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Acordei nos braços de Carina.

Eu só conseguia imaginar o quanto estava cansada. Haviam olheiras leves abaixo de seus olhos e seus lábios formavam um biquinho engraçado que sugeria que Carina  era uma criança que havia sido obrigada a dormir depois de uma birra.

Sua camisa estava repuxada para cima pela mão que agarrava a borda e um pedaço de sua barriga branca estava a mostra entre o tecido repuxado e o short azul bebê de algodão.

As covinhas em sua barriga eram particularmente atraente, mas claro, tudo em  Carina era atraente.

Suspiro.

Por um segundo não consigo me sentir culpada por te-la atacado de novo, mas quando lembro de seu olhar sério sobre mim no exato momento em que afastou minha mão, sou mergulhada na gravidade do que acontecia entre nós.

Oh, Carina ...

Me desvio de seus braços me lembrando de lamentar sua partida e sinto minha garganta se fechar com a vontade de chorar enquanto levantava da cama e a via se encolher de lado para cobrir a ausência do calor de meu corpo.

E talvez tenha sido isso o que me deu um estalo maior.

Ver Carina DeLuca se encolhendo como um bebê porque eu a tinha deixado.

Bebê... eu não sabia o que sentir diante dessa palavras.

Assim, digamos que eu nunca tivesse transado com um idiota, então eu não teria conhecido Carina.

Por outro lado isso poderia ser bom, já que jamais passaríamos por aquilo, mas...

Deixo o quarto e volto para a cozinha onde na bancada ainda estão os sanduíches que não comi.

Normalmente o frio que sentia pelas emoções em que estava mergulhada me tiraria o apetite ou parte dele, mas eu estava morrendo de fome e só queria comer e chorar.

Até parecia que quem estava ali era a bebê de Carina, carregando a mim dentro dela, bem escondida.

Os sanduíches estavam tão gostosos que chorei por isso.

Eu queria poder fazer isso. Ou melhor, queria ao menos querer fazer isso e que disso saísse um incentivo que mudasse todo o rumo que havia escolhido para minha vida.

Mas não conseguia querer.

E de repente eu me sentia confusa e frustrada por ter tanta certeza e por manter os pés tão firmes em minhas decisões e convicções. Algo parecia prestes a ser derrubado e quebrado.

Me servi de um copo d'água que não passou do primeiro gole até virar o centro do mundo para onde eu olhava enquanto chorava.

Não ouvi seus passos ou a porta do quarto se abrindo e fechando, tampouco ergui os olhos quando vi sua imagem através do copo de água quase cheio.

-Eu sei - a voz de Carina  invadiu meus sentidos e vi sua imagem se estender pelo copo até que estivesse sentada a minha frente, as mãos cruzadas sobre o balcão e o rosto que eu não conseguia encarar - chegamos em um ponto em que inevitavelmente precisamos conversar.

Ela falava com uma adulta e eu chorava como uma criança querendo em um ponto adormecido de minha mente rir do uso de suas palavras.

-Achei que em algum momento algo fosse... mudar - ela disse, fazendo uma pausa cautelosa - mas não mudou, não é?

Neguei com a cabeça, ainda sem conseguir encara-la.

-Nós não vamos ficar juntas no final - sua voz foi tão firme em sua conclusão que ergui os olhos para mirar seu rosto.

Seus olhos não transmitiam muita coisa além de uma intensidade sufocante e indícios de que havia acabado de acordar.

-Não é certo - me ouvi murmurar - não é o que... isso é um erro, Carina. Eu não devia ter tocado em você e eu não teria feito... não por você não ser atraente, ou... eu não queria nos machucar.

Pela primeira vez vi o canto de seus lábios tremerem, mas ela o apertou firmemente fechados e esperou, me permitindo falar.

-Eu estou tão sentimental! - lamentei, sentindo um soluço seco me escapar - Você está sentimental, eu estou, nós...

-Beba a água - ouvi Carina  dizer e apenas nesse momento percebi o quanto estava sufocando.

Minhas mãos tremeram enquanto levava o copo até minha boca, mas Carina esperou pacientemente.

-Eu queria ter mudado de ideia - disparei assim que pousei o copo na bancada - mas meus planos... meus pensamentos, eles não mudaram e eu não posso deixa-los de lado. Isso tudo é um erro e eu me sinto tão culpada, Carina, tão culpada!

Minhas palavras não pareceram te-la surpreendido, uma vez que ela mantinha o olhar sobre mim na mesma firmeza e intensidade.

-Não podemos continuar com isso - disse, sustentando seu olhar - eu não posso continuar me apaixonando por você quando não consigo pensar em mudar tudo isso.

Carina assentiu e suspirou.

Incrivelmente, eu era a única chorando. Eu sabia que não estava sendo a única machucada pelo modo como Carina  respirava fundo e seus olhos brilhavam, lutando para não piscar. Suas mãos estavam cruzadas com firmeza sobre a bancada e seus lábios se apertavam fechados, se contendo.

Por um longo momento não falamos nada, apenas mantivemos uma conversa silenciosa pelo olhar onde eu tentava exprimir o que sentia e pensava e não conseguia falar e  Carina dizia que entendia.

Ela não estava surpresa.

Como previ, sabia onde estava se metendo. Não achei que fosse tão conscientemente assim, mas era.

Então Carina levantou e tive medo do que iria fazer naquele momento, mas ela simplesmente contornou o balcão, se aproximou de mim e apoiou as mãos em meus ombros, me deixando um beijo em meus cabelos antes de se afastar.

-Vou fazer seu chocolate quente favorito - sussurrou - está muito nervosa, precisa se acalmar. Não quero que fique assim...

Sua voz se perdeu a medida em que se aproximava do fogão e a observei cantarolar de boca fechada enquanto trabalhava.

Quando olhou para mim, havia um sorriso meigo em seu rosto.

- Maya, estava pensando, eu tenho algumas coisas que estive adiando fazer, mas se você precisar de uns dias para por a cabeça em ordem eu posso ficar umas duas ou três semanas longe resolvendo tudo. O que acha? - perguntou - só que aí você vai ter que ir comigo em um lugar que quero muito quando eu voltar e depois vai ter que me aturar aqui pelo resto do trimestre.

Sorri, porque era impossível não sorrir para Carina , e por fim concordei com a cabeça.

Não havia mágoa, rancor ou quaisquer sentimentos ruins entre nós, Carina  parecia ser imune a eles ou realmente muito forte.

Fosse o que fosse, eu a admirava. O mundo não merecia Carina DeLuca .

With All My Love ( PRIMEIRA TEMPORADA) Onde histórias criam vida. Descubra agora