With All My Love ( PRIMEIRA TEMPORADA)

12

Confesso que estava ansiosa para entrar na cafeteria. Só em olha-la por fora fazia todos os meus instintos gordos se agitarem e gritarem por minhas gordices favoritas.

Eu só não estava mais ansiosa que  Stephanie, que dava saltinhos excitados desde que viu Carina indicar o lugar.

-Está brincando? - eu ouvi minha irmã guinchar animadamente - Vamos assaltar meu lugar favorito?

Carina se voltou para olha-la com admiração. Creio que não esperava que minha família conhecesse seu negócio.

Como se alguém não conhecesse o melhor lugar do mundo, vulgo Cookies n Coffee.

Você também pode chamar de Paraíso, dá no mesmo.

Aliás, esse deveria ter sido o nome da Cookies n Coffee.

Paraíso.

Soa perfeito.

-Não vamos assaltar se eu tenho a chave - explicou, agitando as chaves em sua mão junto as compras.

Mais uma vez dizia a verdade sem dizer tudo. Eu queria ter esse dom. Ela sequer hesitava.

Mas até onde eu tinha conhecimento ela gostava de passar despercebido. Então deve praticar muito a arte de dizer verdades curtas.

Ao menos foi o que vi quando Amélia  a entregou para Andy e ela foi tomada de aborrecimento.

Mamãe observava em silêncio, mas eu sabia que estava tentando montar um quebra cabeças de toda a situação.

Provavelmente pensava que eu estava me envolvendo com uma criminosa.

-Você tem a chave do paraíso? - Stephanie perguntou quase aos gritos, animada - Oh, meu Deus, Maya , por que não me apresentou sua amiga antes?

Revirei os olhos e observei Carina  abrir a porta.

- Fiquem a vontade - ela disse e olhou para mim, parecendo nervosa - eu vou até o depósito, precisa de algo além do leite condensado?

Carina  mordia o lábio, seu olhar intenso estava focado em meus olhos.

Descobri naquele momento que ela podia me deixar tão nervosa quanto eu a deixava.

-Nozes - disse, minha voz saindo mais fina que o usual.

Carina assentiu e olhou sugestivamente para baixo e me toquei que deveria solta-la para que fosse e foi o que fiz, me voltando para minha mãe e minha irmã, que estavam sentadas nas cadeiras altas em frente ao balcão de atendimento com expressões idênticas.

Já até sabia o que iriam me perguntar.

Carina passou pela porta da cozinha e então....

Três.

Dois.

Um.

- Você está tendo alguma coisa com essa menina? - mamãe questionou e tive que revirar os olhos.

Claro mamãe, inclusive estou grávida de um bebê dela.

Espere, essa última parte é assustadoramente real.

-Não temos nada, Carina é minha amiga. Nos conhecemos na Cookies perto de casa - expliquei.

-Por que vocês estavam grudadas então? - Stephanie perguntou - achei que iam se beijar a qualquer momento.

-Essa menina tem quantos anos?

-Está afim dela?

-O que ela estava fazendo em Nova Iorque?

-Por que ela tem a chave da Cookies?

-Não estamos fazendo nada ilegal, não é, Maya Bishop?

-Case com ela, pelo amor de tudo o que é sagrado. Ela tem as chaves do paraíso, Maya!

- No que você está se metendo, Maya?

-Vocês estão se pegando?

-A família dela sabe que ela está aqui?

-Vocês já transaram?

-Maya - ouvi minha salvadora me livrar do interrogatório.

Lancei um olhar para mamãe avisando que sairia e segui por onde a tinha visto entrar.

Finalmente respirei.

-Carina ? - a chamei, completamente perdida naquele mundo prateado e branco que era a cozinha.

-Aqui atrás - me chamou e segui o som de sua voz, entrando por uma portinha ao fim da cozinha.

Era um lugar grande e muito bem organizado, prateleiras de madeira envernizada com itens muito bem empilhados e ar limpo.

Olhei a redor e a localizei no canto, contemplando uma prateleira.

-Me dei conta de que não sei o quanto precisa - disse quando me aproximei, se virando brevemente em minha direção e oferecendo um sorriso tímido.

Olhei para a prateleira a sua frente e peguei uma embalagem média que serviria para todas as caixinhas que pretendia comprar.

-Essa está ótima.

Ela sorriu e me indicou a fileira ao lado.

-Nozes - explicou e segui para lá.

-Você é muito bem organizada - comentei e ouvi seu riso baixo.

- Preciso manter as coisas em ordem. Isso aqui vira uma correria quando está aberto, não podemos perder tempo procurando ingredientes. Só não mantenho frutas aqui, gosto de usa-las frescas. Esse é um dos principais pontos para eu vistoriar, se deixar a preguiça vence e eles passam a manter frutas em estoque. A ordem é para que as comprem toda manhã.

-Sua dedicação é admirável. Por isso não há lugar melhor que a Cookies.

Carina  corou, mas me deu um sorriso animado.

-Encontrar pessoas como você e sua irmã fazem tudo valer ainda mais, sabe... Gosto que não saibam quem eu sou porque aí sei que estão falando a verdade. Me passo por cliente e de longe posso ouvir e observar suas opiniões enquanto comem e bebem. A maioria das vezes só fico na cozinha, claro.

-Ainda preciso provar as coisas feitas por suas próprias mãos.

Ela encolheu os ombros.

-Qualquer dia desses eu faço para você - prometeu.

Ri baixo.

Ela parecia uma menininha.

-Você é um anjo. Tenho que ir agora. Obrigada, Carina.

-Está tudo bem. Feliz Natal, Maya - olhou de mim para minha barriga de jeito nervoso e eu sabia o que ela queria fazer.

-Não vai desejar Feliz Natal para seu bebê? - perguntei como se não tivesse notado nada e contemplei seu sorriso gigantesco.

Carina se curvou até estar a uma altura próxima a de minha barriga, encostou uma mão de forma muito leve e cuidadosa e sussurrou:

-Feliz Natal, neném. Eu já te amo com todo meu amor.

Desejei que ele se mexesse para responde-la, mas sabia que ainda era muito cedo, então sorrimos uma para a outra quando Carina voltou a sua postura e me afastei.

-Feliz Natal, Carina - disse me virando para a saída, mas não resisti e me voltei novamente para Carina , acenando de um jeito bobo e afinando a voz - Feliz Natal, mamãe!

Ela riu e eu ri junto. Ainda tinha um sorriso no rosto quando saí pela porta com mamãe e Stephanie . Nenhuma das duas me perguntou mais nada, mas eu sabia que era só questão de tempo.

Elas cairiam matando em cima de mim.