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O fim de ano é a época mais inconveniente do ano.

Sobrevivi a cinco piadas sobre pavê, sete rodadas de karaokê, tias perguntando sobre os namoradinhos - assunto que ultimamente me dava mais enjoo que o normal, desconfio que o bebê de Carina não goste de garotos e passo a acreditar que ela terá um menino.... ou uma lesbicazinha, acontece.

Mas meu palpite forte ainda era que seria um menino.

Sobrevivi a meus tios jogando na cara de meus primos que eu seria engenheira. Acreditem, ser o exemplo da família é pior que ser a ovelha negra.

Fiquei tentada a estragar minha imagem de filha perfeita contando que havia engravidado de um desconhecido em uma festa e iria dar o bebê para uma adolescente, mas me segurei em nome da sanidade mental de mamãe e do coração de papai.

Sobrevivi a mamãe regulando o que eu comia, reduzindo a quantidade de doces e gorduras e me empurrando frutas e tudo o que era saudável e ninguém queria porque era fim de ano, momento de comer e engordar feito um porco para o abate.

Havia alguma dúvida de que ela sabia da gravidez?

E então o momento chegou.

Estava comendo distraidamente um pouco de pudim que havia conseguido surrupiar quando ouvi meu nome ser mencionado.

Ergui os olhos, uma colher cheia de pudim a meio caminho da boca. Todos me encaravam em silêncio e alguns primos tinham um sorrisinho debochado no rosto.

-O que? - perguntei, me sentindo pressionada.

-Eu perguntei quando pretende se casar e ter filhos - minha tia mais inconveniente falou - já está na hora de Katherine ganhar netos, além disso, você está se aproximando dos trinta, não vai ter esse rostinho jovem e bonito para sempre. Precisa se juntar a alguém logo.

O olhar de mamãe me queimava e eu sabia que ela esperava que eu contasse da gravidez naquele exato momento.

Papai me olhava com aquela expressão séria de quem esperava uma resposta negativa ou teria um ataque cardíaco.

Ai, papai...

Pousei a colher de novo no pratinho enquanto pesava minhas respostas.

Pelo modo como falou, parecia que eu tinha vinte e nove anos e estava virando a tia encalhada e não vinte e dois, estudando para ser alguém na vida.

Seria muito ruim se eu respondesse que tecnicamente minha mãe quase seria avó?

Suspirei.

-Não vou ter filhos - anunciei, evitando o olhar de mamãe que com certeza estaria triste e decepcionado.

Ao invés disso, olhei para o sorriso enigmático de papai.

-Como não? Filhos são uma benção! - minha tia rebateu, escandalizada.

-Não vou ter filhos - repeti - Não tenho e não terei condições alguma de ter uma criança. Um filho precisa de cuidados que não vou ter condições de dar. É isso.

Voltei minha atenção ao meu pudim.

-Deixe a menina, ela tem mesmo é que estudar - papai interviu a meu favor e me senti envergonhada por estar grávida.

-Maya ainda está com aquela ideia boba de heroísmo, Katherine? - ouvi perguntarem a mamãe em voz baixa.

-É o que ela quer - mamãe respondeu - ela tem direito de fazer o que bem quiser com a vida dela.

Senti seu tom frio direcionado mais a mim que a qualquer um.

-Isso é cutucar feridas do passado - minha tia criticou - nunca irão superar se ficarem mexendo nisso.

With All My Love ( PRIMEIRA TEMPORADA) Onde histórias criam vida. Descubra agora