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Eu morreria sem saber que no prédio do apartamento de Carina  tem piscina, mas morreria de calor mesmo.

Veja bem, era junho, eu estava com 34 semanas e em pouco tempo colocaria um novo ser humano no mundo.

Você tem noção que uma gestação humana leva cerca de 40 semanas? E mesmo assim, chegando na semana 37 já está muito bom.

Isso é terrivelmente perto.

Eu estava enorme, provavelmente morreria se mamãe não tivesse aparecido para me ajudar e dito que a causa de eu estar me sentindo tão mal ao estar deitada era justamente o peso da coisinha quando eu estava de barriga para cima e, portanto, se eu virasse de lado poderia até dormir mais que algumas horinhas.

Preciso confessar que às vezes me sentia deprimida, não apenas por me sentir uma baleia encalhada ao nem conseguir me mexer, ou por estar com medo por estar perto de parir, mas sim porque tudo isso significava que Carina estava perto de sair de minha vida.

Não contei para mamãe o motivo de estarmos tão próximas, mas eu tinha certeza que ela sabia e não comentava tanto para não me fazer chorar, quanto para ver até onde isso ia e por respeitar minhas escolhas.

E agora que havia feito a última prova do semestre, já tinha declarado férias, o que significava sol, calor, praia... não, praia não. Aí sim eu me sentiria uma baleia encalhada.

-Mama, por favor! - implorei pela milésima quarta vez enquanto via minha mãe andar de um lado a outro arrumando as roupas em meu quarto de um jeito que ela julgava ser estratégico.

-Maya , não! - ela se manteve firme - Você disse que não está se sentindo bem e quer ir pra piscina?

-Não me sinto bem por causa do calor - contestei - por favor, mama, as meninas tomam conta de mim.

Mamãe se virou, cruzou os braços e ergueu a sobrancelha.

-Aquela garotinha está aqui por causa do bebê, não está? - mamãe perguntou - ela vai levar a criança, não é? Qual a relação dela com tudo isso? O que está acontecendo entre vocês duas?

Como eu reagi? Fiquei lá paralisada mesmo.

Eu estava viva?

Eu estava respirando?

-Respira, Maya ! - mamãe deu um grito que me fez saltar de susto.

-Eu.. nós.. - gaguejei diante de seu olhar detector de mentiras - ela vai levar o bebê. Está cuidando de mim e... talvez a gente meio que se goste, mas cortamos as... coisas...

Dona Kathie  me encarou pelo que pareceu uma eternidade, apertando os lábios fechados em uma linha reta antes de se dar por satisfeita.

-Muito bem, vá - disse, voltando a mexer em minhas roupas.

Eu teria saltado se conseguisse, mas me limitei a pegar o celular e ligar para Carina, que por incrível que pareça não me atendeu nem na primeira, nem na segunda chamada.

Será que ela estava com alguém?

Ela não podia fazer isso agora, ia ter uma filha pra criar em breve e não podia ter tempo para essas coisas.

Respirei fundo quando finalmente ouvi sua voz ofegante.

Por que ela está ofegante?

Senti minha pressão cair por algum motivo que eu meio que sabia qual era, mas deveria parar ali mesmo.

-Maya? Está tudo bem? - ela perguntou.

-Não. Por quê? Está ocupada? - perguntei, mais seca do que pretendia.

With All My Love ( PRIMEIRA TEMPORADA) Onde histórias criam vida. Descubra agora