32

1.4K 152 4
                                    





Não é que as coisas entre Amélia Shepherd e eu tenham se resolvido perfeitamente, mas a gente se aturava e eu consegui impedir Victoria  de ir atrás dela e dar uma cabeçada em seus joelhos - e depois que Carina  voltou, duas semanas e meia depois, ficou muito mais fácil.

Amelia estava certa, parecia que nada havia acontecido e me senti um lixo por isso.

Carina ficava saltitando e tagarelando completamente empolgada sobre tudo como sempre e a única coisa que parecia incomodá-la era ter perdido um tanto considerável do acompanhamento do crescimento de minha barriga.

Sério, a velocidade a qual ela crescia era assustadora. A cada dia eu sentia que estava o dobro do meu tamanho e tinha que ouvir Vic  rir dizendo que eu estava exagerando até que eu dissesse que minha barriga estava maior que ela, então era minha vez de rir de sua cara emburrada.

E Carina DeLuca  parecia cheia de planos assustadores para nós duas. Se eu não soubesse que estávamos resolvidas não estranharia ela chegar com flores e um anel me pedindo em casamento.

A menina é louca.

Toda linda.

Então estávamos no Central Park como uma família feliz esperando a chegada do primeiro filho.

Eu a observava pelo canto do olho, estava linda e o céu refletia em seus olhos. Parecia uma menina em seu short jeans e blusa que deixava a barriga a mostra, seu cabelo estava preso em um coque e seu rosto corado pelo calor. Estava apoiada nos braços e parecia absorver cada partícula de calor que o sol proporcionava.

Linda.

E eu era fodidamente apaixonada por isso.

Suspirei, fechando os olhos por um momento enquanto sentia a brisa brincar com meus cabelos e esvoaçar de leve meu vestido amarelo.

-Eu vim aqui apenas uma vez - ouvi Carina  dizer em sua voz baixa - quando eu abri a filial de Nova Iorque e dei uma volta, conhecendo o lugar.

-Não gostou? - perguntei, curiosa por sua história.

-Na verdade, só estive ocupada demais e não voltei a pensar nesse lugar como possibilidades - me contou e virei o rosto para olha-la - quando vim me imaginei voltando com uma família e seria uma dessas pessoas rindo e se divertindo... eu nunca quis me envolver com ninguém, você sabe, mas uma família estava nos meus planos.

-Estou curiosa quanto uma coisa - murmurei - você nunca antes se apaixonou?

Carina  deixou escapar um único som de riso e um sorriso de canto permaneceu em seus lábios.

-Me apaixonei algumas vezes, mas não a ponto de querer contato físico - contou - nada que rompesse meu nojo. Eu estava esperando que algo crescesse dentro de mim e mudasse, pensei que talvez fosse criança demais para sentir essas coisas de adultos.

-Que estranho - deixei escapar com uma careta e Carina  riu.

-Eu sei.

-Você é estranha, Carina  - arrisquei permitir que minha boca soltasse as palavras novamente e Lauren voltou a rir - Não é necessariamente ruim, você sabe...

Ela assentiu e colheu uma lágrima de riso que escorreu por sua bochecha.

-Eu sei - disse - no fim eu apenas me conformei que isso não precisava mudar para que eu crescesse. Me conformei em ser estranha.

Sorri, olhando ao redor todas aquelas pessoas curtindo o dia. Haviam namorados em bancos ou encostados em árvores, crianças brincando, famílias rindo, cachorros correndo.

E me senti incomodada o bastante para deitar sobre a toalha xadrez super clichê, pousar as mãos sobre a barriga e olhar o céu claro.

-Está sentindo algo? - ouvi Carina  perguntar, havia preocupação em sua voz, mas eu neguei com a cabeça.

No fundo tinha medo de Carina  ter me levado ali para tentar mudar o que havia em minha mente. Parecia perfeito demais ela me respeitar tanto assim e se conformar tão fácil.

A observei e seu rosto continha certa paz, como se fosse parte da natureza e finalmente estivesse recebendo a luz que precisava.

Ela também estava reflexiva, mas não parecia diferente da menina que conheci.

-Você é sempre tão ocupada a ponto de não ir a parques? - perguntei antes mesmo de receber a curiosidade em meu cérebro.

Carina  negou com a cabeça.

-Tenho uma equipe para me ajudar a não ter que viajar tanto, caso contrário não pararia nunca - disse - É uma coisa nova esse monte de contratos para assinar e lugares para visitar. Devo parar em breve e aí vou morar em algum lugar com um parque onde eu possa ir e...

Não terminou a frase, apenas suspirou.

-Sou uma menina da natureza - ela murmurou e corou pela confissão.

Não entendi o motivo.

-Eu sei - disse - dá para ver em seus olhos.

Carina olhou para mim, pedia uma explicação em seu cenho franzido.

-Seus olhos são um mundo todinho, Carina - deixei novamente as palavras escaparem - um mundo selvagem e inocente. Eu sei que parece contraditório, mas é mais como se... como se fosse um lugar inexplorado entende? Selvagem e inocente...

Ela não falou nada por um tempo, parecendo absorver minhas palavras, o que era bom porque eu mesma precisava fazer isso.

Nunca havia me dado conta quanto essa minha visão sobre Carina . Nunca me permiti identifica-la.

A verdade é que Carina  era mesmo isso. Um outro mundo...

-Planeta Olhos Castanhos  - completei o pensamento em voz alta e nossos olhos se encontraram causando um riso involuntário.

-Você é boba, Maya  - ela disse, ainda com um sorriso enorme no rosto.

-Você é absurdamente adorável - não pude me impedir de dizer e Carina corou, deitando a meu lado com a cabeça em meu ombro, o que me fez automaticamente envolvê-la e sentir sua respiração em meu pescoço.

-O lanche estava bom? - a boba perguntou em um sussurro que arrepiou até os pelos que ainda não nasceram.

Os pensamentos voaram por minha cabeça e por um minuto ou dois não entendi o que ela havia perguntado até me dar conta que era sobre comida.

Virei meu rosto para encará-la. Ela só podia estar brincando, não tinha nada que ela fizesse que não fosse gostoso.

Oh, porra...

-Estava tão bom que eu quero mais - disse e Carina riu, abraçando a barriga e flexionando as pernas unidas.

Tão adorável!

-Me dê cinco minutos e vamos em sua casa e te faço alguns sanduíches, aproveito e vejo o que tem em sua geladeira - sugeriu e provavelmente meus olhos brilharam com a oferta.

Eu era uma morta de fome.

-Você é um anjo! - suspirei a observando abrir um de seus sorrisos encantadores.

-Você que é, Maya  - murmurou e o silêncio caiu sobre nós quando não consegui fazer mais nada além de observar seus olhos refletindo o céu.

With All My Love ( PRIMEIRA TEMPORADA) Onde histórias criam vida. Descubra agora