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Sim, Carina comeu a torta de framboesa, os biscoitos de gengibre, os cookies, a torta de banana, tomou o chocolate quente cremoso e o café com creme.

Ela definitivamente roubou meu posto de buraco negro e lembre que a grávida sou eu.

Andy voltou da cozinha com a fatia de Vic devidamente embalada e olhou de mim para Carina em constrangimento.

-Você realmente tem a mão certa para esses doces - Carina comentou, apontando para o prato vazio de torta.

Do jeito que falava até parecia que ela, a dona das receitas, nunca havia comido algo do tipo.

Carina  ergueu os olhos para Andy e sorriu, a fazendo soltar um sorriso contido de satisfação.

-Obrigada.

-Estou em um hotel um pouco distante enquanto não consigo um apartamento por aqui, mas assim que estiver instalada virei para cá ajudar na cozinha, tudo bem? Não gosto de ficar parada.

Andy riu de nervoso.

-A senhorita é a chefe - murmurou.

Eu ri do jeito desconcertado das duas, mas foi um riso mudo, juro.

-É verdade, eu sou... - Carina  murmurou antes de limpar a garganta e ajeitar a postura - bom, quando eu voltar quero que me ensine como fez o creme de avelã. Está melhor que o meu.

Se levantou como se não tivesse dito nada demais, mas tenho certeza que se Andy estivesse com alguma coisa nas mãos, teria deixado cair depois desse elogio.

-Vamos? - Carina me perguntou.

-Sim - me levantei, segurando a torta de Vic.

-Antes de ir, me dê um pedaço de bolo de Nutella com licor de maçã para levar, por favor - a garota pediu, me fazendo encara-la enquanto me perguntava como ela conseguia comer tanto

Troquei um olhar com Andy antes que ela se virasse para arrumar o pedido de Carina , que parecia ainda não ter feito nada demais.

Assim que Andy  lhe entregou a embalagem, ela sorriu satisfeita e se preparou para sair.

-Anote o prejuízo que estou dando em meu próprio negócio e passe para Amelia, por favor - pediu - e a avise que já fui embora com Maya e devo chegar tarde no hotel. Não a deixe comer os bombons de conhaque, ela é viciada naquilo.

-Tudo bem - Andy falou, completamente sem jeito.

Trocamos um olhar enquanto eu me apressava para acompanhar Maya, surpresa com sua postura profissional.

-Não devia deixa-la sozinha na cozinha, só para constar - ela avisou - Amélia Shepherd é um monstro.

Saímos da cafeteria e Carina me olhou divertida.

-Ela só não é pior que eu - acrescentou - espero que goste de pizza, porque vou pedir para o nosso jantar mais tarde.

A encarei. Como ela conseguia pensar em comida depois de ter comido tanto e ainda estar carregando comida?

-O que? - Carina perguntou com um olhar entre o inocente e o divertido.

-Você é pior que eu quando se trata de comida - comentei, a ouvindo rir.

-Como você acha que consegui essa pancinha? - perguntou - vamos lá, eu não sei onde você mora.

Franzi o cenho antes de compreender o que ela estava dizendo e só então caminhei na direção do prédio da esquina que era propriedade da universidade onde estudava e onde eu dividia um quarto com Victoria.

Atravessamos a pista e ela riu quando entramos no prédio.

-Isso explica o motivo de frequentar tanto a Cookies - ela disse enquanto esperávamos o elevador - não faz esforço algum para chegar até ela. Isso facilita muito.

-Com certeza - assenti e a percebi estudando meu rosto.

Estava tão na cara assim que eu estava verde de tontura com as informações novas?

-Você não me parece bem - ela disse, deixando claro que estava mesmo muito óbvio meu mal estar - Se quiser eu te acompanho até seu quarto e vou embora. Não precisamos fazer tudo hoje.

Neguei com a cabeça enquanto apertava o número oito e a porta se fechava.

-Se Vic souber de você e não a conhecer hoje ela me mata - disse - só estou um pouco cansada com esse dia intenso.

-Hmm, entendo - ela murmurou e se manteve em silêncio enquanto chegávamos ao oitocentos e doze, passando por algumas garotas animadas que ocupavam o oitocentos e quatro.

Abri a porta e ela entrou a frente, ainda em silêncio enquanto olhava ao redor.

Era um lugar pequeno para se considerar uma casa, mas tinha um espaço com um microondas e um mini fogão e uma mini geladeira, um sofá de frente para a televisão e uma área de serviço pequena logo a frente com uma máquina de lavar e varais.

Seguindo para o outro lado tinha um corredor com o quarto de Vic, o banheiro e o meu quarto. Nossos quartos só tinham espaço para uma cama, um guarda roupas pequeno e uma mini mesinha onde empilhavamos os livros. Deixavamos os sapatos embaixo da cama para não causar acidentes.

Apesar de tudo ser extremamente pequeno, era meu espaço e eu o amava. Também era mais fácil para limpar, o que facilitava o amor.

Deixei o pedaço de torta na geladeira e peguei o bolo de Carina para guardar atrás do suco de laranja para prevenir que
Vic o visse e comesse quando chegasse.

Fui para meu quarto com ela atrás de mim com um olhar ansioso e observei quando avaliou o estado da minha bagunça antes de sentar em minha cama e me encarar como se esperasse o próximo passo.

-Você não parece cansada - comentei, ainda a encarando próxima a porta.

Carina negou com a cabeça.

-Muito açúcar no sangue - explicou - Eu costumo comer muito quando visito uma de minhas filiais. Gosto de provar tudo.

-Isso explica...

-Você devia se deitar e descansar um pouco.

Encolhi os ombros.

-Estou ansiosa - admiti - Você me deixa um pouco nervosa.

Carina se encolheu e encarou o chão, mantendo o silêncio por algum tempo.

-Desculpe - pediu - as pessoas me dizem que sou intimidante, mas eu acabo me empolgando com as coisas e esquecendo disso.

Suspirei. Ela era só uma menina.

Uma menina muito madura, tenho que admitir, mas ainda assim uma menina que sequer tinha idade legal para beber.

-Você é uma pessoa interessante e por isso estou nervosa - expliquei me sentando a seu lado e encarando o chão a frente.

Tínhamos posturas semelhantes. Ombros erguidos pelos braços sustentando o corpo, mãos apertando a beirada do colchão, corpo escolhido e olhos no chão.

O silêncio caía sobre nós como uma luva enquanto digeriamos os acontecimentos do dia, cada uma a seu ritmo.

Eu ia ter um bebê e ela ia ser mãe. Aquilo parecia tão errado quanto certo e pela primeira vez cheguei perto de me sentir mal pelo que estava fazendo.

Acredito que tenha sido pelo meu sangue esfriando e meu cérebro voltando a funcionar.

Eu estava sendo egoísta, mas não conseguia sentir que nada fosse melhor que aquilo.

O que mais me assustava era o fato de não odiar o bebê. Eu o amava apesar de tudo.

Pela primeira vez eu senti medo de arruinar tudo para mim e para aquela menina.

Pela primeira vez me perguntei se seria capaz de desistir do que faria.

With All My Love ( PRIMEIRA TEMPORADA) Onde histórias criam vida. Descubra agora