em um fração de segundo, tentou se lembrar se havia algum órgão vital no local atingido. Calculou se aquilo a mataria. Concluiu que, provavelmente, não, desde que conseguisse arrancar a arma de seu corpo e dar à ele o tempo necessário para se curar. Cogitou empurrar-se para frente. Havia apenas um palmo da lança à vista, seria rápido. Mas sabia que o estrago seria maior se fizesse aquilo. A ponta em formato de flor-de-lis a rasgaria ainda mais por dentro se fizesse o caminho de volta. Não queria perder mais sangue do que o necessário. Decidiu que o melhor a se fazer era puxar o cabo até que ele tivesse atravessado completamente. Porém, precisava fazer aquilo rápido e de surpresa. Não queria que seu agressor começasse um cabo de guerra. 

Xingou-se em silêncio, punindo-se mentalmente por não ter trago uma arma. Tudo se resolveria com muito mais rapidez e eficiência se sua ansiedade por estar ali não tivesse falado mais alto do que o bom senso. Agora, sua melhor chance era tomar posse da arma e enfiá-la na garganta de quem quer que estivesse atrás dela. E era o que faria. 

— A princesinha não achou que invadiria o meu território sem que eu ficasse sabendo, ou achou? — Escutou Memnon ralhar atrás dela.

— Se sua intenção era me matar, gostaria de dizer que sua mira é uma bosta. — Sua prioridade era distraí-lo. 

Virou a cabeça para trás e viu Memnon gargalhar alto, virando a face para cima. Melina aproveitou a oportunidade para dar um passo para trás, em meio à muita dor. Assim, conseguiu espaço o suficiente para envolver as duas mãos no cabo da lâmina que saia de sua barriga.

— Não, você não vai morrer ainda, Alteza — pronunciou o título com deboche. — Tem alguém que quer conversar com você antes de desovar o seu corpo em algum lugar do oceano pacífico. 

Naquele momento, Melina teve certeza de que sua vida já não era importante para eles. Iria morrer. A não ser que escapasse antes. Resolveu deixar a adrenalina controlar suas ações. 

Mais rápida do que jamais fora, agarrou o cabo prateado e o puxou de uma única vez, com toda gota de força que havia nela. Ouviu Memnon exclamar algo inteligível e sentiu sua pele enrugada colar em suas costas. 

Antes que ele tivesse tempo de processar o que havia acontecido, Melina ergueu o cotovelo direito, girou a coluna e o afundou no rosto do governador de Thalássa.  

Aproveitando que o impacto havia o feito cambalear e tropeçar no cadáver — ainda quente — de Nero, terminou de puxar a lança molhada e a empunhou. Ignorou a cachoeira de sangue, que escorria pelo jeans claro, e as manchas vermelhas que se formavam no chão cinza   

Considerou a hipótese de gritar pelos guardas, entretanto, já era óbvio a qual dos dois eles decidiram obedecer. 

Abaixou-se para desviar do punho de Memnon, que vinha em direção ao seu rosto, e aproveitou que estava abaixada para acertar um soco em sua barriga. Dessa vez, ele estava preparado para a luta. Urrou de dor, mas recuperou-se mais rápido do que ela imaginava e chutou sua canela, levando-a ao chão. Só que Melina não se deixaria vencer tão facilmente.

Quando o velho homem veio para cima dela para continuar a espancando, Melina retribuiu o chute, acertando seu peito, fazendo-o se erguer, cambaleante. Rapidamente, ela também se levantou, acertando outro chute alto em seu tórax, levando-o ao chão. Pisou forte em seu joelho e o ouviu quebrar. Saltou em cima dele e apontou a arma para seu pescoço. 

O Legado do Sol • Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora